HOMEM DE FERRO : VÍRUS
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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOSistema integrado de nanotubos de carbono para armazenamento e descarga de energia.DESCRIÇÃOUm sistema de armazenamento de energia que usa as propriedades inerentes da estrutura de
nanotubos de carbono para reunir e canalizar um plasma dentro das fibras da malha de
nanotubos de carbono das Indústrias Stark, já existente (cf. Petição Provisória para Patente
[editado], anexada). Usando sistemas de comando e controle integrados, padrão dos
produtos da armadura corporal pessoal das Indústrias Stark, a energia armazenada pode ser
direcionada e usada conforme necessário com pouco ou nenhum espaço adicional
necessário para baterias ou unidades reatoras portáteis.ARGUMENTOLimite de armazenamento de energia foi sempre um sério obstáculo no desenvolvimento de
armaduras corporais pessoais movidas a energia que fossem viáveis. As Indústrias Stark
lideram o desenvolvimento de microrreatores e tecnologia de bateria de wafer de camada
múltipla, mas o peso e o espaço necessários ainda representam problema quando se pensa
nas capacidades almejadas de voo e combate. O Sistema Integrado de Energia de Nanotubos
de Carbono cria um novo modo de usar energia num contexto de espaço neutro, usando a
malha de nanotubos de carbono tanto em suas propriedades de blindagem quanto em sua
composição adequada para armazenamento de energia. Ao basicamente energizar o próprio
tecido da roupa, o usuário usufrui de amplo suprimento de energia sem ter que lidar com
peso ou flexibilidade reduzida.STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sem qualquer assistência ou cooperação das agências do governo dos
Estados Unidos. Nenhuma restrição de segurança se aplica.– Sabe – Maheu disse a Zola –, esse impulso hermético da parte de Stark é uma
séria complicação.
– Séria? – Estática tremelicou a tela no tronco de Zola, obscurecendo seu
rosto por um instante. Isso acontecia nas raras ocasiões em que suas emoções o
dominavam. Tinha algo a ver com o feedback da caixa de PES. No chão de fábrica,
ele imaginou, os operários e técnicos deviam ter parado por um instante ao
perceber a estática, olhando para os lados, incomodados, como se tivessem ouvido
um barulho irritante, sem conseguir localizar a fonte. – Sério – disse Zola – é o
que planejo para o próprio Stark. Os caprichos de sua personalidade são um
tempero. Dão à minha ambição exatamente a provocação de que ela precisa.
Ele não conseguia explicar esse ânimo, ou talvez ele não achasse que
precisava explicá-lo para seus subalternos – entre os quais ele incluía Maheu e
Lantier, apesar de sua utilidade excepcional. Zola orgulhava-se da pura
racionalidade de seu intelecto, mas até mesmo ele tinha que admitir que havia
momentos em que as fontes de suas emoções eram obscuras. A razão não
encerrava uma compreensão perfeita.
Embora, para ser mais honesto, havia muito que ele compreendia
perfeitamente.
– E qual é esse seu plano para Stark, exatamente? – perguntou Maheu. –
Acho difícil dar conselhos sobre essa questão dada a minha total ignorância dos
detalhes.
– Se ao menos sua ignorância com relação a outras coisas o impedisse de me
dar conselhos sobre elas – disse Zola. Ele olhou para o grupo de monitores nos
quais exibia imagens enviadas pela caixa de PES. Desse modo, podia manter
contato visual com o que certos seguidores andavam fazendo. O monitor de
interesse, naquele momento, mostrava Happy Hogan e Pepper Potts voltando
para dentro do carro e indo embora. O observador era uma versão falha de um
clone de Zola – incomodava-o demais admiti-lo, mas a ciência demandava
franqueza quanto aos erros. Zola o batizara Oculo, de pirraça, e acoplara nele um
emissor psíquico que lhe permitia receber as impressões sensoriais do clone num
raio de cerca de trinta quilômetros, dependendo do clima.
O isolamento de Stark era, de fato, um problema, mas não insuperável. A
Hidra tinha muitas cabeças, e Zola não as cortara todas durante seu levante.
Algumas das remanescentes continuavam proeminentemente conectadas a
instituições civis, e algumas dessas instituições civis realizavam eventos
filantrópicos para trabalhos de caridade.
– Maheu, preparei-me também para essa eventualidade. Deve-se conhecer o
inimigo, e passei meses observando Stark. Com base em minha observação,
desenvolvi a habilidade de prever seus comportamentos mais prováveis. Com
base nessas previsões, desenvolvi métodos de canalizar tais comportamentos de
modo que sejam úteis para os meus objetivos. Resumindo, estou deixando que
Stark faça parte do meu trabalho para mim.
