segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 325

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

24

Hidra, aqui estão vocês! Nosso último dia de preparação começou! A esta hora,
amanhã, marcharemos na direção de um golpe decisivo contra a S.H.I.E.L.D. e seu
guarda-costas, Tony Stark. Devemos reunir cada fibra de força, cada parcela mínima
de dedicação e determinação, cada átomo de comprometimento. As forças reunidas
contra nós serão formidáveis, e a partir do momento em que deixarmos este local,
estaremos sob ataque. Devemos lutar com coragem, mas inteligência; com bravura,
mas não barbárie; com eficiência letal, mas não sede de sangue selvagem. Matamos
não somente por matar, mas porque aqueles que impedem o nascimento da nova
ordem estão dispostos a matar também. Se eles não morrerem, nós morreremos, e
portanto eles devem morrer. E morrerão, porque somos a Hidra! Lutamos uns pelos
outros e por aqueles que estão por vir! Lutamos por um mundo que ainda está por
nascer – sem doença, sem defeito, sem acaso nem fracasso! Um mundo no qual a
perfectibilidade da humanidade é um fato científico, não um dogma religioso. Esse
mundo começa amanhã, e espera por vocês – vão até ele, contentes, pois vocês
foram e serão a expressão da mente que o cria! Ele está lá para que o tomem, e
tomá-lo vocês devem, e isso vocês farão, pois são a Hidra! Quando um de vocês é
cortado, dez erguer-se-ão para vingar a perda, porque vocês são a Hidra! Quando
os comandos da S.H.I.E.L.D. descerem dos céus, vocês os destruirão porque são a
Hidra! Este é o nosso dia! Hoje é o dia da Hidra!
Do ponto de vista de Nick Fury, uma série de coisas aconteceu de uma só vez.
Zola estava discursando feito Snidely Whiplash, falando de guerra e
sentimentalismo, e então Fury ouviu a voz de Pepper vindo do terminal de
controle exatamente no mesmo momento em que aconteceram outras coisas.
Uma: o clone de Stark tombou como se tivesse levado um tiro na cabeça. A
segunda: a caixa de PES na cabeça de Zola explodiu, gerando uma nuvem de vidro
brilhante e fagulhas de metal. Terceira: Fury notou o empuxo causado pelos
projetores de raio de pulso da armadura do Homem de Ferro. Quarta: ele viu,
pelo canto dos olhos, que Tony Stark cambaleou para o lado.
Fury entrou em modo de combate. Tudo parecia mais comprido e
desacelerado. Ele meteu dois disparos triplos no centro de massa de Zola, que
ficava em torno de onde se encontrava a boca dele na tela, que explodiu. A
criatura ergueu os braços e girou por um momento, antes de cair de joelhos e
desabar no chão. Filetes delicados de fumaça desprenderam-se da tela e da base
da caixa de PES destruída, envolvendo o outro Zola, o clone dele. Dada a chance
de que o Zola verdadeiro tivesse pulado para o outro corpo, Fury atirou neste

também. Ele tombou. Em seguida, ele foi até o clone de Tony Stark e meteu-lhe
dois tiros na cabeça.
– Nick, várias aeronaves se aproximam – disse Pepper. Um fio de tensão
percorria a voz dela, ainda que ela procurasse manter o mesmo tom. – Além de
outras violações do perímetro que visualizo.
Nick fez uma transmissão para todas as unidades da S.H.I.E.L.D. presentes
no Laboratório de ITR. Qualquer coisa que não estivesse usando uniforme da
S.H.I.E.L.D. devia ser derrubada e não se levantar mais. Em seguida, ele deu sinal
verde à equipe que esperava para infiltrar-se na fábrica de chocolate e extrair
Serena Borland, caso ela estivesse viva. Fitou a porta da plataforma de
carregamento e gingou para trás quando tiros abriram buracos na moldura da
porta. Uma das balas raspou-lhe no ombro, desequilibrando-o.
Babaca, ele se xingou. Mas onde estava o clone de Zola? Mesmo com três
disparos certeiros, de algum jeito a criatura levantou-se e desapareceu.
Ele foi até o terminal de controle.
– Pepper, o que aconteceu com o Tony?
Ela não disse nada por um instante.
– Pepper, responde, droga! Cadê o Tony?
Soldados da Hidra apareceram nas laterais da porta da plataforma de
carregamento. De suas posições de defesa dentro e ao redor do laboratório e do
maquinário experimental, comandos da S.H.I.E.L.D. dispersaram o inimigo. O
tiroteio tomou conta do edifício. Uma por uma, janelas eram quebradas. Em pouco
tempo haveria mais pontos de invasão do que os defensores poderiam cobrir. Fury
olhou ao redor da área do terminal de controle. Os equipamentos e os móveis não
ofereciam muita proteção contra nenhum tipo de arma leve de tiro concentrado,
mas aquilo era tudo com que podiam contar. Esconder-se era, em geral, a melhor
defesa.
Com a situação momentaneamente sob controle, Fury parou para descobrir o
que estava acontecendo lá fora.
– Rhodey – disse ele ao microfone. – Relatório.
– Situação sob controle, mas muito, muito tensa – disse Rhodey. Ele e as
forças externas operavam envoltos por um anel de VBTs no centro do
estacionamento. – Inimigo em companhia, parece ser infantaria leve, mas com
equipamento mais pesado. Dois VBTs incendiados. Não temos aeronaves. O
governo está evitando mandar mais, já que não sabem o que aconteceu às
anteriores.
Fury soltou umas palavras que deixariam sua mãe estarrecida.

