HOMEM DE FERRO : VÍRUS
18
Agora é que você será testado. Agora sua força de vontade será questionada, e você
deve estar pronto para responder. Agora não deve simplesmente acreditar que sua
vida pertence à Hidra; deve acreditar que, ao ser aniquilado, uma nova cabeça da
Hidra crescerá para esmagar o inimigo em suas mandíbulas. Somente você pode
fazer isso. Somente você recebeu o dom de Lantier, que é o meu dom, que é o dom
da Hidra. Existem muitos como você, mas nenhum tem tanto poder para atacar no
cerne das defesas do inimigo, implantar minas sob suas fundações, cavar fora o
coração de seu grande campeão. Só você! Sua mão é a Hidra. Sua mente é a Hidra.
A Hidra flui em suas veias e brilha ao longo dos caminhos de seus nervos. Eu o
criei, eu o refiz, assim como refiz a Hidra. Não existe dor que você venha a sofrer
que eu já não tenha sofrido, nem incerteza que possa anuviar sua mente, porque
eu a enfrentei e coloquei minha força em você. Vá, agora, e saiba que mil cabeças
da Hidra cantarão sobre o que você fizer. Vá direto ao coração do inimigo, e lá você
verá a fraqueza dele, e lá vai derrubá-lo. Você é a Hidra!– E lá vamos nós, dentro do horário – disse Lantier, sozinho em seu sacrário. –
Agenda checada duas vezes.
O código carregado pelo clone quicou pelo transmissor e entrou na área onde
as sub-rotinas da segurança das Indústrias Stark mantinham pedaços de código
suspeitos. A carga declarou sua inocência, piscou os olhinhos, produziu cartas da
pobre sogra e do pastor da igreja. Nós dois trabalhamos para o sr. Stark, ela
disse. Você e eu. Somos iguais. Ele me pediu para entrar aqui e pegar uma
coisinha para ele.
Ah, bem, certo, disse o sistema de segurança. O que é que você está
procurando?
Aquilo ali, disse a carga.
Ninguém pode ter acesso a isso além do sr. Stark, disse o sistema de
segurança.
Eu sei. Melhor acreditar que sei disso, falou a carga. Mas, como eu disse, ele
me pediu para vir aqui buscar. E, de todo modo, não serve para ninguém além
dele, então por que eu ia querer, sendo que foi ele quem me mandou vir aqui
buscar?
É melhor me deixar fazer uma cópia, disse o sistema de segurança. Vou
mandá-la junto com você.
Maravilha, disse a carga. Vou esperar aqui.
– Este trem vai ser um sucesso, este trem – Lantier cantou. – Este trem vai
ser um sucesso, não carrega nada além dos bons e certos, este trem vai ser um
sucesso, este trem…
Rhodey viu Tony e Fury encarando-se feito dois gorilas de costas prateadas
que sabiam que haveria uma luta, mas não quando, nem o que causaria. Era só o
que faltava, ele pensou. Mas não lhe cabia pedir que não brigassem se ambos o
quisessem. Que seja, talvez fosse melhor para todos que as questões
S.H.I.E.L.D./Stark fossem resolvidas de uma vez. E talvez somente uma briga
resolvesse tudo.
– Não tenho tempo pra isso agora, Nick – Tony dizia. Tinha a atenção
voltada para os terminais de controle. O clone morto havia sido removido pela
equipe médica da S.H.I.E.L.D. fazia quinze minutos, e a pressão no local vinha
crescendo desde então.
– Ah, é? Que engraçado. Geralmente, quando as coisas começam a te afetar
pessoalmente, do nada você tem tempo pra elas. E hoje você foi alvo de uma
tentativa de sequestro da Hidra. Como é que não está pronto pra ir atrás deles?
Tony fez algo numa tela touch screen, e linhas de código espirraram pela tela.
– Eu estou. Acredite, eu estou – ele disse.
– Estou vendo. Rhodey, veja só a animação do Tony. Nossos inimigos estão
tremendo de medo dele. Tudo era muito mais fácil quando o Homem de Ferro
estava por perto. Agora que é Tony Stark correndo atrás do controle imediato,
todos os vilões estão prontos pra desistir de tudo e arranjar emprego na
Gristedes.
– Gristedes? – disse Rhodey. – Tem vaga lá?
– Todos os ex-supervilões querem trabalhar lá. É porque sabem que Tony
Stark é tão esnobe pra comida que não entra de jeito nenhum numa daquelas
lojas, junto com a gentalha.
– Ei, peraí – disse Tony. – Pedi uma pizza esses dias. Assumo a culpa de vários
defeitos, mas ser esnobe pra comer não é um deles.
Ele se levantou do terminal.
– Aquele clone trouxe um vírus.
– Não diga – disse Fury.
– Estou falando de um vírus de computador. Está logado em meu sistema de
segurança. – Ele olhou de Rhodey para Fury. – Não entenderam? – disse. – A coisa
toda foi armação. A Hidra enganou a todos nós.
– Do que está falando? – perguntou Rhodey. – Muita gente morreu hoje.
Armaram pra quê, exatamente?
– Pro que aconteceu – disse Tony. – A Hidra precisava colocar um dos clones
deles dentro deste prédio. – Houve um breve silêncio. Rhodey tentou descobrir se
Tony ultrapassara a barreira da paranoia completa ou se tivera um insight do tipo
que poderia salvar milhares de vidas. Com Tony, especialmente durante o último
mês, era difícil dizer.
Fury começou a falar. Rhodey notou que preferiu usar a voz de interrogador.
– Certo. Então o que você acha que aconteceu foi que a Hidra encenou um
ataque maciço contra o Museu de Arte Metropolitano, matando dezenas de civis
e agentes da S.H.I.E.L.D. e perdendo dezenas dos capangas deles. Todo esse
evento foi uma encenação para incluir uma tentativa de sequestro que fizesse
você correr um sério risco de se machucar. Durante o curso desse show, um dos
agentes da Hidra seria capturado, contando-se com a possibilidade de sobreviver
ao encontro, e contando-se ainda com a possibilidade de que o traríamos para cá
em vez da Ilha do Governador ou outro lugar. Era pra acontecer tudo isso para
que esse clone pudesse infectar com um vírus seu sistema… – Ele parou. – Você
não disse qual seria a função do vírus.
– Roubar os projetos da nova armadura – disse Tony.
Fury assentiu.
– E você fala com toda essa tranquilidade. Importa-se de dizer por que não
devemos nos preocupar com isso?
– Porque a armadura está presa a mim. Como eu já disse: todo sistema dentro
dela vai se recusar a responder a qualquer comando que não tenha saído de mim.
Então, ainda que construam uma, precisam de mim pra fazê-la funcionar.
– Tem certeza de que era isso que eles queriam? – Rhodey perguntou.
– É isso que os registros afirmam que o vírus extraiu. E segui pela mesma rota
pela qual ocorreu a última invasão. Os rastros estão muito bem cobertos pra que
eu possa descobrir o caminho que leva a um local físico, mas aposto que é o
mesmo local no Brooklyn.
– Essa parte faz muito mais sentido do que seu raciocínio para explicar como
o vírus chegou aqui – disse Fury. – Tem certeza de que quer nos convencer que é
nisso que você acredita?
– Na verdade, eu acredito mesmo nisso. Pode provar o contrário?
– Nenhum de nós sabe o que realmente aconteceu – disse Rhodey. – Então
ninguém pode provar nada.
– Exato, Rhodey, velho amigo. É isso que eu estava tentando explicar ao
general aqui. Se algum de nós soubesse mesmo o que aconteceu, não estaríamos
nessa saia justa. E se eu conseguisse botar pra funcionar o esquema de controle
imediato, um de nós, no caso, eu, saberia o que aconteceu, e poderia contar para
os demais. – Tony virou-se para Fury com um estranho brilho fanático no rosto. –
Então o que estou tentando dizer aqui é: pelo amor de Deus, me deixa voltar ao
trabalho, Nick. É assim que posso ajudar. Quando eu concluir o controle imediato
e colocar pra funcionar na nova armadura… você não viu nada igual, eu garanto.
