HOMEM DE FERRO : VÍRUS
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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOManipulador de campo magnético.DESCRIÇÃOUm conjunto de eletromagnetos super-resfriados que, com seletividade e um alto grau de
controle do usuário, amplifica e molda campos eletromagnéticos ambientes via comando e
controle inteligente orientado pelo operador da armadura corporal pessoal das Indústrias
Stark. Estruturas de amortecimento e isolamento impedem vazamento de energia
eletromagnética que poderia interferir em outros sistemas.ARGUMENTOA manipulação de campos magnéticos é uma tecnologia com amplo espectro de aplicações
potenciais, inclusive, embora não limitado a: manipulação física de objetos contendo
materiais magnéticos; interrupção de sinalização e sistemas de comunicação; incapacitação
de redes de computadores e outras tecnologias que dependem de estoque de informações
ou sistemas de controle magnéticos. O manipulador de campo magnético das Indústrias
Stark foi projetado para integrar totalmente o sistema de super-resfriamento e condutividade
que ativa o Aparato de Transmissão Haloalcano acoplado à armadura (Petição Provisória para
Patente por vir, chamada por hora [editado]).STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado] ao decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A
tecnologia é propriedade das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas
as entidades elegíveis. A tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo
de sigilo.Happy Hogan jamais fugira de uma briga na vida. E jamais se perdoaria por ter
fugido daquela, ainda que Tony o tivesse mandado fugir. Tony era seu chefe, e,
naquele caso, devia ter razão. Qualquer um no Templo de Dendur que tivesse a
fuça feiosa de Happy corria risco de levar uma bala da S.H.I.E.L.D. na boca. Mas,
mesmo assim…
Ele fez o melhor que pôde. Se não podia participar do tiroteio, poderia
trabalhar na investigação. Qual era a de Serena Borland? Primeiro ela
acidentalmente arranhou Happy, depois acidentalmente cortou Tony. Tem gente
que é dada a acidentes, nada de estranho nisso – mas, pensando bem, Happy
tinha a sensação de que havia uma conexão entre o dia em que ela o arranhara e
um exército de clones de Happy Hogan invadindo a Ilha do Governador. Se ele
estivesse certo, isso significava que a S.H.I.E.L.D. e Tony estavam lidando com
um inimigo que podia usar um floco de pele para criar centenas de clones em
menos de uma semana. Não era o tipo de inimigo com o qual podiam bobear. Era
do tipo que se arrancava as raízes e esmagava antes que houvesse tantos clones
no mundo que ninguém mais soubesse quem era quem de verdade.
Então, quando o tiroteio começou no Templo de Dendur, tudo isso se
organizou na mente de Happy, e ele chegou muito perto de puxar o gatilho
contra Serena ali mesmo. Explicaria tudo depois, caso vivesse para explicar.
Inadvertidamente, o chefe o colocara em outra tática, no entanto, quando o
empurrara saguão afora. Para Happy, custara-lhe a dignidade, mas ele podia
então seguir a tal de Serena e ver o que estava acontecendo.
E, se fosse preciso, matá-la.
Nas galerias perto do Templo de Dendur, as pessoas corriam para todas as
direções. Alarmes guinchavam. Os seguranças do museu tentavam equilibrar o
pânico das pessoas com sua função, que era proteger as obras de arte. Ocorreu a
Happy que ele podia sair dali com qualquer item que pudesse carregar e ninguém
jamais notaria. Para sorte da coleção do museu, Happy não ligava muito para
arte. O que importava para ele era encontrar uma mulher de vestido vermelho,
que, se ele estivesse certo, estaria fugindo às pressas torcendo para não ser
seguida. Pela entrada principal? Ele achou que não. Com todos os alarmes já
desligados, ela teria seguido para uma das portas laterais. A que ficava mais
perto do Templo de Dendur encontrava-se no canto sul do prédio. Happy foi para
lá, olhando para todos os lados ao passar por galerias menores e corredores de
serviço. Em algum lugar à frente, ouviu uma porta sendo aberta. Apertando o
passo, fez uma curva assim que uma das portas de incêndio se fechava. Pegou-a
em pleno movimento, antes de fechar, e viu Serena correndo pela calçada – não
para a Quinta Avenida, mas para o parque.Uma das vias transversas, pensou Happy. Ela estava indo rápido demais para
aqueles sapatos.
Ele a seguiu, e dito e feito, ela escolheu um local no qual as trilhas do Central
Park cruzavam a 79ª Rua, uma via transversa. Largou os sapatos e pulou a grade
de uma ponte de pedestres. Um táxi apareceu ali, e ela o pegou. Happy
memorizou a placa do táxi e o número na placa de serviço. Assim que ela entrou e
o veículo pôs-se em movimento, ele voltou para o estacionamento VIP, em frente
ao museu, num trotar que não fazia nada bem aos seus pés, envoltos pelos
sapatos finos.
