segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 316

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

15

PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULORaio repulsor.DESCRIÇÃOUma arma de energia e sistema de propulsão projetada em torno de um sistema de lentes e
superfícies refratárias que canalizam e focam uma onda de exaustão altamente carregada,
capaz de (como arma) liberar grandes quantidades de força com um alto grau de precisão e
mínima perda de energia, ou (como sistema de propulsão) mover grandes quantidades de
massa em alta velocidade com turbulência e/ou oscilação mínima.
ARGUMENTOEsta mais recente iteração de uma tecnologia pioneira das Indústrias Stark (ver lista de
patentes relevantes, anexada) aumenta a força de transmissão em 15% e o foco ótimo em
12%, como expresso pela área aumentada da intersecção de um cone com o vértice no ponto
de origem do raio (ver diagrama anexado). O raio foi reprojetado depois para integrar
completamente os aperfeiçoamentos do protótipo no sistema de armas raio-uni, das
Indústrias Stark (como patenteado em [editado], [editado],
et al.).STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado] ao decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A
tecnologia é propriedade das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas
as entidades elegíveis. A tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo
de sigilo.
– Devíamos nos livrar de Borland – disse Maheu.
– Acho que ainda não – disse Zola. – Ela pode se mostrar útil de diversas
maneiras assim que Stark perceber a natureza dessa ilusão específica.
Após considerar por um momento, Maheu disse:
– Como uma donzela indefesa? Espera que Stark caia nesse truque velho?
– Espero. Se fosse de apostar, apostaria qualquer coisa que você quisesse que
quando Stark descobrir que Borland está viva, fará de tudo para reavê-la.

– Se eu fosse de apostar, sugeriria que, se Stark não o fizer, você me deve
uma caixa de PES.
– Por que se atormenta tanto, Maheu? – Zola ergueu-se para inspecionar as
forças reunidas conforme elas preparavam-se para sair. Emergiu na passarela e
olhou para elas, organizadas em posições, invencíveis em sua uniformidade, com a
geração seguinte lindamente congelada atrás de si. Happy Hogan era grande. De
corpo troncudo, do tipo certo para intimidar. Teria sido um bom membro da
Death’s Head setenta anos antes. Na verdade, a própria Death’s Head teria sido
imensamente incrementada, além de mais fácil de comandar, se tivesse sido
composta de clones como esse em vez do grupo sortido de capangas e criminosos.
Ocorreu a Zola que, para controlar uma massa de indivíduos, era preciso ter
uma massa de clones. Somente através da uniformidade podia-se conseguir força
ideal, e somente com clones alcançava-se uniformidade ideal. Isso explicava a
queda dos impérios.
Entretanto, entre todos, era preciso escolher um.
– Maheu, que critérios deveriam ser usados para a escolha de um único
soldado para uma missão crítica, sendo todos os soldados clones?
Maheu pensou um pouco. Os clones olhavam diretamente para a frente, como
se estivessem sozinhos.
– Eu sugeriria – disse Maheu, finalmente –, que o único critério correto para
fazer tal escolha entre objetos idênticos seria o abandono dos critérios.
– Muito útil.
Maheu apontou.
– Que tal esse aqui?
– Agora sim você foi útil. – Ele tocou o clone no ombro. – Você. Venha comigo.
Ele entrou no sacrário de Lantier com o clone atrás de si.
– Lantier, você terminou a tarefa que lhe prescrevi?
– Todos a bordo. Estamos no horário.
Zola via Lantier trabalhando, fascinado, como sempre, pelo fato de que a
capacidade do clone repousava silenciosamente dentro dele. E poderia ser de
outro jeito? Seus genomas eram idênticos. E em qual outra sequência de causas e
efeitos poderia ele, Arnim Zola, ter favorecido um zelo erudito pelos espaços
virtuais? Isso era mais do que mera especulação; tratava-se diretamente da
questão do que criava uma personalidade, uma mente. Era tão amplamente
complexa que até mesmo Zola não compreendia a extensão de seus limites.
Considerava a existência de Lantier e Maheu – e até de Oculo – extremamente
instrutiva, até revigorante. Sem eles, ele entenderia muito menos sobre a

construção de seres humanos, e infinitamente menos sobre a construção de si
mesmo.
Maheu estava ausente, trabalhando nos sistemas de treinamento. Se
estivesse presente, Zola teria dito a mesma coisa. Sem dúvida, Maheu teria
respondido, implicando que Zola não conhecia a si mesmo e aos outros tão bem
quanto pensava. Por saborosa ironia, contudo, era em parte graças ao pessimismo
incapacitante de Maheu que Zola chegara à compreensão do verdadeiro
significado de seu trabalho. Até mesmo quando tentava debilitar Zola, Maheu o
fortalecia.
E conforme Lantier ficava cada vez mais impenetrável, tornava-se mais útil
como o laboratório dentro do qual Zola podia enxergar-se.
Quatro barulhinhos pipocaram conforme Lantier destacou os dedos do
sistema conduíte. Ele estendeu a mão para o clone de Hogan, que se retraiu. Zola
tomou controle completo da mente dele, esmagando sua personalidade e vontade
ao mínimo, uma partícula vibrando sem sair do lugar dentro da matriz expandida
da mente de Zola.
– Chacoalha o funil – disse Lantier.
– O que isso quer dizer? – As gírias de ferrovia ficavam cada vez mais
cansativas. Periodicamente, Zola ponderava sobre algum jeito de intervir, uma
renovação nas centrais de linguagem de Lantier que o fizesse falar de modo
compreensivo. Ele se conteve pelo receio de que tal atitude pudesse comprometer
as habilidades incomparáveis do clone.
– Somos o expresso. Segura o principal – disse Lantier.
Sentado, rígido, olhos escancarados e sem foco, Lantier lhe apontou a nuca.
Encontrando o ponto que desejava, sobre o transceptor que Zola instalara em
todos os elementos de sua geração de Hogans, ele retirou um instrumento do
bolso. Era similar a uma agulha de tatuagem. Zola nunca tinha visto aquilo. Sem
dúvida, Lantier requisitara que fosse produzido por um dos técnicos; eles não
incomodavam Zola com detalhes.
Lantier encostou o instrumento na pele do clone, depois o pressionou
gentilmente até que uma gota de sangue apareceu em torno da área de contato.
– Junte tudo e encurrale – ele disse. Um filamento de fumaça desprendeu-se,
e Zola sentiu cheiro de pele e cabelo queimado.
– Por que precisa fazer isso? – ele perguntou. Pura curiosidade provocou a
questão. Seria a intensidade do fluxo de informações gerando calor ou algum
outro processo em andamento? Lantier não respondeu. Após cinco segundos,
removeu o instrumento.

– Pega mais leve – disse.
– Isso quer dizer que terminou? – Zola perguntou, irritado. Os seres que o
cercavam…
Lantier devolveu o instrumento ao bolso, reconectou os dedos aos conduítes e
ignorou Zola e o clone.
Então. Tudo feito. Zola soltou o controle do clone, que sibilou de dor, levando
a mão à nuca.
– Vá à enfermaria – disse Zola.
Geralmente, ele se livrava de clones que precisavam de cuidados médicos,
mas havia ocasiões em que cuidar deles era mais eficiente, então ele mantinha
uma equipe médica à disposição. Aquela era uma dessas ocasiões. Em 36 horas, o
clone morreria independentemente do que fizessem os médicos, mas durante esse
tempo era imperativo que toda a força de luta – principalmente daquele –
estivesse em capacidade máxima.
O clone saiu para passar o código viral para o restante de sua equipe. A
redundância seria crítica. Zola permaneceu junto a Lantier, novamente deixando
sua mente passar pelas diversas possibilidades que pudessem explicar como um
genoma idêntico poderia dar vazão a dois seres tão incrivelmente diferentes. A
questão certamente merecia investigação. Que sujeito experimental fascinante
Lantier seria, caso em algum momento se tornasse operacionalmente dispensável.
Antes de voltar ao andar superior, ele resolveu dar uma olhada em Serena
Borland. Ela era mantida numa sala muito similar à ocupada por técnicos e
operários, exceto pelo fato de não ter que dividi-la. Os demais dormiam às
dezenas num quarto só, em camas cuidadosamente organizadas que
maximizavam a eficiência, mas não tão apinhadas a ponto de provocar respostas
psicológicas adversas. Zola era extremamente cuidadoso com relação a esses
detalhes.
– Srta. Borland – disse ele, ao entrar no cômodo. A caixa de PES tilintou em
resposta à intensidade das emoções dela. Era uma moça bela e forte,
desacostumada a ter seu destino removido de seu controle.
Estava sentada numa cadeira, uma bela cadeira de couro, importada
originalmente para o próprio Zola, depois passada para ela num gesto de boa
vontade apropriado à importância da moça. Ao vê-lo entrar, ela levantou-se.
– Mate-me ou deixe-me ir.
– Receio que nada disso seja possível no momento – disse Zola. Permaneceu
perto da porta. Seria capaz de impedir que ela tentasse escapar tão facilmente
quanto poderia mandar um cachorro bem treinado se sentar, mas era

infinitamente menos dramático eliminar tal possibilidade pelo posicionamento
adequado do corpo. A solução mais simples era, geralmente, a melhor.
– Você vai se arrepender muito quando Tony vir me procurar – disse a srta.
Borland. – Monstro. Ele vai arrancar essa caixa da sua cabeça e quebrar a tela
com ela.
– Verdade? Espero que tente.
– Não vai mais esperar quando acontecer. – Ela se sentou e fingiu que o
ignorava. Que criatura mais deliciosamente espirituosa ela era.
– Srta. Borland. Você não faz ideia da persuasão que um refém pode ter.
Assim que Tony Stark perceber que você está viva, e ele vai, porque vou garantir
que isso aconteça, ele terá que vir. E sabendo que terá que vir, eu tenho a
vantagem, porque posso planejar o encontro, enquanto ele não saberá o que o
espera. Tudo faz parte do jogo.
– Pode falar. Não estou ouvindo.
– Então como soube quando me mandar falar? Por favor, não insulte minha
inteligência nem a sua maturidade. – Zola abriu novamente a porta. – Quer que
eu traga alguma coisa?
– Uma arma seria legal, se me deixar dar um tiro em você.
Zola aplaudiu, lenta e deliberadamente.
– Que divertido. Já atirou alguma vez na vida?
Ela o fitou, e a caixa de PES brilhou com um tipo diferente de intensidade
emocional. Ela estava ofendida! Que interessante!
– Quando era criança, morei no Maine. Lá no norte, onde ninguém mora se
não precisar. Nós precisávamos porque meu pai dava aula numa escola especial de
ciência e matemática, numa antiga base militar. Bom, senhor Arnim Zola, uma das
coisas que as pessoas fazem lá é biatlo. Vou supor que, já que você sabe de tudo,
sabe o que significa biatlo, e vou dizer somente que, quando eu tinha quinze anos,
era a campeã feminina de biatlo do estado. Acha que não sei atirar? Coloque uma
arma nas minhas mãos e vamos descobrir.
A interação com Serena Borland subitamente perdeu muito do interesse para
Zola.
– Por mais esclarecedor que pudesse ser esse momento – disse ele –, receio
que será muito improvável que ocorra. Você existirá enquanto eu julgar que será
do interesse de Tony Stark. Isso faz de você um item de valor extremo no
momento. Mas, como sabemos – Zola continuou, abrindo a porta –, não se pode
jamais prever o valor de um item. Pense nisso enquanto se diverte em suas
fantasias com sua boa pontaria.

Ele fechou a porta e voltou para o elevador, sentindo-se inquieto e irritado
consigo por estar inquieto. Para um homem de gosto refinado, a proximidade das
emoções mais atávicas era um incômodo. Estranhamente, naquele momento, Zola
preferiria os comentários acerbos de Maheu; tanto que foi procurá-lo no centro
de comando.
– Um coração selvagem bate dentro do peito admirável da srta. Serena
Borland – informou ao clone.
– Jamais imaginaria – disse Maheu.
– Não é comum. Geralmente, os refinamentos da vida na alta sociedade
extinguem todas as paixões genuínas e as trocam por entusiasmos artificiais e
impulsos sem valor. No caso dela, isso não parece ter ocorrido.
– Então Tony Stark encontrou para si uma amante – disse Maheu. – Aplausos
para ele.
– Terrivelmente triste para ele, que jamais vai descobrir isso, a não ser
quando for tarde demais. – disse Zola. – Para ambos.
Maheu assentiu, pensativo.
– É desnecessário afirmar que este mundo é um vale de lágrimas.
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário