segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 315

HOMEM DE FERRO : VÍRUS

14

Certa vez, você se engajou numa missão para me trazer um presentinho. Agora, deve
fazê-lo novamente. Seu prêmio será infinitamente mais valioso, e o risco,
infinitamente maior, caso você falhe. Mas não falhará, minha criação única. Não
falhará. Você se mostrou digno da criação, digno de ser uma joia unicamente
destacada da imensidão uniforme da Hidra. Em nenhum outro lugar do mundo
existe alguém como você. Em nenhum outro lugar do mundo existe alguém em
quem eu poderia confiar para uma missão de tamanha importância e perigo. Todos
os seus recursos serão requisitados, todo o seu treinamento e a intuição que
diariamente se aperfeiçoa, transformando-se em perspicácia admirável. E sim, sua
beleza, pois por que os poderosos haveriam de não ser belos? Por que a admiração
não pode ser também desejo? O vermelho é a cor do amor e da guerra. Deve lutar
com grande paixão, e amar aquilo pelo que luta. E deve lembrar isso ao mundo, a
cidade suja efervescente e o mundo sujo efervescente. Você é uma imagem
dispensável, forragem para fofoca e cobrança… mas, para mim, é algo único. Fiz
apenas um de sua espécie, e não farei mais. Você é Hidra!
Pepper não tardou a pegar o telefone para falar a Fury sobre o sinal e o
observador do Laboratório de ITR.
– Então a Hidra está de olho no laboratório. – disse ele. – Grande coisa. O
que quero saber é se Tony vai àquela festa.
– Sim, Nick. Ele disse que vai. Cheguei até a dar dica a uma das suas
namoradas de que talvez ele precise de companhia. Então, pode contar com isso.
– Ótimo. Quanto à Hidra, temos uma saturação de vigilância em todas as
áreas industriais do Brooklyn, e não estamos encontrando nada que não pertença
ao lugar. Vamos continuar procurando, mas aposto que teremos que esperar que
eles se mostrem antes que possamos contra-atacar.
– Apenas prepare-se – disse Pepper, depois se conteve. – Desculpe, Nick. Sei
que não preciso te dizer isso. Ando um pouco agitada.
– Eu também. Agora, quem vai com você ao evento?
– Bom – disse Pepper, falando arrastado –, acho que Happy vai comigo.
– Que bom. Vocês formam um belo casal. – A observação, vinda de Nick Fury,
soou tão surpreendente, sendo ele o ser humano menos romântico que Pepper já
conhecera, que ela nem soube como reagir. Felizmente, Nick poupou-a do
trabalho, dizendo: – Agora preciso dar uma passada de helicóptero por cima de
Greenpoint, caso um dos depósitos lá tenha um logo da Hidra pintado no telhado.
Vejo você amanhã à noite – disse ele, e desligou o telefone.

Ela ficou um pouco no escritório, até que reparou que não havia nada que
precisasse fazer ali. Uma vez que 95% de seu trabalho era cuidar das coisas do
Tony, e ele estava enfiado no laboratório, não deixando ninguém fazer nada,
para Pepper, dadas as circunstâncias, aquele era um dia de folga. Ela decidiu ir
almoçar e esquecer-se de voltar, e decidiu que Happy a acompanharia.
Só que quando ela lhe ligou para comunicar sua decisão, ele estava em casa e
não queria ir a lugar algum.
– Não estou a fim, Pep. Principalmente porque temos essa parada amanhã… –
Ele não prosseguiu, e ela logo notou que havia algo que não queria lhe contar.
– Então posso ir à sua casa. O que devo levar? Escolha o que quiser.
Uma hora mais tarde, Pepper saltou de um táxi em frente ao prédio de
Happy portando uma sacola gigante de comida chinesa. Happy comia por três
homens. Isso representava uma vantagem para ela – como ele comia quatro ou
cinco pratos diferentes, ela acabava provando um pouco de todos. Tocou a
campainha e entrou. No elevador, ficou pensando se ela e Happy estavam
voltando a ficar. Ou se isso estava prestes a acontecer. Ou se esse era um
daqueles períodos em que ambos consideravam a hipótese e resolviam que não
era boa ideia. Ela não tinha certeza de qual das três possibilidades preferiria, caso
pudesse escolher.
Em geral, era Tony quem os unia. Pepper nunca sabia ao certo o que sentiam
um pelo outro, porque a lealdade que compartilhavam pelo irritante chefe definia
muito do relacionamento dos dois. Aquele dia não parecia que seria diferente.
Happy abriu a porta, e disse:
– Humm, comida chinesa.
Ele levou a sacola para a sala de estar, que continha um sofá, uma cadeira,
uma mesa de centro e a TV. A mobília toda não era de marca. A TV mostrava
destaques de um jogo de beisebol.
– Quase parece que você tem um emprego comum quando tira o dia de folga.
Happy concordou.
– Tive tanto tempo livre semana passada que nem sei o que fazer da vida.
Fury me fez trabalhar mais ainda que o Tony.
– Bom, talvez isso mude agora que vamos explodir o Tony pra fora do
laboratório – disse Pepper. – Talvez ele acorde.
– Pode ser. Mas eu ando sentindo que vai ser preciso mais do que isso. Às
vezes, as pessoas só precisam entender algumas coisas. Ele vai acordar quando
estiver pronto pra acordar.
– Ou não vai. Às vezes as pessoas precisam que os amigos as tirem do buraco.

