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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOProjetor raio-uni e peças de calibração, acoplado.DESCRIÇÃODerivado da mesma tecnologia que o raio repulsor integrado a versões anteriores da
armadura corporal pessoal das Indústrias Stark (ver lista de patentes existentes, anexada), o
raio-uni combina energia eletromagnética e de calor com uma frequência de luz altamente
variável que pode ser automaticamente ajustada para aumentar sua potência. Frequências
disponíveis vão do infravermelho ao ultravioleta, criando uma arma única, que apresenta
desafios múltiplos para as defesas de qualquer inimigo.ARGUMENTOAo integrar as funções de diversos sistemas de arma individuais anteriores, o raio-uni cria
uma nova categoria de capacidade ofensiva. Nenhum sistema de armas existente, com exceção
de armamento nuclear tático e estratégico, ataca um alvo simultaneamente com energia de
calor, cinética e eletromagnética. Este modelo tem, ademais, a virtude de integrar-se
perfeitamente aos sistemas existentes de armadura corporal pessoal das Indústrias Stark,
incrementando suas capacidades e criando novas possibilidades potencialmente
transformadoras para infantaria de campo de batalha e unidades de armadura leve.STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A tecnologia é propriedade
das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas as entidades elegíveis. A
tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo de sigilo.Após passar uma semana tentando apaziguar Fury ou quem mais o estava
segurando pela coleira em Washington, Tony percebeu que se encontrava com o
tipo de fissura que só poderia ser resolvido com uma noitada na cidade. Precisava
ouvir música, ter uma garota nos braços, precisava passar um tempo fazendo
coisas boas. Pepper Potts, assistente extraordinária e a melhor garota que Tony
conhecera na vida, entrou no escritório enquanto ele passava o dedo para cima e
para baixo sobre uma tela touch screen, resolvendo para quem ligar.
– Que ligação mais difícil de fazer – ela disse, ironicamente.
– A tirania da escolha – Tony retrucou.
– Escolha alguém que não vai querer necessariamente ver de novo depois –
Pepper aconselhou. – É o que funciona melhor quando você só vai sair porque não
aguenta mais ficar olhando pras paredes do laboratório.
Tony sorteou um número na tela.
– Do que está falando?
– Tony, por favor. Às vezes parece que você espera que eu entenda a sua
personalidade tanto quanto tudo mais. Quando você entra nessa fase estranha
em que tem andado no trabalho, toda vez que tenta resolver marcando um
encontro, acaba sendo o maior idiota. – Tony a fitou com cara de bobo; ela imitou
a expressão e exagerou um pouco mais. – Não se lembra mesmo das conversas
que já tivemos sobre esse assunto?
– Sinceramente, não – disse Tony. – Mas vou confiar no que diz, já que você
me conhece. Hum – ele continuou, voltando sua atenção para a tela –, alguém que
não vou querer ver de novo. Que tal… Serena Borland? Pep, quem é Serena
Borland?
– Tem horas que dá vontade de te matar – ela disse, saindo do escritório sem
dizer o motivo pelo qual entrara ali.
armadura corporal pessoal das Indústrias Stark (ver lista de patentes existentes, anexada), o
raio-uni combina energia eletromagnética e de calor com uma frequência de luz altamente
variável que pode ser automaticamente ajustada para aumentar sua potência. Frequências
disponíveis vão do infravermelho ao ultravioleta, criando uma arma única, que apresenta
desafios múltiplos para as defesas de qualquer inimigo.ARGUMENTOAo integrar as funções de diversos sistemas de arma individuais anteriores, o raio-uni cria
uma nova categoria de capacidade ofensiva. Nenhum sistema de armas existente, com exceção
de armamento nuclear tático e estratégico, ataca um alvo simultaneamente com energia de
calor, cinética e eletromagnética. Este modelo tem, ademais, a virtude de integrar-se
perfeitamente aos sistemas existentes de armadura corporal pessoal das Indústrias Stark,
incrementando suas capacidades e criando novas possibilidades potencialmente
transformadoras para infantaria de campo de batalha e unidades de armadura leve.STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A tecnologia é propriedade
das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas as entidades elegíveis. A
tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo de sigilo.Após passar uma semana tentando apaziguar Fury ou quem mais o estava
segurando pela coleira em Washington, Tony percebeu que se encontrava com o
tipo de fissura que só poderia ser resolvido com uma noitada na cidade. Precisava
ouvir música, ter uma garota nos braços, precisava passar um tempo fazendo
coisas boas. Pepper Potts, assistente extraordinária e a melhor garota que Tony
conhecera na vida, entrou no escritório enquanto ele passava o dedo para cima e
para baixo sobre uma tela touch screen, resolvendo para quem ligar.
