HOMEM DE FERRO : VÍRUS
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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOInterruptor de sinal de amplo espectro.DESCRIÇÃOSistema de anticomunicação integrado com satélite e sistema de comando-e-controle para
campo de batalha. Direciona e quebra, com inteligência, frequências determinadas como
originadas de fonte inimiga direcionando disparos de ruído na fonte das comunicações
cuja interrupção é desejada, em vez de transmitir uma potência mais alta de ruído pelos
canais usados pelos elementos hostis. Ignora transmissões, mesmo as que se encontram nas
mesmas frequências, que carregam criptografia de fontes aliadas ou que relatam origem
aliada.ARGUMENTOTecnologias existentes para obstruir comunicações são, em geral, facas de dois gumes
devido à falta de seletividade. Tecnologias de obstrução baseadas em frequência vazam para
frequências próximas, geralmente comprometendo comunicações aliadas, levando quase a
zero o benefício dos procedimentos de obstrução. O Interruptor de Sinal de Amplo Espectro
(ISAE) das Indústrias Stark é uma tecnologia de obstrução pontual capaz de executar
interrupção de transmissão estreitamente focalizada com mínimo vazamento de frequência e
alta seletividade de alvo. Integrada à armadura corporal pessoal das Indústrias Stark, o ISAE
transforma cada soldado num interruptor de comunicações em campo de batalha, ampliando
muito a dificuldade no coordenar tático do inimigo.STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado] ao decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A
tecnologia é propriedade das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas
as entidades elegíveis. A tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo
de sigilo.Eram duas da manhã, e Nick Fury já não era tão jovem quanto antes. Bocejava.
– Vá tirar uma soneca, Nick – disse Pepper. – Não tem por que estragar seu
sono de beleza.
Tudo estivera calmo durante os dez minutos anteriores. Fury imaginou as
forças da Hidra compartilhando pentes de balas, tomando um copo de água,
coordenando os passos seguintes com seja lá qual fosse sua estrutura de comando.
Onde estaria Zola? Estava lá fora, devia estar a caminho.
– Nada pode me deixar mais lindo do que já sou, srta. Potts – ele retrucou.
– Eles devem ter descoberto a uma hora dessas.
– O quê?
– Que, se destruírem esse terminal, podem impedir que Tony volte.
Pepper falou baixo, mas Fury havia liderado homens e mulheres tempo
suficiente para detectar a tensão que a dominava naquele momento.
– Talvez não. Eles estão é contentes, nos mantendo aqui presos enquanto
Zola volta com seu novo corpo.
– Por que a S.H.I.E.L.D. não deixa você convocar apoio aéreo? Sabe que ele
não está aqui, todos nós sabemos disso. Três helicópteros resolveriam tudo de
uma vez.
Fury encontrou um charuto no bolso da camisa. Tateou os bolsos à procura do
isqueiro, mas não encontrou.
– Depois teríamos que caçar Zola de novo. Não é a primeira vez que sirvo de
isca. Talvez seja a sua. Não é legal, mas às vezes é o que dá mais certo.
– Tony é a isca. É isso que vai trazer Zola de volta pra cá. Ele não dá a
mínima pro resto.
A tela em frente a Pepper acendeu, e ela deu um pulo. Clicou num ícone que
piscava e fitou a tela por um bom tempo.
– Happy saiu do hospital. O médico acha que ele está vindo pra cá.
Ambos sabiam que, se Happy estava a caminho, chegaria pelo ar, e ambos
lembravam-se do som dos helicópteros explodindo no chão por volta da meianoite.
– Consegue entrar em contato com ele? – perguntou Fury.
Ela já estava com o celular na mão. Enquanto digitava o número, Fury ouviu
um carro dar partida no estacionamento. Com um gesto, mandou o soldado mais
próximo de uma das janelas dos fundos espiar lá fora e ver o que estava
acontecendo. Com a ajuda de um espelho, o soldado obedeceu, e disse:
– O-oh. Parece que…
O motor do carro roncou muito alto, e poucos segundos depois uma picape
Ford invadiu a plataforma de carregamento, colidindo com o batente de uma das
portas. A porta cedeu das dobradiças, e a picape ficou ali parada enquanto Fury e
todos que podiam atiraram e detonaram o motorista bem na entrada. Fumaça
desprendeu-se do capô arruinado da picape, e fluidos pingaram do motor.
– Vai feder aqui dentro, e rápido, se essa coisa pegar fogo – Fury murmurou.
Três canos de rifles apareceram sobre a beirada da caçamba da picape.
Enquanto os agentes da S.H.I.E.L.D. ajustavam seu foco, o inimigo cobriu com
tiros o andar de testes. O tiroteio às cegas explodiu diversos equipamentos. Nos
fundos da sala, as armaduras gastas, antigas, do Homem de Ferro balançaram em
suas molduras conforme ricochetearam balas que as atingiram. Dois comandos
aproximaram-se do terminal de controle para atirar melhor. Eles deitaram de
bruços e detonaram a caçamba da picape. Sobre o barulho do tiroteio, ouviu-se o
baque da porta da caçamba abrindo-se com tudo. Os tiros cessaram. A
caminhonete ficou ali parada sobre os pneus murchos, vazando e soltando
fumaça… Uma trilha de fluido corria por debaixo da caçamba. Fury começou a
sentir o cheiro do gás.Acho que sei o que vem agora, pensou ele.
E estava certo. Entrando em cena, pelo canto da porta, entre os pneus
murchos da picape, chegou um pequeno cilindro de metal. Três, dois, um…
– Abaixem! – Fury gritou. Ele baixou a cabeça quando o projétil incendiário
explodiu, explodindo com ele o tanque de gás.