– Entendo. Permitir que Stark desenvolva uma armadura de próxima geração,
imensamente poderosa, e escondê-la junto a si por trás de paredes impenetráveis
de segurança física e virtual é exatamente o que você queria. Impressionante a
sua esperteza.
Zola riu.
– Você quis ser sarcástico, mas acabou dizendo a verdade! Quando ele
emergir, e emergir ele irá, será numa circunstância de nossa preferência!
Tony era obscenamente rico fazia tanto tempo que o fato raramente lhe
ocorria, mas uma coisa que sempre o fazia lembrar-se de seus recursos financeiros
era quando os usava para fazer algo genuinamente inusitado. Como pedir três
pizzas grandes da Di Fara às onze da manhã e vê-las chegar de helicóptero. A
aeronave acabava de tocar o solo do estacionamento quando ele saiu pela porta
para encontrá-la. Ele deu uma gorjeta de cem pratas para o piloto e trouxe as
pizzas para dentro.
Fazia quase 24 horas que não comia nada, e tivera que se forçar a comer. O
trabalho não parava. Ele estava à beira de uma tecnologia de controle imediato
que não apenas incorporaria a armadura, mas ligaria os sistemas de controle da
armadura a redes e satélites militares que, essencialmente, contar-lhe-iam tudo o
que estava acontecendo no mundo, de uma só vez.
A última grande barreira que ele tinha que ultrapassar era descobrir um
modo de filtrar e priorizar a informação que chegava. Isso demandava uma
quantidade extraordinária de poder de processamento, e tempo, que ele não
queria redirecionar dos sistemas operacionais da armadura. Então era preciso
criar um sistema separado com habilidades inteligentes e flexíveis para decidir o
que a armadura precisava saber e o que era desnecessário. Em seguida, tinha que
integrá-lo ao projeto já existente.
Com isso, ele teria o controle imediato.
Mas, antes, a pizza. Enquanto comia, Tony checou os registros dos sensores
externos de segurança. Um conjunto complexo de câmeras, sensores de
movimento e escutas eletromagnéticas criavam uma figura multiespectral do
espaço físico que cercava o Laboratório de ITR e os diferentes sinais que
passavam pelo local. Após cerca de um mês, Tony ouvira cliques denunciando
ratos, esquilos, diversos tipos de pássaros, cães e gatos de rua, uns dois guaxinins
e um morador de rua ocasional que zanzava pela cerca dos fundos, perto do lago.
Tony deixava-o em paz graças a um sentimento de compaixão, do tipo poderiaser-eu-no-lugar-dele, mesmo sabendo que Fury, caso soubesse que Tony deixara
um membro da raça humana deitar olhos no laboratório por mais de noventa
segundos…Esqueça o Fury, Tony pensou. Não trabalho pra ele.Então ele notou a assinatura eletrônica inconfundível de uma transmissão
limitada, datada de dezenove horas antes, com duração de três minutos,
originada atrás do portão principal.
Foi quando Happy e Pepper voltaram da reunião com Fury.
– Filho da mãe – disse Tony. – Eu tinha razão.
Ele largou uma fatia de pizza pela metade e ligou para Pepper. Ela atendeu
antes mesmo do telefone tocar.
– Você tem muita coisa pra explicar.
– Agora, não, Pep. Cadê o Happy?
– Em casa, até onde eu sei. Pode encontrá-lo sozinho se só pretende acusá-lo
de alguma outra coisa.
– Engraçado você mencionar isso. Olha, Pep, quando você esteve aqui ontem
à noite, a segurança externa captou uma transmissão codificada bem ao lado do
portão. Não acho que era você mandando mensagem pra alguém, mas não sei se
foi o Happy. Se era outro clone, quem sabe que tipo de transmissor podia ter?
Estou trabalhando pra quebrar a codificação agora, mas isso pode levar alguns
minutos.
Pepper ficou em silêncio. Quanto mais tempo passava, mais Tony tinha a
impressão de que, se ela estivesse ali com ele, seu olhar o teria queimado até as
cinzas.
– Pep – ele disse. – Estou vendo o registro. O registro não mente.
– Não – ela disse –, mas o observador do registro, às vezes, é um idiota de
cabeça quadrada que podia, quem sabe, comparar o registro com a representação
visual do local em questão, não acha? Um pouco de contexto poderia ajudá-lo a
não dar uma de bobo.
Quando ele não respondeu, ela insistiu.
– Você só está teimoso. Eu sei que o sistema pode te dizer de onde veio o
sinal com muito detalhe. Agora, cheque isso antes de declarar Happy culpado de
alguma coisa.
– Certo. Está bem.