Happy demoliu meio pacote de frango General Tso antes de responder.
– Você fala como se fôssemos amigos mesmo do Tony.
– Ah, vai, Happy.
Ele levantou-se e andou pela sala.
– Não gostei de saber que existem todos esses clones meus. Até onde eu sei,
devia haver só um de mim.
Então é disso que se trata, pensou Pepper.É claro. Ela deitou os palitinhos e
cruzou a sala, indo até a janela, onde ele estava, e tocou-lhe o rosto com a palma
da mão:
– Só existe um de você, Happy. – Então ela lhe deu um tapinha, de
brincadeira. – Graças a Deus.
Ele não conseguia esquecer. Observando o canal pela janela, começou a
pensar em voz alta:
– Imagino como deve ser um deles. Quanto da minha personalidade eles têm?
Gostam da mesma música que eu gosto? É estranho, Pepper. E sabe qual é a pior
parte? Nunca vou ter certeza de que morreram todos. – Ele olhou para ela com
uma expressão de pavor. – Para o resto da minha vida, vou sempre achar que tem
outro de mim por aí. Isso é a pior parte.
– Happy, você é único. Vou continuar dizendo isso enquanto precisar que eu
diga.
 


 Sem que se desse conta, o sol estava se pondo, e Tony reparou que ignorara o
telefone tocando o dia todo. O evento. Devia ser Pepper enchendo-o por conta
disso. Ele abriu as ligações perdidas e viu que, embora ela fosse responsável por
quase metade, a maioria das outras era de Rhodey. Tony apagou todas as
mensagens de voz que apareceram. Não queria ouvir a voz de Rhodey, nem a de
Pepper. Tinha que entrar, e não sair. Tinha que pensar microscopicamente, em
nanoescala. As pessoas eram grandes demais para ele lidar. Os amigos,
principalmente. Ele devia certas coisas aos amigos e não as tinha para dar naquele
momento. E não teria enquanto a armadura não estivesse pronta.
O que Rhodey acharia disso? Lutaram juntos, salvaram a vida um do outro.
Rhodey andava achando que Tony estava com problemas, o que o deixava
irritado e preocupado. Natural, pensava Tony. É assim que se reage quando um
amigo está com problemas. Surpreendia-o a frieza com a qual pensava na
situação.
Se eu fosse um amigo normal, pensou, ligaria para Rhodey e tentaríamos
entender as coisas, como todo mundo faz. Mas naquele momento ele não era uma
pessoa comum. Era o incubador da armadura. Seu cérebro era um replicador de
ideias que, por sua vez, criavam novas ideias, gerando bilhões de maquininhas que
rastejavam ao redor do laboratório e criavam algo que ninguém jamais vira.
Rhodey teria que esperar. Se fosse mesmo um amigo, compreenderia.
As últimas três chamadas foram de Serena Borland.
– Hum – disse Tony. Ele ficou ali parado com o telefone na mão, sem querer
ligar porque, se ligasse, teria que cumprir o que prometera a Pepper. Prometer,
que palavra mais irritante.
Ninguém devia nunca prometer nada a ninguém, Tony
pensou. Ele prometera, no entanto, e não era muito dele mentir descaradamente.
Principalmente para Pepper. Era irritante também o modo com o qual ela o fazia,
constantemente, querer ser uma pessoa melhor do que de fato era.
Enquanto pensava nisso, o telefone tocou. Era Serena.
– Não resisto – disse Tony, e atendeu.
– Tony, oi. Escuta, queria pedir desculpas pelo meu comportamento naquele
dia.
Tony nem sabia do que ela estava falando.
– Não vi nada de errado. Na verdade, eu estava quase pra te ligar. O que vai
fazer amanhã à noite?
– Ah – ela disse. E fez uma pausa. – Amanhã à noite? Bom, se não for alguma
coisa com você, vou ficar à toa querendo que fosse.
– Te busco às sete. Só que nada de jazz, dessa vez. Ou, se tiver, vai ser do
tipo que chamam de jazz quando toca numa recepção de caridade.
– Gente, vou ser sua companhia num evento de caridade? – disse Serena,
rindo. – Mal posso esperar.
– Talvez, depois que dermos uma passada, podemos sair e ver um
show
. – Ao
dizer isso, Tony percebeu que queria mesmo fazer aquilo. Sair pela cidade, ver
alguma coisa, ouvir uma música…
Serena estava falando.
– Desculpe, me perdi – disse Tony.
– Ah, eu só estava dizendo que Pepper já havia me mandado informações
sobre o evento, então vou usar vermelho.
– Ela mandou, é? – Tony teve a sensação de que até as pessoas que amava
estavam tramando contra ele. – Vermelho, então. Escuta, tenho que resolver
umas coisas aqui. Amanhã às sete?

– Fechado – disse Serena, e desligou.
 

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