– Que ligação mais difícil de fazer – ela disse, ironicamente.
– A tirania da escolha – Tony retrucou.
– Escolha alguém que não vai querer necessariamente ver de novo depois –
Pepper aconselhou. – É o que funciona melhor quando você só vai sair porque não
aguenta mais ficar olhando pras paredes do laboratório.
Tony sorteou um número na tela.
– Do que está falando?
– Tony, por favor. Às vezes parece que você espera que eu entenda a sua
personalidade tanto quanto tudo mais. Quando você entra nessa fase estranha
em que tem andado no trabalho, toda vez que tenta resolver marcando um
encontro, acaba sendo o maior idiota. – Tony a fitou com cara de bobo; ela imitou
a expressão e exagerou um pouco mais. – Não se lembra mesmo das conversas
que já tivemos sobre esse assunto?
– Sinceramente, não – disse Tony. – Mas vou confiar no que diz, já que você
me conhece. Hum – ele continuou, voltando sua atenção para a tela –, alguém que
não vou querer ver de novo. Que tal… Serena Borland? Pep, quem é Serena
Borland?
– Tem horas que dá vontade de te matar – ela disse, saindo do escritório sem
dizer o motivo pelo qual entrara ali.
Tony buscou Serena Borland às dez, após refrescar a memória com uma
pesquisa na internet sobre quem ela era. Conheceram-se numa exposição de arte,dois anos antes, no Whitney, e Tony ligara para ela algumas vezes desde então,
mas aquela foi a primeira vez em que suas agendas não entraram em conflito. Era
a garota ideal para ser vista ao lado de Tony Stark: um avião com o tipo certo de
perfil (família politicamente ativa cujo trabalho consistia em cuidar da pilha de
dinheiro das gerações anteriores) e interesses (arte, bem-estar infantil, causas
nobres de toda espécie), além de não se levar muito a sério. Essa última qualidade
era a única da qual ele se recordava genuinamente do encontro inicial, e o único
motivo para isso era que ela tinha conseguido tirar sarro de um trabalho de
Alexander Calder em frente às câmeras. E ela o fez não por ser burra e não
entender arte, muito pelo contrário: por entender arte e não gostar de Calder,
não se importava que soubessem sua verdadeira opinião.Boa escolha, Tony disse a si mesmo ao vê-la sair, assistida por um polido
porteiro, de um prédio em frente ao Gramercy Park.
– Jazz – disse quando ela entrou no carro, assistida por Happy Hogan, no
carro. – O que me diz?
– Fechado – ela respondeu. – Jazz. Quem?
– Quem quer que esteja no Vanguard – Tony disse. – Estou numa pegadavintage.
Quando chegaram, a tempo de pegar o segundo set, Tony não sabia quem
estava tocando e não se importava. Estava lá para encontrar os fantasmas do
antigo Vanguard que ele jamais conhecera. O conjunto tinha à frente um multiinstrumentista que ocasionalmente se colocava a tocar dois ou mais instrumentos
de uma só vez, à la Rahsaan Roland Kirk. No começo, parecia enrolação pura, mas
escutando-o tocar, Tony percebeu que só quem não conseguia acompanhar
pensaria tratar-se de enganação. O celular dele vibrou cinco minutos depois que
chegaram com uma mensagem de texto de Pepper: Dois martínis, e nada mais.Sim, sim, ele respondeu, e desligou o telefone.
Depois foi só conversa com Serena – que, ao contrário das expectativas,
chegou a encantar Tony – e jazz, e os dois martínis que ele se permitiu pedir. Mas
apesar dos encantadores atributos da moça e a tonalidade envolvente da banda,
sua mente vagava. Para o laboratório, para o problema da vez. Para a armadura.
