segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 323

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

22

Vocês foram além das minhas expectativas até agora. Duas vezes eu os enviei para
coletar material crucial, e duas vezes vocês tiveram sucesso. Agora coloco suas
capacidades sob um teste muito mais rigoroso. Vocês carregam dentro de si todas
as formidáveis habilidades de Madame Hidra, a usurpadora de cujas garras eu
libertei a Hidra para que ela alcançasse seu verdadeiro destino. Nenhum outro ser
humano vivo possui essas habilidades, nem o conhecimento para usá-las.
Entrego-lhes os instrumentos do ofício de Madame Hidra. Sintam o corte letal da
lâmina, quão afiada está. Vejam como a luz penetra e se concentra nos líquidos
mortais que compunham parte do aparato de Madame Hidra. Agora são seus.
Agora, vocês são uma versão melhor de Madame Hidra. Têm os poderes dela, mas
não sua fraqueza. Têm seu compromisso, mas não o comprometimento niilista que
ela tinha para consigo mesma. Vocês são a Hidra, não Hidra. Não têm medo, mas
não são imprudentes. Não têm medo da morte, mas não arriscam suas vidas sem
motivo. Entram na missão para matar, não porque não valorizam a vida, mas porque
sabem que a guerra demanda mortes, e a guerra que travamos é justa e necessárias.
Vocês têm um alvo. Conhecem-no; ele terá cautela, então vocês também deverão ter.
Precisam atacar rapidamente e escapar. Deixem este aviso no local para que nossos
inimigos saibam quem fez isso, e saberão a quem temer. Vão, agora, e saibam que
vocês são a Hidra.
Tony tentou convencer Pepper que ela deveria procurar Happy e acalmá-lo, mas,
seja lá por qual motivo, ela não quis. Em vez disso, foi com ele e Rhodey na
pequena viagem de helicóptero até o Laboratório de ITR, onde Nick Fury
esperava por eles. Tony levou-os ao andar de testes e começou a ligar os
terminais do sistema de controle.
– Se o que nos preocupa é que Zola hackeie o protótipo – disse ele –, isso é
impossível.
– Você disse que seu sistema não podia ser hackeado na primeira vez – disse
Fury.
– Disse sim. Estava errado. Dado o jeito que as coisas se desenrolaram desde
então, no fim das contas pode ter sido sorte eu estar errado.
Rhodey e Fury entreolharam-se. Pepper fitava Tony. Ele piscou para ela.
– Arnim Zola não é o único cara que vem escaneando mentes e
transformando-as em matrizes portáteis de personalidade. Eu venho brincando
com isso faz alguns anos, e alguns dos sistemas metafiltrantes de controle
imediato que projetei acabaram tendo efeitos colaterais inesperados. Um deles é

que posso, de fato, fazer uma cópia de uma mente humana que passaria num
teste de Turing.
Ele olhou ao redor.
– Todo mundo sabe o que é um teste de Turing, não?
– Pelo amor de Deus, Tony – disse Pepper.
– Tá, tá, só pra ter certeza. Querem ver como é?
Fury entortou os olhos, e Pepper disse:
– Tem como contrariar você, por acaso?
– Não, srta. Potts, não tem. Aqui, vejam só – Tony disse. A maior entre as
telas do terminal explodiu num padrão complexo de cores. – É assim que o
programa representa a mente de modo visual. Estão vendo esses? – Ele apontou
para diferentes ondas nas cores que se erguiam e desapareciam em diferentes
áreas. – Esses são pensamentos e ideias. Parecem manchas de clima, né?
Aparentemente, é assim que funcionam. Muito a investigar aqui, se todos nós
vivermos o bastante.
– Quem é esse? – Rhodey perguntou.
– Eu, companheiro. Esse é o Tony 2.0. Programei uma interface que você pode
usar pra conversar com ele, mas é meio esquisita. E aqui está a melhor coisa do
jeito que arrumei o programa. Tudo o que preciso fazer é isto… – Ele teclou uma
série de caracteres numa ordem específica, e o padrão sumiu. – Puf! Agora só tem
eu de novo. Bom, a não ser pelo clone, que Zola já deve ter criado a uma hora
dessas.
– Você acaba de se deletar? – Fury parecia perplexo.
– Não, senhor, general. Deletei uma cópia virtual de mim mesmo. Não o
original. Mas tive uma longa conversa com ela esses dias, e pra ser sincero,
quando terminei, não sabia dizer qual dos dois era o original. – Tony olhou para a
tela com saudosismo. – Fiquei pensando se ela tinha mesmo pensamentos e
memórias, ou se ela permanece numa espécie de padrão de suspensão até que é
destruída ou colocada dentro de um corpo. Ainda não entendi tudo muito bem.
– Mas quando você fala com ela, ela responde e então muda, certo? – Rhodey
perguntou. – Acaba ficando um pouco diferente de você.
– Torna-se uma pessoa real, é isso que quer dizer? – Tony interrompeu. –
Não sei da filosofia, Rhodey. Não estou muito interessado nisso agora. Se aquilo
era uma pessoa, me processe por suicídio.
– Qualquer um que transformar isso num negócio vai fazer você parecer um
pobretão – disse Fury. – Sabe que não pode chegar perto de divulgar isso.

Tony começou a desativar o software de visualização da matriz de
personalidade.
– Estou ciente de minhas responsabilidades para com esta nação, general.
Esse programa não vai sair deste laboratório. Imagine o inferno que seria se todo
mundo entrasse no mundo virtual e deixasse seu corpo babando, de fraldas, em
todo canto. Acha que eu ia gostar disso?
– Você fala da coisa toda com muita indiferença – Rhodey reparou. – Por que
para o Happy tem sido tão difícil?
– Porque o Happy viu um clone dele, e talvez tenha matado um. Pra mim,
ainda é só uma ideia, então posso falar sobre isso como sobre qualquer ideia.
Além do mais, Happy é um cara diferente. Tem coração. E você me conhece.
Fury pigarreou.
– Pondo de lado a conversa mole, que diferença isso faz na questão do Zola
hackear o protótipo?
– Assim que reparei que podia criar uma matriz de personalidade confiável –
Tony explicou –, construí um protocolo dentro da interface da armadura que vai
obrigatoriamente fazer
upload de qualquer usuário não autorizado para um
espaço de segurança dentro da intranet do Laboratório de ITR.
– Você… – Rhodey ficou pasmo por um instante. – O que aconteceria com o
corpo?
– Sei lá. Nunca tentei justamente por isso. Mas tenho um palpite, assim como
Pep – fizemos umas simulações que indicaram que deve ser isso mesmo, não? –
Tony olhou para ela, e Pepper fez que sim. – Acho que o corpo só ficaria parado.
As funções autônomas continuariam, então a pessoa ficaria ali respirando e
babando na camisa até que a personalidade dela voltasse pro corpo, via
download.
– Contou sobre isso pra alguém? – Fury perguntou.
– Sobre o que, a matriz de personalidade? Não, não está pronta pro horário
nobre. Nem pro consumo público. Nem pros idiotas do Departamento de Defesa,
se é isso que quer saber. É pessoal e privada, e não gastei nenhum centavo do seu
dinheiro nela.
Na tela do terminal, a representação da matriz de dados foi substituída por
um esquema da armadura com fórmulas diagnósticas denotando a prontidão de
combate e funcionalidade de cada elemento. Estava tudo verde.
– Veremos, quanto a essa parte. Por ora, quero saber o que isso significa para
a Hidra. Se você vai prender a personalidade do clone nessa matriz de dados, não
precisa colocar o clone dentro da armadura primeiro? – Fury perguntou. – Disso
eu não gostei.

– Nem eu – disse Tony. – Mas não acho que precisa ser assim. O único motivo
pelo qual Zola poderia querer o projeto da interface neural seria pra incorporá-la
ao clone, de algum modo – ele prosseguiu, fazendo uma série de checagens nos
servidores de segurança do Laboratório de ITR, certificando-se de ter
permanentemente deletado a simulação de sua personalidade. – Não consigo
pensar outra coisa. Se for isso mesmo, então posso ativar o protocolo assim que o
clone estiver perto o bastante para que os sistemas de segurança detectem sinais
pela interface.
– E daí?
– Daí, quando esse clone meu tombar porque sua personalidade foi sugada
para o éter, seus mergulhadores entram na fábrica de chocolate e pegam a
Serena. Então metemos bala nos soldados da Hidra e você explode a fábrica de
chocolate; depois, é claro… – disse Tony, erguendo as mãos para acalmar Fury –
que você pôr as mãos em todos os brinquedinhos tecnológicos que podem estar te
esperando lá dentro.
– Mas e se ele estiver esperando? – Pepper perguntou. – Ele não tem que ir a
lugar algum enquanto não estiver pronto.
É sempre a Pepper quem traz o bom senso à discussão, Tony pensou.
– Ele não pode esperar pra sempre. Seus planos são grandes demais. Confie
em mim, pode parecer bobagem, mas Zola não teve todo o trabalho de tomar a
Hidra e criar uma fábrica de clonagem no meio da cidade de Nova York pra ficar
sentando, lançando clones armados. Ele tem coisas maiores em mente, e posso
apostar que está se preparando pra tomar um passo decisivo. Acho que esse passo
decisivo é capturar o protótipo e colocar um clone meu lá dentro.
– Então acha que devíamos apenas ficar zanzando por aqui, como se
estivéssemos organizando uma baita operação – disse Rhodey –, e continuar
zanzando até que Zola apareça com o seu clone?
– Não meu clone. Clone de mim – disse Tony. – Distinção importante.
– Só pra você – disse Fury.
– É comigo que me preocupo, general. Como você adora mencionar.
Respondendo à sua pergunta, Rhodey, isso, é exatamente isso que devemos
fazer. Montamos o cerco por aqui, e quando Zola chegar, acabamos com ele
enquanto os agentes do Fury detonam a fábrica de chocolate. – Tony olhou para
cada um do grupo, captando as reações. – Acham que vai dar certo?
Todos pareciam céticos.
– Tudo isso não foi testado ainda, certo? – perguntou Fury. – Tudo. O
protótipo, o programa da sua mente, a coisa toda.

– Não completamente – disse Tony. – Saí com a armadura algumas vezes. E
você viu o resultado de um teste da matriz de dados de personalidade.
Fury fitou Rhodey.
– Vale a pena tentar, eu acho – disse Rhodey. – Se der tudo errado, podemos
voltar às más opções que tínhamos antes.
– Pepper – disse Fury. – O que você acha?
– O que eu acho? – Pepper repetiu. – Acho que Serena Borland está morta, e
estaríamos todos muito melhores se alguém soltasse uma bomba imensa numa das
chaminés daquela fábrica e depois atirasse em qualquer coisa que tentasse
escapar do fogo.
Houve uma longa pausa.
Então Fury caiu na gargalhada.
– Você tem tudo pra ser general, mocinha. Pena que está presa aqui
trabalhando pro Stark. Certo, Tony. Vamos tentar.
– Excelente. Rhodey, importa-se de vestir a armadura? – Vendo a cara que o
amigo fez, Tony riu. – Quero dizer uma das antigas. A nova é meio territorial.
– Posso fazer isso.
– Vamos precisar dela como apoio quando Zola e sua gangue aparecerem –
disse Tony. – Aposto que eles têm brinquedos que ainda não conhecemos.
O celular de Tony tocou.
– Atenda – disse Fury.
– Estamos ocupados, não? – Tony disse, ignorando o telefone.
– Atenda o telefone, Tony – Fury repetiu. – Quer cometer o mesmo erro que
cometeu com Happy da outra vez?
– Nossa – disse Tony. – Tá bom. Vou atender o telefone. – Ele tocou a tela e
disse: – Tony Stark. Minhas babás me forçaram a atender.
Ele ficou em silêncio por um instante, enquanto a outra pessoa falava, e o
bom humor drenou-se de seu rosto.
– Sim – ele disse, em certo ponto, então um pouco depois: – Eu vou. – Depois
mais silêncio. – Falando no diabo – disse ele baixinho, após desligar.
– Que foi? – Pepper e Rhodey perguntaram ao mesmo tempo.
– Era o NYPD. Serena Borland atacou Happy com algum tipo de espada de
samurai no Central Park agora há pouco. Ele a matou. A espada estava
envenenada, não sabem ao certo com o quê. Ele está na UTI no Monte Sinai.
• • • •

– Esse resultado não foi ideal – Maheu observou.
Zola assistia a um telejornal diferente em cada tela do centro de comando.
Boa parte deles cobria o ataque fracassado do clone de Borland contra Happy
Hogan… embora o maior fracasso do ataque ainda estava para ser determinado,
visto que nenhum dos esbaforidos repórteres falava se Hogan ia sobreviver.
Certamente, nenhum dos médicos se arriscavam.
– Parece-me que a individualidade do clone afeta o modo como as habilidades
adquiridas subliminarmente são ativadas – Maheu acrescentou.
Ignorando a asserção herética de Maheu de que os clones possuíam
individualidade, Zola, no entanto, considerou a possibilidade de que construir
apenas um dos clones de Borland afetara o resultado.
– Quanto tempo as Oito Madames levarão para ficar prontas?
– Vinte horas – Maheu respondeu.
Hogan sobreviveria, possivelmente, mas a S.H.I.E.L.D. e Stark deviam estar,
sem dúvida, arquitetando planos. Zola sabia que não podia contar com tempo
ilimitado para desenvolver o seu. Nenhum plano sobrevive ao contato com o
inimigo, ele citou para si mesmo.
Por que o clone de Borland não tinha simplesmente seguido Hogan parque
adentro e completado a missão? Testemunhas citadas nos telejornais afirmaram
que toda uma negociação e um encontro acrobático precederam a ação pouco
cavalheiresca – embora admiravelmente decidida – de Hogan. O clone de Borland
fora preparado em mente e corpo. Não havia sinal em sua consciência de que ele
falharia tão miseravelmente.
– Quanto tempo após isso elas estarão adequadamente treinadas para
participar de operações de combate?
– Mais doze horas.
– Então, em 25 horas, vamos agir – disse Zola. – Certifique-se disso.
  

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