Tony abriu o vídeo da câmera do portão e de outra, instalada num poste de
luz, do outro lado da entrada. Congelou ambos no momento em que o sinal
misterioso começara a ser enviado. Ao mesmo tempo, o programa de
decodificação terminou o trabalho. Informava que conseguira quebrar o código do
sinal, mas que a informação sendo enviada não podia ser organizada em nenhum
padrão conhecido. Em outras palavras, o indivíduo que andara espiando o portão
frontal do laboratório teve o trabalho de mandar um monte de bobagens.
Na câmera do portão, ele não via nada além de Happy, Pepper e o carro. Mas
na outra, do outro lado da rua, no ponto onde, segundo a segurança eletrônica, o
sinal fora originado, era possível ver uma figura humana em meio aos arbustos
que cresciam entre a calçada e a cerca. Tony aumentou, ajustou o foco, passou por
diferentes frequências e confirmou que era um ser humano com algum tipo de
tecnologia implantada quem enviara o sinal. Ele passou o vídeo para a frente.
Pouco depois do carro de Happy deixar a entrada, saindo do enquadre, o
observador saltou dos arbustos e desceu a rua.
– Suponho, pelo seu silêncio, que você está tentando encontrar um jeito de
me dizer que não estava errado – disse Pepper.
– Eu estava errado – disse Tony.
– Quem era? O que estava enviando?
– Não sei quem era. E enviou só ruído, pelo menos segundo todos os
programas decodificadores que eu tenho aqui.
– Acha que foi a Hidra?
– Como disse, não sei quem era, Pep.
– Talvez você pudesse dar um tempo de mexer na armadura, pelo menos até
descobrir. E deve um pedido de desculpas ao Happy.
– Vocês andam saindo de novo?
– Não vou deixá-lo mudar de assunto, Tony. Da próxima vez que vir o
Happy, ou você pede desculpas pra ele ou eu peço demissão.
– Demissão? – disse Tony. – Você não vai pedir demissão.
– Tem certeza de que quer apostar?
Tony pensou um pouco.Não valia a pena.
– Está bem. Na próxima vez que vir o Happy, pedirei desculpas.
A voz de Pepper ao telefone transformou-se no mesmo instante.
– Ótimo – ela disse. – Escute, aproveitando que estamos na linha, dá uma
olhada nisso.
Um barulhinho agudo no ouvido de Tony anunciou a chegada de um e-mail.
– Que furtiva. O que é?
– Dá uma olhada. Eu espero.
Ele abriu a mensagem e encontrou um convite para um evento de caridade
em prol de agentes feridos da S.H.I.E.L.D., financiado por uma lista de civis
ricaços bem como uma organização que transportava corações doados para
transplante e pesquisava sobre corações artificiais.
– Ah, não – disse Tony.
– Você tem que ir. – Pepper falou baixinho, mas foi ouvida.
Tony devolveu o telefone ao ouvido.
– Não posso – disse, sem poder se conter. – Muito trabalho – acrescentou,
mas sabia, e sabia que Pepper sabia, que o trabalho não era o motivo real. Algo,
ao falar com ela, tornava difícil manter as aparências. – Não posso – ele repetiu.
– Vai, sim. É amanhã à noite. Eles trocaram a data por causa do que
aconteceu com a Hidra na Ilha do Governador, naquele dia. Do nada, tem muito
mais funcionários da S.H.I.E.L.D. inválidos. Você ficou devendo, Tony. Diga que
vai.
Ele tentou dizer não. Pensou em dezenas de desculpas. Nenhuma delas
colaria com Pepper.
– Está bem. Eu vou. Ficarei duas horas.
– Veremos sobre isso. Quer que eu lhe arranje companhia?
– Não, acho que posso cuidar disso sozinho. – Companhia, pensou Tony. A
última vez que saí, foi com a Serena. Ela de novo? Talvez. Por que não? – Tenho que
ir, Pep. Minha pizza está esfriando.
– Prometa.
– Eu prometo. – Tony desligou e voltou para a pizza. O silêncio no
laboratório ajustou-se em torno dele novamente. De certo modo, ele até apreciou
conversar com alguém. Não foi uma sensação ruim.
Mas vendo-se ali, sozinho de novo, a sensação foi igualmente boa. Talvez até
melhor.
Ele precisava rastrear a pessoa que enviara o sinal, e precisava projetar a
sub-rotina que priorizaria o fluxo de informação do sistema de controle imediato.
A imagem na tela prendeu sua atenção. Quem seria? O sinal era ruído. Seria
distração, como fora o ataque à S.H.I.E.L.D.?
Variáveis demais, Tony concluiu. Deixaria essa questão cozinhar por um
tempo. Começou uma busca em todas as ferramentas de segurança, procurando
por horas e lugares de outras intrusões de humanos e outros sinais não
identificáveis. Enquanto faria isso, pensaria, e teria que ligar para Serena, em
algum momento. Por ora, entretanto, ele precisava de duas coisas. Pegar outra
fatia e entrar de novo na armadura.
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