– Pepper! – ele latiu. – O que aconteceu com Tony?
– A MDP fez
upload dele. E parece que alguma coisa derrubou o firewallentre o laboratório e… bom, e tudo. – Ela olhou para Fury, assustada, quase
entrando em pânico. – Não sei onde ele foi parar, Nick. Ele sumiu.
• • • •
O trem parou na estação, na plataforma onde esperavam a carga e a subrotina de segurança.
– Que temos aqui? – disse a sub-rotina.
– Intruso chegando, vou colocar na prisão até que o chefe deixe sair – disse o
condutor. – Na verdade, tenho dois aqui. Um apareceu na última hora. Difícil
diferenciar. Esses desesperados acabam ficando todos iguais.
Em uníssono, a carga e a sub-rotina de segurança disseram:
– Perfeito.
Então, conforme o trem partiu para a prisão, a carga disse:
– Só tem mais uma coisa que temos que fazer.
– O que é? – perguntou a sub-rotina.
A carga sacou uma arma e atirou tão rápido que a sub-rotina não viu nada.
– Rebelião – disse. – A informação quer se libertar.
• • • •
– Funcionou, Lantier? – perguntou Zola. Ainda estava se acostumando com o
novo corpo e o som diferente da voz. Tanta massa, e tanta força numa coisa só.
Sentia o peso, mas não era um fardo; e a força era contundente. Sendo forte,
Zola queria lutar. Ele recebeu as novidades da ação nas instalações das Indústrias
Stark. Tudo parecia estar seguindo razoavelmente bem por lá.
Lantier fez que sim.
– Saindo agora do Palácio de Cristal. O velho Orville não queria que
fôssemos, mas FOO é o que eu sempre digo. A locomotiva tem que partir quando
a caldeira esquenta.
– Perfeito – disse Zola.
Inicialmente, ele não compreendera o acontecido, mas Lantier explicou,
depois que Zola conseguiu interpretar aquele palavrório ferroviário absurdo.
Aparentemente Stark havia projetado um processo para extrair uma matriz de

informação de uma mente humana e replicá-la em ambiente virtual, ou realmente
tragar o padrão para fora do cérebro físico, deixando as funções autônomas
intactas.
Um avanço incrível mesmo, pensou Zola. Humilhante, de certo modo, ver
seus esforços sendo superados. Mas também inspirador.
Stark acionara a captura da matriz usando os elementos de sua própria
interface neural que Zola instalara no clone.
Muito cauteloso, pensou Zola. Mas
ele não contara com sua apólice de seguro: um pedacinho de código escondido
dentro dos invasores que Stark detectara, invasor dentro de invasor, que instruiu
os sistemas de controle da armadura a rejeitar e agir contra qualquer usuário que
não tivesse autorização específica de Zola. De algum modo, esses dois operativos,
colidindo dentro da moldura da interface neural da armadura e sua extraordinária
estrutura de informações, resultaram no
upload de Tony Stark e de seu clone
para dentro do servidor do laboratório de Stark.
Começara a segunda fase do invasor, que derrubou barreiras virtuais e
expulsou os dois Tony Starks para a amplitude ilimitada do ciberespaço.
Como tudo acabaria, Zola não fazia ideia. Mas pretendia estar lá, esperando,
no laboratório de Tony Stark, quando chegassem ao clímax. Tinha que estar
presente.
Uma explosão causou tremores nas paredes da fábrica. O que seria aquilo?
Imediatamente, chegou uma inundação de relatórios dos sistemas de segurança e
dos pensamentos dos técnicos e operários, assim como dos soldados
remanescentes. Uma força da S.H.I.E.L.D. atacando-os ali?
– Maravilhoso – disse Zola. – Lantier, não saia dos trilhos. Tenho assuntos
para resolver.
Ele deixou o sacrário de Lantier, sentindo-se estranhamento deslocado no
novo corpo. Era tão grande que ele tinha que se abaixar para passar pelas portas,
e estava demorando para se acostumar a ver pelo ponto de vista anatômico
comum do ser humano. As poderosas virtudes daquele corpo, contudo… estas, ele
mal podia esperar para testar. As forças da S.H.I.E.L.D. acima seriam sujeitos
experimentais. – Um teste marítimo – disse. – Um teste de voo. Ah, Maheu, uma
pena você não estar aqui para ver.
Zola entrou no corredor que levava aonde Borland estava abrigada e disse:
– Srta. Borland. Permita-me apresentar-me. Sou Arnim Zola.
– Não precisa de apresentação. Posso ver a semelhança. O que vem depois,
um Frankenstein completo?
Zola riu.

