segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 321

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

20

Hidra! Quantos de vocês caíram hoje? Quantos de vocês entregaram seus corpos às
balas da S.H.I.E.L.D.? Muitos. Falo aos sobreviventes, aos veteranos, aos melhores
da Hidra, que enfrentaram seus inimigos e deixaram o campo com vitória. Nosso
objetivo foi alcançado, minhas criações! O passo seguinte em direção à dominação
total da Hidra da raça híbrida da humanidade foi dado, e com sucesso! Mas alguns
morreram. É natural notar sua ausência. Talvez vocês tenham desenvolvido
relacionamentos cujo fim provoca respostas emocionais. Isso é esperado. Saibam
que a Hidra sente pela perda daqueles soldados – mas saibam também que a Hidra
emerge mais forte graças ao sacrifício deles. Novos soldados tomarão seus lugares.
Serão seus irmãos na batalha. Vocês vão ensiná-los o que sabem, e se forem
derrotados em batalha, eles carregarão seu legado, ensinando àqueles que tomarão
seus lugares. É assim que deve ser. Esta é a vida, a única vida, para o verdadeiro
crente na Hidra. Estamos reconstruindo o mundo, e nada é reconstruído sem
primeiro ser destruído. A Hidra representa a lembrança de nossos camaradas mortos,
e o reabastecimento vital de seus sucessores. A Hidra é a força perante a
adversidade, e a determinação perante o fracasso. Continuamos fortes, e ficaremos
ainda mais! Continuamos determinados, e nossa resolução apenas cresce! Somos a
Hidra!
– Viu Serena entrar no lugar onde a Hidra vem se escondendo – Tony repetiu. –
No Brooklyn?
Happy fez que sim.
– Isso, no Brooklyn. Sei que era aquele o lugar, Tony. Um dos caras que a
encontrou na entrada era… era eu.
Tony convocou uma reunião na torre das Indústrias Stark, no centro. Queria
ficar no laboratório, mas sabia que seria mais eficiente do outro modo. Colocar
tudo preto no branco, direcionar todos para o mesmo ponto, e depois ele poderia
voltar ao controle imediato. O tempo era curto. Ele tinha que resolver tudo, e
tinha que resolver tudo rápido, o que significava que tinha que desatar os nós de
tudo que pudesse tomar-lhe tempo.
Pepper, Happy, Rhodey e Tony sentaram-se à mesa de uma sala de
conferência no fim do corredor que levava à sala dele. Fury voltara à Ilha do
Governador, deixando para trás ordens diretas para que lhe fosse informado
imediatamente o que quer que saísse da reunião. Era hora do jantar, e Tony
pedira duzentos dólares de comida mexicana, chinesa e indiana só para garantir
que todo mundo comeria alguma coisa. Assim que todos fizeram seus pratos, ele
começou.

– Vamos dar um jeito nisso. Certo, a Hidra está em ação. E, obviamente,
Madame Hidra não é mais a mandachuva, porque estava naquele avião que saiu
do Islip.
– Não se esqueça de que aquela podia ser um clone – disse Pepper. – Visto
que andam aparecendo tantos clones por aí.
– Certo – disse Tony. – Vamos manter isso em mente também. Agora, a
Hidra está tentando nos desestabilizar emocionalmente de todo jeito possível.
Hackeando o laboratório, os clones do Happy… – Ele parou por um instante. –
Hap, não pedi desculpas do jeito que deveria. Se tem uma coisa que sei nessa vida
é que posso confiar em você. Nesse sentido, deixei a Hidra fazer exatamente o
que queria, e sinto muito. Não tem desculpa. Eu não devia ter agido assim,
desapontei todo mundo. Certo?
– Deixa isso pra lá – disse Happy. Ele fitou Tony nos olhos tempo suficiente
para que este acreditasse em suas palavras, antes de voltar sua atenção ao seu
burrito de frango.
– Rhodey, Pep, devo desculpas a vocês também.
– Aceitas – disse Rhodey, com a boca cheia de
pakora. – Podemos passar para
a parte reunião da reunião?
– Espera um pouco – disse Pepper. – Vamos deixar bem claro que você andou
sendo um babaca ultimamente, e que estamos dispostos a esquecer tudo se você
parar com isso agora. Então. Hidra. Jogos emocionais. Estou anotando.
Nunca a rispidez foi tão comovente, pensou Tony.
– Certo, então. Jogos emocionais. O principal estratagema entre os jogos
emocionais foi clonarem Serena Borland. Funcionou tão bem que temos que supor
que a Hidra está no processo de me clonar em algum canto das entranhas de uma
fábrica de chocolate abandonada. Junte-se a isso o fato de que eles roubaram os
projetos da interface neural, do servidor do laboratório, e conclui-se que a Hidra
que usar uma cópia de mim pra controlar o protótipo da armadura.
Todos o fitaram.
– É, eu sei. Em parte, a culpa é minha. Mas aumentei a segurança, e agora
que sabemos, ou suspeitamos com alto grau de desconfiança, que é isso que
querem fazer, podemos tomar atitudes.
– Ou podemos mandar um ataque aéreo naquela fábrica e resolver o
problema em uma hora – disse Happy. – O que acha, Rhodey?
– Acho que Fury aceitaria, mas vamos causar uma dispersão radioativa bem
no meio do Brooklyn.
– Mas nessa parte do Brooklyn não mora ninguém.

– Rhodey tem razão, Hap – disse Tony. – Vai ser muito difícil conseguir
autorização para um ataque dentro dos Estados Unidos. Dick Cheney não
conseguiu nem depois do Onze de Setembro.
– Então acho que devíamos fazer isso e nos preocupar com a radiação depois
– disse Happy. – Eu iria pra cadeia numa boa.
– É isso aí, Hap. Mas ninguém aqui tem mísseis pra isso.
Rhodey riu.
– Fala sério, Tony. Todo mundo aqui sabe que, se você quisesse, tem um
satélite ou drone das Stark, em algum lugar, que podia vaporizar aquela fábrica
daqui quinze minutos.
Era verdade. Tony nem tentou negar.
– Isso vai soar um pouco interesseiro vindo de mim – disse ele –, mas eu
prefiro fazer isso estando todos de acordo. E com todos eu me refiro à
S.H.I.E.L.D. também.
– Deixa eu ligar pro general – disse Rhodey. – Expomos o caso e vemos o que
ele acha.
– Espere um minuto. Não estão se esquecendo da Serena? – disse Pepper.
Todos pararam.
– Não acha que ela está viva, acha? – perguntou Tony.
– Acho que a Hidra tem um trunfo que ainda não usou – disse Pepper. – Não
sabemos se ela está viva ou não. Mas se jogarmos uma bomba naquela fábrica
com ela lá dentro, quem é que vai dizer à sua família que foi pro bem de todos?
Rhodey devolveu o celular à mesa.
– Se eu fosse da Hidra, manteria Serena viva – disse Pepper. – Pelo menos
enquanto soubesse que o fato de ela estar viva ou não deixaria alguém com a
pulga atrás da orelha.
– Interessante esta frase: “Se eu fosse da Hidra”. Andei dando umas
investigadas com esses drones de que o Rhodey falou, e acho que entendi algumas
coisas. – Tony gerou uma imagem tridimensional da região do Brooklyn em
questão, pegando um pouco do Queens, tecnicamente, em torno da fábrica de
chocolate. – Não dá pra ver nessa imagem, mas tem muito ruído vindo desse
prédio em frequências que não costumam ser usadas em nenhuma aplicação
industrial usada na região. São baixas demais. Tão baixas, na verdade, que só são
vistas em funcionamento cerebral. Estou falando de menos de trinta hertz. Então
comecei a ligar os pontos. As coisas esquentam na Hidra, de repente aparece todo
tipo de clone junto com pistas falsas e jogos psicológicos, e ainda por cima toda

essa transmissão de alta potência de frequências de onda cerebral. Aonde vamos
parar?
Tony gerou outra imagem junto à do mapa. Mostrava uma figura humana
com uma ampla tela de TV no tronco e um conjunto complexo de antenas e
sensores brotando dos ombros, onde deveriam estar pescoço e cabeça.
– Esse é Arnim Zola – disse Tony. – Começou com os nazistas, fazendo com
eles todo tipo de experimentos. Depois ele percebeu que era muito bom com
aplicativos de controle mental, de algum modo escapou e entrou pro submundo
depois que terminou a Segunda Guerra Mundial. Ele aparecia de vez em quando,
desde então, mas sumia por vários anos. Da última vez que ouvimos falar dele,
estava em Madripoor… que deve ter sido onde ele conheceu a Madame Hidra.
Não se sabe como ele adquiriu o
know-how pra lidar com clones, mas ele tem.
Acho que podemos afirmar com um pouco de certeza que é esse cara o
responsável.
– Agora tudo que temos que fazer é descobrir o que fazer com ele – disse
Rhodey. – Que diabos ele fez com a cabeça dele?
– De acordo com a base de dados da S.H.I.E.L.D., que estou olhando agora,
ele reconstruiu o próprio corpo para proteger o cérebro e aprimorar a capacidade
de transmissão da geringonça da cabeça, que ele chama de caixa de PES. E ele já
está no quinto ou sexto corpo, portanto podemos supor que ele deve ter mais
alguns guardados em algum lugar.
Happy inclinou-se na cadeira e tamborilou os dedos na mesa.
– Se querem saber, isso é mais um motivo pra ir pra cima com tudo. Se ele
tem corpos e pode passar de um pra outro, o único jeito de dar cabo dele é pegá-
lo desprevenido, certo? – Ele olhou ao redor. – Quer dizer, seria uma pena pra
Serena, mas nem sabemos se ela está viva. Esse cara trabalhava pro Hitler; não
tem como pensar que ele não deu fim nela por bondade de coração.
– Os clones te subiram à cabeça, Hap – Pepper disse baixinho. – Sei que quer
se livrar deles. Vai acontecer. Mas temos que fazer as coisas direito.
– Do jeito que você fala me parece que você quer dizer somente que temos
que fazer de novo – disse Happy. – Quer dizer, minha casa fica a menos de um
quilômetro dali, e eu digo que a gente devia ir em frente e explodir tudo por
garantia.
Rhodey balançava a cabeça.
– Isso porque você, sabendo disso, não estaria em casa quando acontecesse.
Não é uma boa, Hap.

– Quando vai ser uma boa? Sabemos onde ele está, e sabemos que ele não
está pronto pra sair. Agora é o melhor momento pra atacá-lo. Pronto, problema
resolvido.
– Mas tem muita coisa que não sabemos – disse Tony. – Como quem mais
está lá. Além de Serena, existem mais reféns? Pessoas em quem estão fazendo
testes? A questão dos clones torna muito importante sabermos o que existe lá. E
se ele tiver clones instalados na polícia ou no Congresso? Ou nesta empresa? Não
podemos destruir tudo e não descobrir nada. Precisamos agir, mas precisamos de
respostas.
– Concordo – disse Rhodey.
Pepper concordou.
– Também acho. Desculpe, Hap. Sei como se sente, mas…
– Não, Pepper. Não sabe – disse Happy. – Ninguém sabe. Não vou sossegar
enquanto todos aqueles clones sumirem e não forem feitos mais. É isso que está
em jogo pra mim. Pra vocês, é uma questão tática. Tem toda uma diferença.
– Certo, parece que é hora de colocar o general no telefone e ver por quais
caminhos poderemos seguir – disse Tony. – Rhodey, importa-se de fazer as
honras?
Enquanto Rhodey ajustava a conferência, Tony acompanhou Happy ao
corredor.
– Hap, acho que entendo um pouco como se sente. Serena pegou uma
amostra de mim também, lembra? E pode apostar que Zola está construindo pelo
menos um Tony dois-ponto-zero nesse momento. Nada me faria mais feliz do que
me certificar de que isso jamais aconteça, mas temos que fazer tudo direito. E se
a Serena real ainda estiver viva, não podemos deixá-la morrer.
Happy olhou para o chão, depois para o teto. Para todo canto, menos para
Tony. Este sabia o que o amigo estava pensando: às vezes é preciso fazer um
sacrifício e viver com as consequências. Naquele momento, Happy estava disposto
a sacrificar Serena Borland, mas sabia também que estava tão envolvido
pessoalmente na situação que não pensava do modo que um soldado deve pensar.
Não havia como resolver a contradição, e aquilo o consumia, porque Happy
Hogan não era do tipo de cara que jogava fora uma vida humana.
– Hap – disse Tony. – Vamos conseguir. Podemos resgatar Serena e cuidar de
Zola e de todos os clones. Dá pra fazer isso. Tá bem?
– Claro, chefe. Claro. Importa-se se eu não participar do resto da reunião?
– Sem problema. Devo pedir à Pepper que procure você quando terminarmos?

– Se ela quiser, não vai fazer diferença o que disser a ela – disse Happy,
rindo.
– Isso é verdade. Uma peça, a Pepper. Vejo você amanhã de manhã no
laboratório, tá? – disse Tony. – Vamos ter muito que fazer, independente do que
Fury resolver.
– Beleza, chefe – disse Happy. Ele ficou esperando pelo elevador, enquanto
Tony voltou para ver o que Nick Fury teria a dizer.
  

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