• • • •
– Antes de os soldados da S.H.I.E.L.D. me matarem e eu vir parar aqui de vez
– Lantier disse, inesperadamente –, sempre pensei que ficaria sempre olhando pra
cá lá de fora. Zola jamais me deixaria ficar preso aqui. Eu vinha aqui visitar, claro,
mas ele me trazia pra fora. Eu era útil pra ele. Maheu, o outro clone, aquele
azedo. Ele nunca gostou de mim. Acho que logo ele ia me matar.
– Soldados da S.H.I.E.L.D., é? – Tony induziu.
– Estavam atirando pra todo canto à procura da mulher – disse Lantier. O
trem começou a desacelerar. Tony observava, inclinado para fora da janela,
vendo os trilhos aparecerem conforme o trem se avançava sobre eles. Surgiu uma
bifurcação, e o trem parou exatamente nela.
– Conseguiram tirar a mulher de lá? – ele perguntou.
– Ela vai sair, mas não exatamente por causa deles – disse o condutor.
– Mas ela vai sair.
– Sim. Depois um dos agentes da S.H.I.E.L.D. vai detonar o prédio. Boa
viagem. Odiava aquele lugar. – Um titânico sibilo de vapor escapou da caldeira
quando a locomotiva parou. – Talvez eu não esteja contando a história
exatamente do jeito que vai acontecer, mas a essência é essa.
Serena estava viva, e a fábrica de chocolate já era. Tony achou tudo muito
bom, mas Lantier não mencionara Zola. Ele resolveu perguntar, mas o condutor já
estava bem distante dele.
– Acho que Zola não está mais interessado na sua amiga, a moça. Sugeri que
nos livrássemos dela dias atrás, mas ele achou que ela seria uma boa carta pra
jogar. Do jeito que as coisas se deram, talvez ele tivesse razão. Ele costuma ter.
– Então, onde está ele agora?
Lantier pensou um pouco antes de responder. Ocorreu a Tony que a
aparência de Lantier pensando devia representar os pedaços de código que
compunham o Lantier virtual percorrendo o incrível emaranhado de informações
disponíveis e procurando um modo de organizar tudo.Controle imediato, pensou
ele. Devia haver muito para ele aprender ali – se pudesse livrar-se do Tony
Virtual e encontrar um jeito de voltar à Quarta-D a tempo de impedir que Zola
executasse a fase final de seu plano.
– Se eu não estiver enganado – disse Lantier –, ele está a caminho do seu
laboratório. Acho que as coisas estão muito perto de acontecer por lá. A pressão
aumentou.
Tony saltou para fora da cabine e desceu para a plataforma.
– Agradeço pela carona – disse.
– Agradeço pela chance de cortar a brisa – disse Lantier.
Ele teria dito mais, e Tony também, mas as coisas não funcionariam desse
jeito. Um Tony funcionário da estação não visto ainda girou a locomotiva para
que ela pudesse voltar sobre os trilhos para onde quer que Lantier escolhesse ir
depois.
Então aquela era a cidade no centro do mundo virtual. Tony passou por
magos duelando nos topos de torres feitas de ossos de dragão, e gangues de
híbridos de humanos e animais pós-adolescentes que lembrava uma mistura de
Teletubbies com personagens de A ilha do doutor Moreau. Ouviu dizer que os
planos de Diablo estavam prestes a ocorrer, e que a morte de Evan Chan
significava que ia acontecer alguma coisa com o plâncton senciente que cobria os
oceanos do mundo. Passou por um estádio no qual foi seduzido a assistir um jogo
de beisebol entre jogadores mortos e projeções dos heróis do momento – todos
nus. Recebeu propostas de quase toda pessoa com que cruzava, e decidiu, após a
sexta, que responderia a cada uma com uma simples pergunta: onde está o Tony
Virtual?
– Oh – disse um texugo de olhos brilhantes que usava cota de malha e
portava uma lança numa das mãos e uma foto de Britney Spears na outra. – Tony
Virtual? Sim. Ele… – O texugo apontou com a lança na direção do centro da
cidade. – Em algum lugar por ali.
Seguindo a ponta da lança, Tony encontrou um fluxo de dados que percorria a
cidade. Fez sentido. Embora fantástico, o mundo criado pelos avatares, em certo
sentido, tinha de refletir o entendimento das pessoas reais da Quarta-D que
criaram avatares. Então talvez fluxos de dados levassem a linhas principais de
banda, a antiga espinha dorsal, nó após nó, que compunha a primeira versão da
internet.
Ele teve a impressão de que seguindo o fluxo acabaria chegando a uma
espécie de centro, e que o Tony Virtual estaria lá, porque onde mais haveria de
ocorrer o desfecho senão num tipo de centro de um espaço virtual no qual
ninguém usava suas verdadeiras faces? Era essa a lógica que funcionava Lá
Dentro. Tony fechou os olhos e resolveu que arriscar. Estava colocando diversas
vidas num jogo de dados, mas sabia que na Quarta-D o tempo estava passando e
Zola já devia ter outro corpo, e as coisas no Laboratório de ITR estavam
piorando, se é que já não estavam terríveis. Pepper estava lá, e Rhodey. E até
Fury, que Tony passara vinte anos tentando não gostar e mesmo assim não
conseguia.
– MDP. Tony Stark. Começar extração em dez minutos, hora da Quarta-D.
Sobre as ondas do rio de dados, um pescador corcunda disse:
– Dez minutos. Melhor estar pronto.
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