segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 308

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOInterface neuromuscular embutida na armadura (INEA).DESCRIÇÃOInterface direta entre o sistema nervoso humano e o mecanismo robótico externo,
estabelecida sem intrusão abaixo da camada epidérmica. 116 junções de interface localizadas
em áreas da pele perto de neurônios motores importantes criam capacidade de emitir sinais
quase instantâneos do cérebro humano para o exoesqueleto mecânico (ver patentes
[editado], [editado], [editado] e [editado] das Indústrias Stark).
ARGUMENTOA presente tecnologia de controle à distância se baseia em aproximações brutas por
simulação espacial ou interfaces que penetram o sistema nervoso humano gerando efeitos
colaterais indesejados. A INEA, por sua vez, cria um sistema nervoso estendido dentro do
aparato exoesquelético, com eliminação quase total da demora entre estímulo e resposta
relativa a transmissão e controle quase imediato de qualquer função da armadura sem ação
física da parte do operador do equipamento. A INEA deriva da, e por sua vez contribui para,
a tecnologia de controle imediato de propriedade das Indústrias Stark.
STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A tecnologia é propriedade
das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas as entidades elegíveis. A
tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo de sigilo.
Rhodey está vivo, Tony disse a si mesmo. Está vivo. Só foi atingido uma vez, e é
um marinheiro dos bons. Logo depois disso, ocorreu-lhe que ele mesmo não era
um marinheiro dos bons, e que precisava entrar em uma armadura, e rápido, se
quisesse ter chance de passar pelos dez minutos seguintes com o corpo
minimamente intacto.
Acontecera um pouco mais rapidamente do que ele pôde acompanhar. O que
apareceu escrito na tela, e que ele viu, o protótipo em movimento atrás de
Rhodey, o raio de pulso arremessando Rhodey para longe e demolindo boa parte

da plataforma que sustentava os terminais de controle de testes. Tony desatou a
correr, falando códigos de emergência para a armadura mais nova, encostada na
parede. Ela se abriu, e ele entrou assim que outro raio passou raspando pelo
capacete, fazendo-o girar. Tony foi ao chão, as presilhas ainda se fechando e sua
cabeça martelando. A visão da armadura se estabilizou a tempo de ele olhar para
a frente e ver o protótipo vindo em sua direção, paralelo ao chão, movendo-se a
quase cem quilômetros por hora.
Um erro, ele pensou. Ele não tem massa suficiente. Tony se encaracolou e
recebeu o impacto num dos ombros, como faria um zagueiro para absorver um
golpe daqueles. O concreto reforçado do piso rachou, mas Tony manteve-se
firme, e a outra armadura quicou de volta feito uma bola de tênis.
Que diabos
está acontecendo aqui?
Ela não devia funcionar sem ele, devia ser um reforço do
sistema nervoso ao qual estava ligada.
O protótipo deslizou pelo piso e colidiu contra um caríssimo conjunto de
sensores designados para detectar falhas na própria armadura. Tony foi atrás
dela, sabendo que os sistemas de armas eram um pouco melhores que os dele, mas
pensando que, se ele pudesse se aproximar o suficiente, poderia botar a física
para funcionar. Bastava um abraço de urso, deixando que a massa fizesse o resto.
E ficar segurando até descobrir como fazer para desligá-la.
Ele arrancou os sensores do protótipo e levou uma rajada de pulso
eletromagnético em cheio no rosto que lhe confundiu os sistemas por um
momento. A armadura tornou-se um caixão de duzentos quilos, e o protótipo
disparou para o ar, metralhando todo o lado esquerdo do laboratório com raios de
pulso das duas palmas. Dezenas de milhões de dólares de maquinário
personalizado desintegraram numa nuvem de fragmentos que destruiu a parede
logo atrás. Tony conseguiu reativar seus sistemas e voou atrás do protótipo,
colidiu contra ele e o empurrou para cima, por entre as vigas do teto. Abriu um
canal de comunicação com Pepper e a chamou.
– Preciso de uma mão com o brinquedo novo, Pep!
– Já estou indo. Estou te vendo. Como posso ajudar?
– Códigos de desligamento – disse Tony. Ele segurou o protótipo pelo braço. –
Num dos servidores herméticos.
O protótipo deu um giro e virou um soco na lateral do capacete de Tony. A
armadura absorveu boa parte do impacto, mas as provisões cinéticas do protótipo
mais do que compensaram sua falta de massa; os ouvidos de Tony zumbiram com
a força da pancada.
– Quanto antes, melhor.

Levou outro golpe, mas dessa vez conseguiu pegá-lo pelo braço e segurá-lo
contra sua cintura. O protótipo disparou raios de pulso contra o solo. Tony ouviu
os impactos no Laboratório de ITR. Uma ideia lhe ocorreu: ele estava tentando
destruir o laboratório.
Ele não fora apenas hackeado, mas hackeado por alguém que sabia que ele
estava fazendo algum tipo de P & D ali.
Mas ninguém sabia disso.
– Agora, Pep. Pra ontem.
O protótipo ativou sua versão do raio-uni, e Tony sentiu o fluxo de calor
perpassar sua armadura. Prendera o protótipo no abraço de urso, como queria,
mas a desvantagem era que a máquina não se importava de se destruir. Já ele
sim, e era isso que ia acontecer caso o raio-uni cozinhasse por muito tempo nos
milímetros de espaço que havia entre eles.
Nos monitores do visor da armadura, avisos de perigo começaram a aparecer.
Na mente de Tony apareceram mais avisos. Ele não gostava de ser hackeado, e
não gostava de ver suas invenções sendo usadas contra ele. Gostava menos ainda
de ter que escolher entre cozinhar dentro da armadura e soltar o protótipo. Não
sabia ao certo se conseguiria alcançá-lo, e não podia deixá-lo escapar de modo
algum.
Ele se debatia, tentando acelerar mais e fincando os dedos nas juntas da
armadura, até que Tony ouviu alguns dos lacres se soltando.
Dessa vez eu me
superei
, ele pensou, segurando o protótipo com todo o empuxo que seu peso e os
propulsores angulares podiam exercer.
Esses nanotubos de carbono são o máximo.
Os dois giraram no ar, dando cambalhotas, em manobras caóticas, até que os
ouvidos de Tony começaram a sangrar.
– Sério, Pep. Agora.
Como se esperasse a deixa, o protótipo ficou imóvel. Tony disparou para
baixo com dez vezes mais velocidade graças à gravidade, cobrindo a distância
entre a posição inicial e o teto do Laboratório de Interface em Tempo Real antes
de ter a chance de se orientar. Atravessou o telhado no saguão social do edifício e
cavou um buraco de um metro no piso e no cimento embaixo. Por um instante, não
disse nada nem se mexeu.
– Tony? Você está bem? Deu certo?
– Deu – ele disse, ofegante. – Deu certo. – Com o protótipo nos ombros,
Tony saltou fora da cratera e seguiu para o laboratório. – Como está o Rhodey?
– Rhodey? Ah, meu Deus. O que aconteceu com o Rhodey?
A porta da frente do laboratório se abriu. Tony virou-se e viu Happy Hogan.

– Hap. Bem na hora.
– Vim o mais rápido que pude. O que foi que aconteceu aqui?
– Momento meio Frankenstein. Rhodey está mal. Vem cá.
Quando chegaram à área de testes, Pepper já havia alcançado Rhodey, que
estava largado numa parede, aos fundos. O raio de pulso o arremessara contra
uma das portas da plataforma de carregamento, mas ele teve sorte: as portas,
feitas de segmentos ocos de alumínio, absorveram boa parte do impacto. Tony
largou o protótipo desativado e tirou o capacete. Ele, Pepper e Happy viraram
Rhodey assim que ele começou a movimentar os olhos. Havia sangue no rosto e
um corte profundo na testa; Happy passou as mãos pelos braços e pernas dele e
disse:
– Parece que não quebrou nada. Nada muito feio.
– Rhodey – disse Tony.
– Vamos esperar um pouco – sugeriu Pepper. Esperaram, até que Rhodey fez
um barulho, que foi:
– Aaaaai.
– Estamos aqui – disse Tony. – Tudo bem, caubói?
Rhodey fez que sim.
– Sim. Um baita de um tiro, mas eu estou legal.
Pepper não pareceu convencida.
– Chamei um médico.
– Ligue pra ele – disse Rhodey – e fale pra não vir mais.
– Deixa disso, Rhodey – disse Hap. – Como você disse, foi um baita de um
tiro. Não vai fazer doer deixar alguém dar uma olhada.
– Ah, vai doer de qualquer jeito.
Rhodey se sentou e apertou as têmporas com as palmas das mãos. Pepper
limpou, com um lenço, o sangue que pingava do seu nariz. Era a única mulher com
menos de quarenta anos que Tony via usando lenços.
– Foi bom você estar bem perto – disse Tony. – O raio não teve espaço pra
ganhar muita energia.
Rhodey olhou para ele. Um dos olhos se fechara, de tão inchado.
– Ganhou o suficiente.
– Bom. Agora começa o trabalho de investigação. Ninguém hackeia as
Indústrias Stark. Pelo menos não duas vezes.
Ele olhou para o terminal de controle, que estava arruinado. Mas havia um
notebook que ele usava para testes em ambiente hostil. Encontrou-o em meio aos
destroços e o abriu. O aparelho acordou do sono e esperou pela senha.

– Nada como o trabalho manual – disse, e começou a mexer no computador.
Primeiro ele o conectou à armadura inativa e procurou por anomalias no
código que governava as habilidades motoras e os protocolos de autonomia. Lá
estava ele, enfiado num pedaço aparentemente inofensivo de linguagem de
máquina que gerenciava o controle de volume da entrada de áudio. Ele o separou,
colocou sob uma série de
firewalls e isolou uma parte facilmente rastreável, mas
que não oferecia perigo. Então começou a vasculhar os registros dos servidores
das Indústrias Stark, para ver onde e quando esse pedaço em particular de zeros
e uns conseguira penetrar os servidores, sob qualquer protocolo de codificação
que a armadura pudesse entender. Noventa segundos depois, os servidores
mostraram uma resposta, e trinta segundos após isso, um satélite do
Departamento de Defesa em órbita geoestacionária acima de Long Island enviou
uma resposta vinda da central de rastreamento de informações da DOD. Tony
soube, então, de onde viera o código, mas não podia acreditar.
– Brooklyn? – disse ele, em voz alta. Happy e Pepper olharam para ele,
agachados ao lado de Rhodey. – Alguém do
Brooklyn hackeou meu protótipo?  

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