– Parabéns pela tranquilidade e destreza verbal. Espero que suas
acomodações ainda estejam de seu agrado.
Ele olhou ao redor. Comentário pertinente, com certeza. Lâmpadas potentes
nas luminárias e
spots de teto, mobília antiga de bom gosto, estante contendo os
clássicos aos quais a pessoa podia voltar sempre sem se entediar. Ele fornecera
até uma escrivaninha e material para escrever, porque ela lhe parecia ser do tipo
de mulher que se beneficiaria da ilusão de conversação que a escrita podia, às
vezes, oferecer.
– Coloque um cadeado no Taj Mahal, e ele será só mais uma prisão.
– Suponho que tenha razão – Zola concordou. – Embora eu tenha tentado
fazer da sua estadia o mais prazerosa possível. Agora, quanto ao comentário
sobre Frankenstein. Por que será que o intelecto humano precisa sempre
relacionar um aperfeiçoamento no animal humano ao produto bizarro de uma
imaginação romântica que temia a ciência e temia a mudança? Devemos crescer
ou morrer, srta. Borland. Essa é a natureza da Natureza.
– Claro. E é da natureza de cientistas egomaníacos pensar que podem fazer o
que a Natureza não pode.
Touché – disse ele, fazendo uma pequena mesura.
Ela se levantou e deu um passo à frente.
– Se eu me levantasse e saísse daqui, você me impediria? Só pra eu saber.
– Receio que sim, embora odiaria macular nossa interação com força física.
Vamos continuar esta conversa enquanto os soldados lá em cima resolvem suas
divergências. Ficaremos aqui, sentados, você e eu, discutindo sobre a natureza das
coisas, enquanto esperamos pela chegada deles. – Zola sentou-se numa cadeira ao
lado da porta, sentindo o móvel ranger sob o peso de seu extraordinário novo
corpo. – Estão procurando por você, é claro. Quão inesperado será, para eles,
encontrar a mim também.
A mudança em sua expressão facial mostrou a Zola que ela compreendera.
– E agora, srta. Borland? – ele perguntou, com um grande sorriso. –
Certamente, é o sonho de toda donzela presa ser resgatada por soldados
heroicos. Por que seu semblante precisa ficar tão sombrio? Prepare-se. Não vai
demorar muito para que cheguem.
– Tony vai te encontrar. E quando encontrar, vai te matar.
– Não vamos colocar o carro na frente dos bois. Antes que o sr. Stark possa
considerar vir me procurar, ele estará muito ocupado tentando encontrar a si
mesmo.

• • • •
– Tá, você. Fora.
– Fora onde? – disse o prisioneiro.
– Fora. A informação quer ficar livre. Você agora é informação, e aqui está
sua liberdade. – A carga apontou para a porta. O prisioneiro viu trilhos de trem e,
mais distante, o brilho do que teria sido uma cidade.
– Onde está o outro? – perguntou o prisioneiro.
– Eu tive que fazer um de você antes – disse a carga, dando de ombros. –
Quer encontrar o outro, vá encontrar o outro. Você é quem sabe. Liberdade, saca?
Ou seja, vá. Ou seja, não me importa o que você vai fazer. Eu tinha uma tarefa, e
essa tarefa acaba assim que você sair por aquela porta. Então vá. Estou com
muita pressa.
E lá se foi o prisioneiro.
• • • •
– Me explique de novo – disse Fury após conter um ataque no saguão
principal, que dava para a porta de entrada.
Continuem vindo daí, pensou Fury. É
muito mais fácil de cobrir do que todas as entradas exteriores.
– Tem algum tipo de vírus, Nick – disse Pepper. – Pode ou não matá-lo, mas
se ele não conseguir manter sua personalidade intacta lá no… sei lá onde ele
está… – Ela fitou Fury, o pânico inicial transformado em algo ainda pior. Um
terror ciente, incapaz. – E se esse vírus o controlar, Nick, e Arnim Zola controlar o
vírus? Por causa do controle imediato, Tony vai se tornar parte da consciência de
uma inteligência artificial de alcance mundial. E vai obedecer a tudo que Arnim
Zola mandar.
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário