segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 322

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 


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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOMatriz de Dados de Personalidade.DESCRIÇÃOTecnologia integrada de escaneamento cerebral e representação que usa interface quântica e
arquitetura de informação maciçamente paralela para criar um simulacro virtual completo da
mente humana. Padrões neurais são replicados e criados como rotinas de software que
interagem umas com as outras de modos identificados pela neurociência contemporânea
como endêmicos à função cerebral padrão. O cérebro do sujeito é considerado uma matriz de
relações, e cada nó pode afetar diversos outros simultaneamente e, em resposta, ser afetado
por outros ainda. A Matriz de Dados de Personalidade recria essas relações interligadas e as
representa de forma totalmente senciente e interativa.
ARGUMENTOTeorias de desenvolvimento da mente oferecem numerosos modelos concorrentes para
compreender como funciona o cérebro. Nenhum é completamente satisfatório, e esforços
existentes para criar inteligência artificial abordam a questão como demandando poder de
processamento e imensa capacidade de armazenamento. A Matriz de Dados de Personalidade
(MDP) cria um conjunto inter-relacionado de processos que imitam e recapitulam relações
existentes entre diferentes áreas do cérebro, criando uma consciência totalmente funcional
que passa tanto no teste padrão de Turing e outros métodos apropriados de testar
inteligência e autoconsciência.
STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sem qualquer assistência ou cooperação das agências do governo dos
Estados Unidos. Nenhuma restrição de segurança se aplica.
– Bom, não há jeito de optarmos por um ataque aéreo – disse Fury assim que
Tony o atualizou quanto à situação, incluindo sua suspeita referente a Arnim
Zola. – Muita possibilidade de causar a morte de civis, e tem gente no
Departamento de Defesa que vai querer matar quem teve a ideia, por querer
botar as mãos nos brinquedos que Zola deve ter inventado. Não vão querer que
sejam destruídos antes que alguém descubra do que se trata.

– Quais são as chances de podermos entrar e sair com Serena viva? – Tony
perguntou.
– Supondo que ela esteja viva – Rhodey acrescentou.
– Nada boas – disse Fury. – Resgatar reféns é um negócio complicado. Ainda
que esteja viva, não sabemos onde ela está, que tipo de segurança existe em
torno dela, quanto das forças de Zola temos que enfrentar pra chegar até ela…
então não sabemos quantos agentes precisamos nem para começar a montar a
missão.
– Vou bancar o advogado do diabo aqui – disse Tony. – E se evacuarmos tudo
entre a Grand Avenue, o canal e a ferrovia e para depois entrar?
Fury disse exatamente o que Tony esperava:
– Assim que a Hidra vir isso acontecendo, vai sair do lugar feito vespas. Ou
vai se proteger lá dentro e começar a mandar fotos de Serena Borland para
estações de TV. Nenhuma das duas opções é boa.
– Aqui vai outra possibilidade: se não podemos entrar, talvez possamos atrair
Zola pra fora.
Rhodey riu.
– Não pense que vamos precisar atraí-lo. Ele está se preparando pra sair,
queiramos ou não.
– Verdade, mas pense nisso. O plano dele até agora se baseou em tentar nos
fazer certas coisas em certos momentos. Estou começando a criar uma noção de
como funciona a mente dele, e sabe de uma coisa? Aposto que jamais lhe ocorreria
que pudesse ser encurralado. Ele é um desses gênios lunáticos que nunca pensam
que alguém possa pensar em algo antes deles. – Tony acenou para a imagem de
Zola, acima da mesa. – Olhe pra esse cara. Ele transformou a si mesmo numa
torre de transmissão porque achava que seus pensamentos eram tão importantes.
Será que ele vai achar que algum de nós pode pensar num plano que ele não será
capaz de ver e antecipar?
– Talvez ele seja mais esperto que a gente – disse Rhodey.
– Morda a língua, Rhodey. Ele sabe planejar, nós também. Está quase tudo
preto no branco, agora. Os únicos trunfos são Serena e quem de nós vai fazer a
primeira jogada. E se começarmos toda uma encenação de que estamos
preparando uma missão pra resgatar Serena? O que acham que Zola faria?
– Ou ele vai se esconder e nos deixar entrar, tendo Serena como trunfo, ou
sair numa boa e tentar chegar até o protótipo com o clone.
– Supondo que exista um clone – disse Fury.
Tony coçou a ponte do nariz.

– General, entendo que compete a você ser um pensador conservador e
estratégico, mas existe algum outro motivo no mundo para um clone correr para o
esconderijo de Arnim Zola com uma amostra do meu material genético?
Fury deu de ombros.
– Talvez ele quisesse se colocar dentro do seu corpo. Ou numa versão dele.
Não sabemos. Concordo que seja mais provável que ele esteja te clonando, mas
não acho que podemos acreditar que já sabemos o que ele quer fazer com o clone.
– Podemos, por ora, continuar com a ideia de que ele quer usá-lo pra entrar
na armadura? – Tony perguntou. – Só pra seguir com a discussão. Ver aonde
chegamos.
– Claro – disse Fury. – Prossiga.
– O que acho que devemos fazer é encontrar um prédio vazio não muito
longe da fábrica de chocolate e colocar um time de ataque da S.H.I.E.L.D. lá
dentro. Alguns homens por vez, pra diminuir a possibilidade de que Zola note. –
Tony apontou para o mapa. – Em algum lugar por aqui, onde podemos usar os
canais pra conseguir levar agentes para o ponto de encontro.
– Happy podia saltar pela janela da sala dele e ir nadando – Pepper
comentou.
– Ah, Happy vai querer participar. Pode ter certeza disso – disse Tony. – Seja
lá o que resolvermos fazer.
– Mergulhadores, equipamento para a encenação, esconder-se até que Zola
saia, e então podemos atacar a fábrica e procurar sua namorada – Fury foi
ticando os estágios. – Bem fácil.
– Ela não é minha namorada.
Fury fitou a tela da videoconferência.
– Então me lembre por que estamos sapateando num campo minado pra tirá-
la de uma fábrica de chocolate.
– Porque ela é uma cidadã proeminente da elite cultural de Nova York cuja
morte brutal num bombardeamento aéreo faria um monte de gente fazer um
monte de perguntas desconfortáveis à S.H.I.E.L.D. – disse Tony, fitando-o de
volta. – Essas pessoas são muito próximas de seus representantes eleitos, assim
como donos de estações de TV e jornais.
– Mergulhadores, esconderijo, entrar quando for o momento certo – disse
Rhodey, numa tentativa óbvia de voltar o foco para o plano. – Esqueci da quarta
parte, do campeonato de mijo a distância?
– Basta, soldado – disse Fury. – Sr. Stark. Poderia delinear o restante de seu
plano? A parte que envolve capturar ou matar, de fato, Arnim Zola e impedir que

um clone de sua estimada pessoa seja instalado em seu protótipo de armadura
com a sua revolucionária tecnologia de controle imediato?
– Você vai odiar isto – disse Tony, ignorando deliberadamente o sarcasmo de
Fury –, mas só posso explicar de verdade se nos encontrarmos no laboratório.
• • • •
Happy caminhava. Quando era adolescente e precisava clarear as ideias,
caminhava de Greenpoint até Williamsburg, depois até Heights, depois voltava
pela ponte do Brooklyn, adentrando o turbilhão que era Manhattan. Horas de
caminhada. Depois pegava a Delancey e cruzava a ponte Williamsburg para
voltar para casa. Chovendo, nevando, não fazia diferença. Quando Happy se
sentia de um determinado jeito, precisava caminhar. E, naquele dia, foi isso que
ele fez.
Saindo do reino de Tony para entrar na Oitava Avenida. Norte ou sul? Norte.
Happy caminhava conforme a noite caía, passando pela face norte de Hell’s
Kitchen (
foi mal, Clinton, pensou ele, sarcástico), seguindo para o Upper West
Side. Não parou enquanto não chegou perto de Columbia, visto que, mesmo
quando queria de caminhar, Happy não gostava dos bairros estudantis. Virou para
o leste, pensando em cruzar a 110ª Rua para chegar ao Central Park, e talvez
fazer todo o caminho pelo sul, atravessando o parque, até voltar ao centro.
Quando teria então que tomar outra decisão. Adolescentes à toa gostavam do
canto norte do parque. Happy fora um deles. Passara muitos finais de semana
assoviando para as garotas, imaginando qual seria um bom motivo para comprar
briga com alguém que passasse, com que ele não fosse com a cara.
Naquele dia, se fosse adolescente, teria que sair na mão com Tony e Rhodey.
Que bom que não era mais adolescente. Tinha um pouco mais de controle sobre o
temperamento. Passou pelos adolescentes, sentiu alguns deles o fitando. Não
havia muita criminalidade mais por ali, mas as pessoas se lembravam de como
havia sido e agiam como se pudesse ocorrer de novo. Happy torceu para que
nenhum daqueles garotos quisesse lançar a moda, porque ele estava bem disposto
a ser um pouco violento e aliviar a tensão.
Dentro do parque, ele rumou para o sul, escutando o barulho da cidade ficar
mais distante. Jamais desaparecia por completo, não como às vezes acontecia no
Prospect Park, mas dava para ter a sensação de não mais fazer parte dela. Ele
escolheu uma trilha – não importava qual – e encontrou-se perto da estátua de

Balto, o cão maravilha. Pena que estava tão tarde; teria sido um bom dia para dar
uma volta no zoológico. Os animais faziam Happy feliz.
– Happy?
Ele se virou e, de todas as pessoas, – que coincidência! – viu Serena Borland…
ou o clone de Serena Borland. Ela reparou na expressão que ele fez e disse:
– É, estou te seguindo, Happy. Não nos encontramos por acaso. Preciso falar
com você.
– Vai me contar onde Arnim Zola está escondendo sua original? – Happy
perguntou. – Se não, não temos nada que conversar.
– Minha original – ela repetiu. Ela estendeu os braços bem abertos e olhou-se
de cima a baixo. Happy teria feito o mesmo, mas ela estava usando um casaco
comprido, e eles estavam num ponto menos iluminado. – Costumo pensar nela
como uma versão beta. Sou muito mais funcional e robusta.
– É culpa sua haver clones de mim. Se você não fosse mulher, já teria te
matado – disse Happy. – Agora, me deixe em paz. Fuja pra algum lugar, vá fingir
que é humana de novo.
Ele voltou a andar, e congelou quando ouviu o som de uma lâmina saindo da
bainha.
– Vim aqui pensando que talvez você pudesse me ajudar – Serena disse
quando ele se voltou. – Agora entendo que vamos ter que ir direto pra parte do
assassinato.
Serena lançou-se contra ele como se fosse, ela mesmo, uma sombra. Num
segundo, estava ali, no outro, passou por ele, e o corpo de Happy se contorcia,
esquivando-se de um golpe eviscerante da lâmina. Ele nem a viu ir de um lugar
para o outro. O casaco preto enganava os olhos, e Serena era rápida demais para
ser subestimada. Quando voltou, ela parecia ainda mais rápida, e a ponta da
lâmina cruzou pela lateral esquerda das costelas de Happy, logo abaixo do braço.
O ardor e o gotejar contínuo de sangue o atiçaram, de modo que, quando ela veio
atacá-lo uma terceira vez, ele não apenas esquivou-se da espada num giro como
lhe meteu uma bela bordoada com o cotovelo bem na boca. Ele mirara na lateral
do pescoço, mas ficou contente de vê-la perder o equilíbrio e estatelar-se na
grama, perto de Balto.
Alguém que passava por ali fez um comentário sobre teatro de rua. A voz
soou muito distante; a visão de Happy estreitara-se para incluir Serena, e nada
além de Serena, porque qualquer distração naquele momento resultaria em sua
morte. Devia ter parecido teatral para quem não estava envolvido.

– Você se move muito bem para um homem grande – Serena balbuciou. – Mas
uma hora vou pegar você. Sabe disso, não? E ainda que não consiga, o que tem na
ponta da faca vai conseguir.
– Veneno – disse Happy. Como se a palavra o conjurasse, ele sentiu um ardor
crescente ao longo do corte, espalhando-se sob a pele. O braço esquerdo começou
a enfraquecer.
– É, Happy. Veneno. Você nunca foi o mais esperto da turma, foi? – Ela fez
uma pose. Happy já a vira antes. Era algum tipo de arte marcial, mas ele não
sabia qual. Nunca vira muitos tipos de artes marciais além dos seminários sobre
combate mano a mano da S.H.I.E.L.D. – Olha só. Fique parado, dessa vez, e
resolvo o problema do veneno.
– Tá bom. Claro.
Então, quando ela avançou contra ele parecendo uma nuvem escura, com
aquele casaco preto e a faca brilhando feito um relâmpago, ele sacou – com o
braço bom, o direito – uma boa e velha Browning Hi-Power e deu cabo dela. O
som dos três tiros ecoou pelo parque. Parte do cérebro de Happy começou a
contar quanto tempo levaria para ouvir sirenes. Outra parte pensava em como
ele poderia chegar o mais rápido possível num hospital, antes que o veneno o
matasse. Já não estava sentindo mais o braço esquerdo.
A parte maior de seu cérebro lidava com o fato de que acabara de fazer uma
coisa pela primeira vez.
– Nunca tinha matado mulher – disse ele, torcendo para que alguém
escutasse. Não queria que pensassem que era algo que fazia o tempo todo.
Ninguém respondeu, e Happy seguiu para a Quinta Avenida, procurando pelo
celular enquanto andava.
  

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