– Talvez não – disse Fury. Rhodey torceu para que ele não dissesse mais
nada, mas ele disse. – O que você não entende é que talvez não vivamos para verdesta vez a não ser que você arranje um tempo para lidar com o problema que
está acontecendo agora em vez do problema que pode acontecer depois.
Foi então que a briga que vinha borbulhando fazia um mês chegou muito
perto de acontecer.
– E se eu arranjar esse tempo, e perdermos a briga porque não tenho o
melhor equipamento que poderia construir? – Tony deu a volta no terminal de
controle e ficou cara a cara com Fury. – E daí, Nick? Onde vai estar a S.H.I.E.L.D.,
então, se você não tiver a mim por perto pra entrar em cena e te tirar da
fogueira?
Rhodey colocou-se entre os outros dois.
– Pessoal. Calma lá.
– A S.H.I.E.L.D. seria um buraco no chão se não fosse por mim. O general
aqui não gosta de ouvir isso, mas é verdade.
– Pode ser – disse Fury. – Ou então você poderia ser um criador de armas
mongol que vivesse de bombardear criancinhas caso não tivéssemos te oferecido
algo em que acreditar.
Rhodey colocou uma mão no ombro de cada um dos colegas.
– É isso que chamamos de um relacionamento de benefício mútuo.
– Ah, por favor, Rhodey – disse Tony.
– Bom, olhem só pra vocês dois. Prestes a sair na porrada pra resolver quem
precisa mais de quem, e quem deveria estar mandando em quem, quando tem um
exército de clones lá fora tentando dominar o mundo. Qualquer homem com bom
senso faria piada disso.
– Piada do quê?
Os três viraram-se e viram Happy Hogan parado, à porta.
– Estou falando sério – disse ele. – Que piada? Se for sobre mim…
– Por que seria sobre você, Hap? – perguntou Rhodey.
– Ouvi alguma coisa sobre clones, e depois você disse que alguém faria piada
disso – disse Happy. – E tenho que falar, essa coisa de clone tá mexendo comigo.
Se for engraçado pra você, não quero mais papo.
Os três notaram algo de estranho no tom de voz de Happy, o jeito. Ele
parecia prestes a explodir em pedaços.
– Deve ter sido difícil pra você hoje – disse Fury, após um momento. Rhodey
notou que ele usou novamente a voz de interrogador. Imaginou se Happy o
notaria.
– A minha vida toda, nunca fugi de uma briga. Hoje… sabe como é olhar na
sua própria cara e te ver morto? E então você vai porque o chefe te manda ir, e
ninguém atende o telefone, então você nem sabe se estão vivos? Meu dia foi
assim. Todo mundo, pelo visto, tinha algo melhor pra fazer. Então talvez seja
melhor eu arranjar algo pra mim também.
– Calma, Hap, calma. – Rhodey foi até ele, gesticulando pelas costas, pedindo
que Tony e Fury ficassem onde estavam. – Você não me ligou, velho. Eu teria
atendido. Tony e o general voaram um pouco de helicóptero. Podem não ter
ouvido.
– Cadê a Pepper? – Happy perguntou.
– A salvo, Hap – disse Tony. – Está em casa. Talvez seja legal você ir até lá.
– Ela também não atendeu quando eu liguei. Talvez não seja legal eu ir até
lá.
Rhodey olhou para Nick e Tony. E agora?, ele quis perguntar. O rapaz tinha
razão. Haviam se esquecido totalmente dele. O que fariam para remediar, então?
– Hap, escuta – disse Tony. – Desculpe. Peço desculpas pelo general Fury,
também, porque ele é orgulhoso demais pra fazer isso por si mesmo. Nem olhei
pro telefone, e a verdade é que me envolvi em algo que aconteceu aqui. Algo a
ver com a Hidra.
– Hidra – Happy repetiu. – É, eu também me envolvi em algo com a Hidra,
sabia? – Ele riu amargamente. – Bom, escutem só. É por isso que eu vim. Sei onde
estão fazendo os clones. E Tony, sei que vai me odiar por dizer isso, mas vi
Serena entrando no lugar.
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