segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 312

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOGel de atenuação cinética.DESCRIÇÃOPolímero viscoso capaz de absorver e dispersar energia cinética em altas concentrações, com
superaquecimento mínimo de sistemas e estruturas críticas adjacentes. Projetado para uso em
conjunto com a malha de nanotubos de carbono de camada dupla das Indústrias Stark (cf.
Petição Provisória para Patente [editado], cópia anexada).
ARGUMENTODerivado de trabalho originalmente contido nas patentes [editado] e [editado] das Indústrias
Stark, essa versão do polímero tira proveito dos avanços na manipulação do carbono, e de
avanços recentes na ciência de materiais, como citado no argumento pendente [editado] das
Indústrias Stark. Energia de impacto de até 1 MJ/kg será dispersada com 12 mm de grossura
de gel AC em conjunção com a armadura de camada dupla como a presente na patente
[editado] das Indústrias Stark. Grossura de 25 mm de gel CA dispersou energia de impacto
de mais de 3 MJ/kg em circunstâncias controladas. Esses valores excederam amplamente os
limites existentes de performance de materiais dispersadores de energia.
STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado] ao decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A
tecnologia é propriedade das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas
as entidades elegíveis. A tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo
de sigilo.
– A hora é zero três quatro quatro de sábado – disse Tony. – Começando
inicialização do protótipo para primeiro teste de voo e checagem operacional em
capacidade total.
Havia muitos aspectos de bom procedimento para gravar um registro de voz
de um teste de protótipo, mas Tony descobriu que também clareava sua mente
falar enquanto tentava resolver os
bugs de um sistema novo. Quando escutava as
gravações depois, conseguia reparar em detalhes de seu tom de voz que às vezes

não notara conscientemente durante o teste. A armadura nova era uma criatura
diferente de suas versões anteriores, até mesmo a Extremis. O que ele estava
buscando era algo como uma versão melhor de si mesmo, e não somente uma
armadura pessoal superpoderosa. Havia muitos motivos para ficar apreensivo.
– Ligando a armadura. – O microfone preso com fita no maxilar levava sua
voz até o servidor que também mantinha todos os sistemas de controle da
armadura conversando um com o outro. Controle imediato. A união perfeita de
criador e criatura. Era isso que ele buscava, e naquela noite – bom, naquela
madrugada – ele descobriria até que ponto chegara.
No compartimento em que dormia a armadura, uma série de luzes no painel
de status mudou de cor.
– Ativa e pronta para partir – disse Tony. Ele se aproximou da armadura,
virou-se, dando-lhe as costas, e deu um passo atrás para colocar os pés nas marcas
que fizera no chão com fita fluorescente. Igualzinho na peça da escola. Entrar na
marca, dizer as falas, e o
show começa.
Sentindo a presença de um corpo humano, protocolos da armadura farejaram
o DNA de Tony, das muitas células que seu corpo desprendia. O perfil foi
comparado com a sub-rotina administrativa do servidor. Encontrando o que
procurava, a sub-rotina disparou as três primeiras notas da famosa música “Assim
falou Zaratustra”. Desse detalhe Tony não se orgulhava muito, mas não resistiu.
A música dava a deixa para que ele falasse uma senha de voz.
– Pelo futuro da humanidade – ele disse, resistindo à vontade de cantar.
A armadura se abriu ao longo de linhas que percorriam o comprimento de
cada membro e dividiam o tronco. Com um suave gemido, servomotores moveram
a armadura cindida para a frente, até que Tony sentiu-a tocando-lhe a nuca e as
pontas dos ombros. Uma série de cliques e sibilos soaram conforme ela selou-se
em torno de seu corpo, e 116 adesivos de neurointerface se grudaram em sua
pele.
– Inserção da armadura bem-sucedida. – Ele saiu da moldura e testou os
reflexos da armadura. Antes de acioná-la, escreveu uma lista de ações físicas
básicas que queria executar para que o software dos sistemas pudesse analisar
tempos de resposta e ver quão bem a interface estava funcionando – para ver,
em outras palavras, quão perto ele estava de alcançar o controle imediato.
Era impossível, não? Nada podia ser imediato. A velocidade da luz era a
velocidade da luz. Nem mesmo Tony Stark poderia superar esse limite.
Mas ele poderia chegar mais perto do que qualquer outro homem. Era esse o
objetivo. Ele não se contentaria com menos. Havia possibilidades excitantes além

do que ele considerava possível, também. Ações a distância, manipulação
quântica… tantos caminhos para explorar.
Naquele dia, contudo, ele queria certificar-se de que sua armadura
funcionaria do jeito que deveria funcionar.
Ele ergueu o braço esquerdo, depois o direito. Flexionou os dedos. Girou os
braços, virou a cabeça, agachou e deu um pulo, com cuidado para não se empolgar
muito, visto que acabara de consertar o teto após a querela do outro dia. Tudo
funcionava com tamanha fluência, que ele teve de estender as mãos e olhá-las
bem para lembrar-se de que estava dentro da armadura. Todas as outras
armaduras tinham certo peso. Mesmo quando amplificavam sua força, mostrandolhe modos de sobrepujar e esquecer a avaria de seu coração, Tony tinha ciência de
estar dentro delas. Tinha de mandar a armadura fazer algo para então sentir um
processo mecânico responder que fazia isso acontecer.
Mas daquela vez, não. Daquela vez, sua mente formulava um pensamento e
conforme seu cérebro o traduzia num impulso nervoso, a armadura respondia. Se
ele não pudesse vê-la embrulhando seu corpo, se não houvesse uma dúzia de
leituras superimpostas no interior do visor do capacete, Tony não acreditaria de
todo que estava usando uma armadura. A não ser pelo fato de estar somente de
cueca e poder isolar a sensação de cada adesivo neural onde tocavam sua pele.
– Comandos físicos e respostas iniciais bem-sucedidos – disse ele. Então ele
deixou de lado o tom apático de pesquisador. – Cara, essa belezinha é o máximo.
O passo seguinte seria alçar voo. Tony foi até a porta da plataforma de
carregamento e tocou o botão para abri-la. Novamente, teve de lembrar-se de
que estava usando um equipamento ímpar e escandalosamente caro. A porta
abriu-se, e ele saiu para a plataforma.
– Agora vou voar – disse, e partiu.
Segundo as simulações que fizera, a armadura era capaz de 37 g de
aceleração em linha reta. Mecanismos amortecedores de força-g deveriam,
teoricamente, impedir que tal aceleração o matasse, mas ele jamais saberia se
não se arriscasse. Então, após alcançar três mil pés de altura num ritmo entre 3 e
4 g constantes, checando o espaço aéreo ao redor, em busca de tráfego aéreo
civil, ele resolveu ver do que a armadura era capaz.
– Aceleração inicial até três mil pés segundo especificações. Agora, vou me
soltar um pouquinho.
Ele sentiu o impulso até 10 g do mesmo modo que sentiria um elevador
passando de um andar para o seguinte. Aos 9 g, pilotos de elite começavam a
perder a consciência.

– Chegando aos vinte – ele disse, acelerando ainda mais. Vuuuush, mais uma
vez, aquela sensação do elevador, mas não foi nada ruim, e em dez segundos
Tony havia alcançado a altitude de um voo comercial de distância média. – Legal.
Aumentando para onze.
Mesmo em exposições breves, 37 vezes a força da gravidade era o suficiente
para matar algumas pessoas, dependendo de diversas circunstâncias pessoais.
Para Tony, dentro do protótipo de armadura, era como o último segundo após
saltar de um trampolim de três metros de altura, no momento exato antes de
atingir a água, quando dá para sentir que você começa a se mover mais rápido.
Ele foi subindo, e parou, depois de dez segundos, a cerca de dez mil quilômetros
por hora.
– Ultrapassando jatos – ele disse, e sentiu a sensação gloriosa da queda livre
conforme a gravidade impôs-se novamente sobre seu corpo solto. –
Impressionante.
Tony caiu. Deixou-se cair, conforme a física natural dos corpos e da atração
dominava onde sua feitiçaria tecnológica permitia.
– Checando desaceleração – ele disse, e quando sua altitude caiu para
cinquenta mil pés, ele pisou nos freios, um jorro de 37 g.
Foi perfeito. Ele parou imediatamente, e teve a sensação de descer dois
degraus em vez de um, numa escada.
– Nota mental. Tenho algo especial aqui. – Ele ficou ali parado, suspenso
nove quilômetros acima da superfície da Terra. – A única coisa que poderia
melhorar isso aqui agora seria um meteoro descer e me atingir. Preciso testar as
CFNs e a força de tensão da armadura.
Esse seria o estágio seguinte.
Amanhã, pensou Tony. Ele ergueu as duas mãos
e atirou um par de raios de pulso na direção de Castor e Pólux.
– A ASN vai entrar em contato amanhã. Lembre-os dos acordos de testes.
Havia outro jeito de testar os sistemas de distribuição de impacto.
– Hum – disse Tony, olhando para baixo. Long Island era uma mistura
efervescente de luzes amarelas e alaranjadas. O visor capturou o Laboratório de
ITR; o jato o empurrara muitos quilômetros para o leste. Logo abaixo dele havia
um bairro cheio de ruas sem saída e moradores que dormiam.
– São vocês que estou defendendo – disse Tony. Ele quis poder cortar a
energia e simplesmente cair, ver o que aconteceria quando colidisse com o que
quer que fosse. Mas sempre havia pessoas com as quais se preocupar. Ele se
propagou de volta para cima até que, por navegação estimada, considerando a

velocidade do vento e a aceleração da gravidade, ele pensou que, se cortasse a
energia, pousaria no campo vazio entre o laboratório e o lago.
Então ele fez isso e deixou-se cair.
Foi como saltar de paraquedas, só que melhor. Havia a excitação de não ter
um paraquedas, mas também a certeza de que ele poderia cair até da lua se
quisesse, que nada o machucaria. Construíra uma imortalidade que poderia usar
sobre a pele. Alcançara velocidade limite, e teria desmaiado muito antes, não
fosse pela armadura.
– Ah, pode vir – disse. Tudo bem, ele tinha um problema de coração, e talvez
todo mundo ao seu redor estivesse pensando que estava enlouquecendo, mas
nenhum deles podia fazer aquilo. Ele esticou os membros, e viu a terra passar
voando à sua frente, até que terra foi tudo o que ele pôde ver.
Colidiu contra o solo a 246 quilômetros por hora, segundo o leitor do visor.
Pouco antes do impacto, Tony cruzou os antebraços à frente do corpo, querendo
testar os CFNs. A força de sua reunião com a terra firma gerou uma cratera de
quase trinta metros cúbicos, e toda uma energia de impacto para os CFNs
converterem. Enquanto descansava, cabeça abaixada, com uma chuva de poeira
de pedra sobre o corpo, Tony notou que os CFNs distribuíram uma porcentagem
admirável de joules relevantes. Tudo estava funcionando. Ele saltou fora da
cratera, e sacudiu a terra e pedaços de grama.
– O teste de impacto foi improvisado, mas com certeza bem-sucedido.
Terminado o teste de voo, Tony odiou a sensação do solo sob seus pés. Não,
não odiou; mas deixou-o inquieto, ansioso para acionar novamente a armadura e
decolar, só para ver o que ela podia fazer. Voltou andando para o laboratório e
largou o capacete sobre o piso da área de testes, ao lado da moldura onde a
armadura se recarregaria e transmitiria todo um relatório de sua performance
para o servidor, onde várias sub-rotinas esmagariam as informações e lançariam
seus próprios relatórios sobre modificações futuras desejáveis.
– Tony – ecoou uma voz contra os contornos quadrados do local.
– Não quero falar com ninguém, Pep. Estou trabalhando.
– Não ligo se está trabalhando, nem se quer ou não. – Ela foi até ele e
plantou as mãos na cintura. Na linguagem corporal de Pepper, aquilo era como o
texugo mostrando os dentes na entrada da toca. – Happy está pensando se vai
pedir demissão.
– Ah, por favor. – Tony subvocalizou um comando, e a armadura se
desprendeu, abrindo as camadas e ajustando-se na moldura de suspensão. Tony
foi até onde deixara suas roupas. – Happy não vai se demitir. – E preferiu mudar

de assunto. – Você devia ter visto essa gracinha em ação. Sabe que odeio me
vangloriar, Pep, mas me superei. Isso aqui é outra coisa.
– Tony, cale a boca só por um segundo e me escute.
Ainda preso no barato do teste do protótipo, Tony enfrentou o foco resoluto
de Pepper em tudo aquilo com que ele não queria se preocupar.
– Não vou calar a boca – disse –, e não tenho que te escutar. – Ele acenou
para a armadura, em sua maravilhosa moldura. – Isso acaba de funcionar. Melhor
do que eu esperava. Foi uma ótima noite. Você pode entrar e vir com uma história
triste sobre o Hap, ou o Fury, mas o que eles querem mesmo são resultados. Que
eu dê resultado. Sou como uma fornalha pra eles, uma espécie de fábrica que
engole possibilidades e cospe trabalhos e tecnologia. E hoje aconteceu. Então ligue
pra eles amanhã e peça pra ficarem na deles.
Pepper manteve as mãos na cintura, e não ficou na dela. Se havia algo que
Tony conhecia e amava em Pepper Potts era o fato de ela nunca ficar na dela.
– Não se trata só de tecnologia, Tony. Tem o Happy. E todas as pessoas que
se relacionaram com você. Talvez você não ache que precisa delas, mas precisa
sim. E elas precisam de você. Não me importa o que diz sobre quem você vai
atender se ligar, nem quem pode visitar o laboratório. As pessoas precisam de
você. Talvez você não aguente, mas é verdade.
Era verdade. Tony sabia que era verdade. Entretanto, ele não conseguia
realmente se importar. Havia relatórios pós-voo para gerar, resultados para
analisar e incorporar. Trabalho a fazer.
– Me deixa em paz, Pep. É isso que quero que diga a todos. Cada um vai ter o
que quer de mim. Só me deixem em paz.
  

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