Quando chegou ao carro, os policiais já estavam bloqueando tudo. Happy
mostrou a credencial das Indústrias Stark e prendeu a respiração, até que o
guarda o deixou passar. Na rua, colocou os dados do táxi no computador de bordo,
que fuçou nos registros da companhia de táxi, somou-os à reposta de um satélite
e informou-o de que o veículo seguia para o sul pela Central Park West.
Happy desceu a Quinta Avenida, paralela à outra, mantendo os olhos na
movimentação em tempo real do computador.Graças a Deus Tony havia alargado
as restrições impostas pelo Departamento de Defesa, pensou Happy. E graças a
Deus ele estava no próprio carro. Ninguém notaria mais um Chrysler 300 se ele
tivesse que seguir Serena em algum lugar onde as pessoas ligassem para quem
estava seguindo quem.
Os dois carros seguiram em paralelo ao longo do parque. O táxi virou para o
leste, e Happy o deixou cruzar a Quinta antes de dar a volta e retomar a via,
duas quadras atrás. Ligou para o chefe. Ninguém atendeu, então ele tentou a
Pepper. Também não atendeu. Por um instante, pensou se isso não significaria
que eles haviam morrido, mas tal ideia não cabia na mente de Happy. De jeito
nenhum aqueles dois virariam presunto por causa de um bando de clones enviados
por amadores como os da Hidra.
– Pepper – disse ele para a caixa de mensagens. – Estou indo para a ponte
Queensboro. Pelo menos acho que estou. Pode ser que eu esteja perto de
descobrir onde mora o cara que hackeou a armadura do Tony. Me ligue pra dizer
se está tudo bem.
Em seguida, ligou para Rhodey. Não atendeu. Depois Fury, com o mesmo
resultado. Onde estava todo mundo?
Fazia sentido, de certo modo. Todos os diretores e generais ficavam
zanzando daqui para lá, garantindo que as coisas estavam nos seus devidos
lugares. Caras como Happy Hogan tinham que se virar sozinhos.Então anda logo com isso, Hogan, ele disse a si mesmo. Se vira. Algumas
pessoas ainda achavam que havia algo de estranho com ele por causa da história
toda dos clones. Essas pessoas, embora fossem umas malditas ingratas e
desdenhosas, eram também velhos amigos, então se seguir aquela mulher em
particular levasse à localização da operação de clonagem em questão, tudo daria
certo. E é isso que eu quero, pensou Happy. Tudo como era antes. Todos do mesmo
lado, e sabendo que estavam no mesmo lado. Confiança.
E fosse quem fosse o filho da puta que o clonara, os dois teriam uma bela de
uma conversa.
O táxi seguiu para a passagem inferior da ponte Queensboro, então Happy
foi pela de cima. Parou alguns semáforos atrás do táxi, e pegou uma rua paralela,
num ponto onde não havia muito tráfego entre os dois veículos. Era mesmo muito
fácil seguir alguém quando se trabalhava com dados de satélite enviados em
tempo real e GPS. De olho na tela, ele manteve-se razoavelmente perto do táxi,
que desceu pela 21ª Rua e depois pegou a ponte Pulaski, adentrando o bairro do
Brooklyn. Acho que estamos chegando, ele pensou. Se morassem na porção sul do
Brooklyn, teriam pegado outra ponte. Chegou mais perto, ficando a um
quarteirão de distância, mantendo o táxi à vista, que entrou na avenida
Metropolitan e depois na rua Grand. Happy quase podia ver seu prédio de onde
estavam, mas o táxi continuou até que saiu da Grand, adentrando um amplo
complexo de depósitos, fábricas abandonadas e desvios de trilhos de trem. Happy
pegou a lateral da pista, vendo que havia somente duas coisas que o táxi podia
fazer – descer a rua até o fim, sem saída, ou pegar a direita e voltar pela avenida
Maspeth.
O táxi seguiu reto e foi até o fim da rua. Happy pegou binóculos e viu Serena
Borland sair do carro e pagar o motorista. Dois homens vieram encontrá-la. Um
deles era alto, magro, com barba desgrenhada, obviamente autoritário. Ela falou
com ele enquanto o outro esperava. Depois os três viraram-se, e Happy
conseguiu ver direito o outro homem. Era como olhar-se no espelho.
– Aí está você, desgraçado.
Levaram o clone do Met ao Laboratório de ITR em menos de uma hora,
cortesia de um turbocóptero da S.H.I.E.L.D. que pousou bem no meio da Quinta
Avenida para buscar todos eles. Havia algo de errado com o clone. Estava
semiconsciente, e a médica da S.H.I.E.L.D. a bordo disse que não captava seus
sinais vitais; não significava que ia morrer, mas que algo não estava funcionando
como deveria.
Tony ficou um pouco desconfortável com o jeito de a médica tratar o clone,
como se fosse um boneco. Rhodey dera dois tiros nele, mas a armadura contivera
ambos. Havia hematomas espalhados pelo tronco, e as costelas deviam estar
quebradas, mas esse não era o problema. Tony imaginou se a Hidra sabia que seu
programa de produção de clones tinha defeitos para resolver.
Ele tentou ligar para Serena.
– Tony – ela atendeu logo no primeiro toque. – Meu Deus, você está bem?
– Eu estava pra te perguntar a mesma coisa. Onde está?
– Indo pra casa. Saí antes da polícia chegar, e fiquei com tanto medo que só
quis vir pra casa me trancar.
– Foi uma boa ideia. Escuta, tenho muito a fazer aqui. Ligo pra você depois.
– Você está bem mesmo?
– Estou legal. Vou precisar de uma soneca mais tarde, mas agora me sinto
ótimo.
Ele desligou e olhou pela janela, para o Brooklyn. A Hidra estava ali, em
algum lugar do bairro. E assim que ele ajustasse o controle imediato, poderia
descobrir onde. Ninguém poderia mais se esconder dele. Moraria num mundo de
cinco dimensões, e a quinta seria a da informação. Todo o espaço e o tempo
seriam resumidos à informação.
De volta ao laboratório, acordaram o clone e começaram um interrogatório
básico. Nome?
– Não tenho nome – disse o clone.
– Mas do que as pessoas te chamam? – perguntou Fury. Era o mais assustador
de todos, carranca com tapa-olho, então ele gostava de ser contraintuitivo e
pegar leve… pelo menos, no começo. Isso deixava para Rhodey e Tony, nenhum
dos dois com temperamento adequado para o papel, bancar os cães de ataque.
Deixaram que Fury conduzisse o procedimento.
– Ninguém nunca fala só comigo. Quase nunca. Quando falam, dizem só algo
como “ei, você”.
A criatura exibia um comportamento quieto e estável que tornava difícil
notar a o tipo de sensação de contrariedade que se espera obter num
interrogatório pós-combate, pensou Tony. Estranho, já que uma hora e meia atrás
ele estava tentando me sequestrar e matar todo mundo.
– Por que tentou me sequestrar? Resgate?
– Não sei. Eu…
Começou a piscar os olhos. A médica adiantou-se e mediu sua pulsação.
– O-oh – disse. – Rápido e fraco. Ele não está bem. – Ela pôs a mão na testa
do clone, depois na nuca. – Quente demais, também.
O clone deu um pulo para a frente, desequilibrando a médica. Rhodey o
pegou e amparou a queda. Após ser deitado no chão, a médica começou a
trabalhar. Removeu sua camiseta, checou o coração novamente e iniciou uma
massagem cardíaca.
– Ele precisa ir pro hospital.
– Ligue pra alguém, Rhodey – disse Fury.
Rhodey pegou o celular e ligou para a equipe médica da S.H.I.E.L.D.
– Cinco minutos, general – disse, quando desligou o aparelho.
O clone começou a tremer. Corria suor por seu rosto, e os olhos enrolaram
para dentro.
– Casey Jones, melhor ficar de olho nesse trem – falou, com bastante clareza,
e depois continuou dizendo bobagens. Tony entendia uma palavra aqui e ali, mas
nada fazia sentido.
Em algum lugar do edifício, um alarme soou, mas não era o sinal dos sistemas
de perímetro, então Tony nem deu bola. Parecia o terminal de controle do andar
de testes. Outro hacker? Podia ser, mas todo equipamento que valia a pena
hackear estava programado para responder somente a ele. Escâner de retina,
marca de voz, leitura de frequência elétrica… ninguém podia fazer nada ali se
comportar de modo que Tony Stark não desejasse. Então naquele momento ele
não se importou de deixar o hacker vagar um pouco pelo sistema, deixando
pequenos rastros que Tony poderia seguir para encontrar sua casa depois, quando
tivesse chance de cuidar disso direito.
Os tremores do clone cessaram, e o fluxo constante de verborreia passou
para resmungos, depois gemidos longos e finalmente silêncio. A médica da
S.H.I.E.L.D. não arredou pé, checou suas pupilas e continuou com os tratamentos.
Uma seringa de adrenalina não fez nada. Outra seringa, contendo sabe Deus o
quê, não fez nada. Fazia três minutos que Rhodey havia ligado para a equipe
médica.
– Pupilas sem reflexo. Sem pulso. Temperatura, 42. Ele está morto, general.
Não posso fazer nada. Talvez no hospital…
– Tudo bem, soldado – disse Fury. Ele se agachou ao lado dela e pegou-a
firme pelo cotovelo para levantá-la. No laboratório de testes, o alarme
continuava esperneando.
– Tony, esse barulho vai me deixar maluco. Importa-se de dar um jeito nele?Ninguém fala só comigo, o clone dissera. Tony imaginou que tipo de vida devia
ser aquela, e se a Hidra tinha esse tipo de existência em mente para todos eles.
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