Estava na hora, ele percebeu. Certa vez, ele tinha acoplado a armadura ao
próprio corpo e quase morrera por isso.
Mas e se a acoplasse à sua mente?
– No que está pensando? – Serena perguntou, no intervalo seguinte do set.– Tem razão – Tony disse. – Desculpe. Pensei que pudesse fugir do trabalho,
mas ele me persegue. – Ele colocou os cotovelos na mesa e o queixo sobre os
dedos. – No que você está pensando?
– Em como tirar sua mente do trabalho. – Serena virou o que restava de seu
cosmo. Antes mesmo de tentar chamar o garçom, ele apareceu com outro drinque.
Ela sorriu para o rapaz e voltou sua atenção para Tony. – Então, do que se trata?
Ou você não quer falar sobre isso?
– Quero – disse Tony. – Mas não posso falar de tudo. Então, aqui vai o que
posso falar. Estou bem na beirada. Sou Moisés olhando para Canaã. A revelação
está logo ali, e acho que sei como alcançar. O fato é que não é exatamente o que
o cliente quer.
– O cliente? – Serena caprichava no cosmo. Tony podia estar se restringindo a
dois, mas ela, pelo visto, não tinha o mesmo escrúpulo. – Quem é esse cliente que
pode mandar em Tony Stark?
Boa pergunta, pensou Tony. E se eu mandasse o Fury pro inferno, curto e
grosso? AS.H.I.E.L.D. precisa de mim mais do que eu preciso dela. O mesmo vale pro
Departamento de Defesa.
Ah, mas havia a questão da lealdade. O Homem de Ferro não fugia das
obrigações. Tony Stark também não. Pelo menos era esse o seu eu ideal. Seu eu
verdadeiro era um pouco mais obscuro.
– É uma grande chatice ter que fazer jus à sua imagem pública, sabia?
– Sei muito bem – disse Serena.
– Será que quero cortar todas essas relações profissionais? Creio que não. – A
verdadeira questão, não dita, era: será que quero me livrar do peso de ser o
Homem de Ferro, a responsabilidade de estar pronto sempre que algum problema
ficar grande demais para a S.H.I.E.L.D. resolver? Será que quero trazer as
Indústrias Stark de volta à pesquisa pura e à ambição pura, e me livrar do peso de
fornecer ao Departamento de Defesa todos os brinquedinhos que ele pode
imaginar, mas não sabe como produzir? – A pressão me pega de jeito, às vezes.
– Imagino. – Serena talvez fosse prosseguir no assunto, mas a banda entrou
novamente no palco, e quando encerraram a apresentação com uma apaixonada,
embora um tanto superficial, homenagem a Ornette Coleman, a conversa havia
seguido para outra direção. Lá fora, Tony encontrou Happy roncando dentro do
carro, na Sétima Avenida.
– Hap – disse ele. – Hora de ir pra casa. Se eu fosse ladrão de carro, teria
roubado você junto com o veículo.
– Tony, oi, desculpa. – Hap se recompôs e saltou do carro, deixando cair do
colo uma edição do Daily Racing Form, dobrada e cheia de anotações. Ele deixou
Tony e Serena entrarem no carro e os levou pelo Village e pela Union Square, a
caminho do apartamento de Serena.
– Tony – ela disse, quando estavam a três semáforos do seu quarteirão. –
Nunca vi as Indústrias Stark por dentro.
Eram duas e meia da manhã, e Tony notava que podia cada vez menos
manter sua atenção voltada para ela, enquanto cada vez mais ela vagava para
Long Island, para brincar entre os monitores e simulações das coisas que ele
desejava construir.O peso, pensou ele. Tony Stark tinha que ter jogo de cintura.
– Hap – disse ele. – Vamos voltar pro escritório.
Entraram pela porta da frente, que abriu quando o sensor detectou e
reconheceu a assinatura genética de Tony.
– Não faz muito tempo gastei um monte de dinheiro no saguão. O outro era
legal, mas esse aqui representa mais o que estou fazendo, eu acho.
Não era a austeridade de mármore e vidro de tantos outros escritórios do
centro. O que Tony queria com a reforma era criar a sensação do indomável em
busca do inconcebível. Ele queria que quem visitasse as Indústrias Stark – sem
falar nos possíveis clientes – entrasse e ficasse estarrecido pela impressão de que
aquele era um lugar onde o impossível acontecia. O piso era de aço polido, e o
saguão se estendia vinte andares acima, com as torres de elevadores formando
uma coluna bem no centro. Passarelas de polímero translúcido circulavam o
saguão em cada andar, e cada sala era fronteada por janelas que iam do piso ao
teto, através das quais o visitante poderia acompanhar as atividades de
escritório, laboratório e sala de reuniões. Conhecimento! Inovação! Era isso que
Tony desejara que aquele espaço expressasse.
Essas coisas, e, claro, poder!
– Meu Deus – disse Serena.
– Na verdade, não é tão impressionante de dia, quando todos os funcionários
ficam zanzando pra todo lado, estragando o panorama. – Tony observou o
saguão, e a reação de Serena ao vê-lo, com certo orgulho.
– Você falou da pressão – disse Serena. – Quando chega ao trabalho toda
manhã e vê isso aqui, não há como não colocar pressão em si mesmo.Ela tinha razão, Tony pensou.
– São expectativas que temos que cumprir. Não posso simplesmente alugar
um andar do Empire State.
Então ela deu uma cutucada:
– Ouvi dizer que você vive no último andar.
– Ouvi dizer a mesma coisa.
– Que tal irmos lá pra cima e aliviar o resto da pressão? – ela perguntou,
aproximando-se dele.
– Querida – disse Tony. Aquilo vinha contra cada instinto dele, mas ele a
segurou com firmeza pelos braços e reestabeleceu o pequeno espaço que os
separava. – Embora você seja o maior avião e motivo de inveja para todas as
mulheres do mundo, hoje não é o dia. – Por cima do ombro dela, ele encontrou o
olhar de Happy. – Se importa de dar uma carona à srta. Borland até a casa dela,
Hap?
– É pra isso que estou aqui, chefe.
Happy foi até a porta e esperou, segurando-a aberta, até que Serena
compreendeu que não conseguiria convencê-lo.
Repeliu as mãos dele que seguravam seus braços e disse:
– Tony Stark. O que será que te aconteceu?
Então, sem dizer mais nada, saiu do magnífico saguão, entrou no carro e ficou
sentada, olhando para a frente, enquanto Happy fechava a porta.
Tony mal podia esperar para chegar ao laboratório. Foi no próprio carro,
saindo com tudo da garagem subterrânea, costurando o trânsito que levava ao
túnel do centro. Assim que chegou ao Queens, acionou um brinquedinho especial
que inventara para afugentar os agentes de tráfego quando precisava chegar
rápido em algum lugar. Ele fazia correr uma carga pela pintura do carro (um
preto brilhante, também criado por Tony) que transformava o veículo num
automóvel furtivo. Radares não tinham uma imagem clara dele, nem fixavam sua
velocidade – e mesmo que pudessem, o carro poderia deixar comendo poeira
qualquer coisa que os departamentos de polícia de Nova York e de Long Island
tinham a oferecer. Acelerou até 160 km/h, não querendo ser imprudente, e
chegou ao laboratório em meia hora.
Lá dentro, respirou fundo e se sentou no console de controle que tentara
mostrar a Rhodey e Fury na semana anterior. Tony estava cansado de pegar leve.
Ficara preso à ideia da armadura como algo separado dele, quando na verdade o
que precisava fazer era recriar a interface como se a armadura fosse parte de seu
cérebro, e suas interações com ela tão rápidas e intuitivas quanto a interação
entre a parte do cérebro que recebe a luz e a parte do cérebro que pensa
“vermelho”. Tão rápida quanto a parte do cérebro que faz a pessoa piscar quando
o oftalmologista atira ar em seu olho. Não, mais rápida ainda. A armadura seria
uma parte dele. Não acoplada, não. Ele aprendera a lição. Seria uma parte dele
mesmo no sentido de que, quando a vestisse, seria como devolver a visão a um
homem cego.
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