HOMEM DE FERRO : VÍRUS
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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOReservatório cinético.DESCRIÇÃOUma bateria de energia cinética carregada pela transmissão de potência através dos
conversores de força em nanoescala (ou CFNs; ver petição de patente [editado] das Indústrias
Stark). O reservatório cinético consiste numa matriz eletromagnética na qual bilhões de
nanocontas de tungstênio podem ressoar numa frequência controlada. A força convertida
pelos CFNs cria agitação adicional nessas nanocontas que circula pela matriz
eletromagnética até que o usuário resolva liberar.ARGUMENTOAo contrário dos reservatórios de energia que captam energia elétrica ou calor para conversão
posterior em energia cinética, o reservatório cinético mantém a energia presa em seu estado
cinético, eliminando as ineficiências causadas quando a energia é passada de um estado a
outro (i.e., na combustão interna, turbinas a vapor, armas de fogo de cartucho tradicionais).
Quase 100% da energia colhida e canalizada para dentro do reservatório cinético pode ser
reempregado como energia cinética sem mecanismo intermediário.STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sem qualquer assistência ou cooperação das agências do governo dos
Estados Unidos. Nenhuma restrição de segurança se aplica.Fury achou incrível como um automóvel podia queimar por tanto tempo,
considerando a pouca quantidade de coisas inflamáveis que pareciam haver nele.
A picape ainda ardia, e a explosão inicial botara fogo em móveis e objetos ao
redor da plataforma de carregamento. A porta também entrou em combustão, e o
cheiro da fumaça que desprendia do plástico estava prestes a prejudicar o
general. Seu nariz ardia e ele sentia a pior dor de cabeça que já tivera na vida.
Estava perdendo anos de vida por respirar seja lá o que fosse. Sem dúvida, não
parecia ser oxigênio. O sistema anti-incêndio do laboratório fora acionado, o que
diminuía um pouco a fumaça, mas o efeito inicial foi deixar todo mundo na área
de testes encharcado até os ossos.
O problema mais sério era que toda aquela água também estava molhando o
terminal de controle, e em pouco tempo alguma peça importante podia entrar em
curto. Se isso acontecesse, Tony Stark ia se tornar um residente permanente do
ciberespaço, e a guerra entre S.H.I.E.L.D. e Hidra passaria para todo um novo
campo de batalha no qual Arnim Zola teria a dianteira.
Pepper já havia construído tendas improvisadas sobre a torre do servidor e a
interface principal de controle, usando lousas de uma sala de reuniões próxima ao
laboratório e, por falta de opção, filme plástico que achou na cozinha. A ideia
jamais teria ocorrido a Fury. Não pela primeira vez, ele pensou que era sempre
má ideia entrar numa batalha sem ter uma mulher por perto.
– Fale comigo, Pep – disse ele. – Os sistemas estão segurando a onda.
– Ah, meu Deus – ela disse. Fury sentiu um frio na barriga.
– O quê? – Sua mente trocou de marcha, já formando planos de como
conduzir a batalha contra a Hidra caso Zola pudesse usar uma versão de Tony
Stark engendrada com inteligência artificial como sabotador virtual.
– Tony acionou o protocolo de extração! – Pepper gritou.
Fury sentiu outro frio na barriga.
– E conseguiu?
Não dava para acreditar.
– Está começando. Dez minutos. Menos, agora.
Dez minutos. Se os terminais e servidores continuassem secos, e a Hidra não
invadisse o laboratório, e eles todos não morressem asfixiados devido ao
caminhão em chamas.
– Bem – disse Fury –, espero que ele não apareça aqui e nos encontre todos
mortos.
• • • •
Hailey contou até cem, ou quase, até não se lembrar mais de quantas vezes
recomeçara a contagem. Não sentia as pernas, e não sentia um dos braços, e
havia alguém deitado sobre o outro, que estava retorcido, embaixo das costas
dela. Sempre que começava a contar, tentava puxar um pouco mais o braço que
estava preso. O veneno ardia dentro dela, em todo o corpo. As lágrimas ardiam
nos olhos.
Estava morrendo. As mulheres de verde e o gigante que disse ser Zola os
atropelaram como se eles nem estivessem ali. Os cinco nem tiveram chance, mal
conseguiram conter o avanço do inimigo. Um tiro de muita sorte arrancara os
miolos de uma das mulheres, mas foi a única marca que deixaram. A mulher morta
jazia a alguns metros de Hailey. Via-se o início de um ferimento, um buraquinho
preto, acima do olho esquerdo. Os cabelos muito negros espalhados escondiam o
restante da bagunça. Hailey tinha cabelo ruivo, que certa vez tingira de preto.
Depois entrou para a Marinha, depois para a S.H.I.E.L.D., e nunca mais tingira os
cabelos.Minha vida está passando em frente aos meus olhos, pensou ela. Soube que
estava morrendo desde que o gigante e as sete mulheres de verde desapareceram
do corredor. Um pedaço de conversa voltou-lhe à mente, e Hailey percebeu que o
gigante – Zola, embora não se parecesse com o Zola que ela viu nas instruções da
missão; ele levara a sério a troca de corpos – e as mulheres de verde estavam
esperando por eles, sabendo que acabariam encontrando o quarto onde estava a
mulher.
Serena Borland.
Depois que Zola falara com ela e saíra, as coisas ficaram quietas por tempo
suficiente para que Hailey Donner começasse a pensar que já havia morrido e
estava apenas se acostumando à ideia. Só que a dor não havia passado, e se a dor
não passasse após a morte, então seria o fim da única coisa que tornava a ideia
aceitável.
Então Serena Borland passou por Hailey. Quis dizer algo, mas a moça
chorava, então o que dizer numa situação como essa, mesmo se houvesse forças
para falar? Hailey ficou ali, ouvindo os passos de Borland cada vez mais fracos.
Ouviu, distante, o elevador.
Finalmente, ela compreendeu o que teria dito a Serena Borland.Ajude-me a pegar meu detonador.
Hailey contou até cem, ou o mais perto disso que conseguiu. Alcance de
atenção era uma das primeiras coisas que o veneno comprometia. Começou a
contar de novo. E de novo. Logo se convenceu de que Borland já devia estar fora
do prédio, e passou a esforçar-se para tirar o braço de debaixo do peso que o
mantinha preso atrás das costas. Demorou muito para Hailey compreender que se
tratava do peso de seu próprio corpo. Ela se balançou para a frente e para trás,
valendo-se dos músculos fortes que o veneno ainda não havia matado, e lá pelo
que talvez fosse a centésima vez que tentara contar até cem, conseguiu liberar o
braço. Estava quase dormente, tanto devido ao veneno quanto pelo jeito com que
ela deitara em cima dele, mas ela não descansaria enquanto não completasse a
última parte da missão. A moça, Borland, já havia saído; nada no prédio deveria
mais continuar em pé, operante.
O detonador era um interruptor simples que precisava de uma fórmula
complicada para ser ativado. A fórmula era composta de nove coisas ou ideias
importantes para Hailey Donner. Tinham que ser ditas ao detonador em ordem
correta após sua ativação. Ela sacudiu o braço dormente à frente e meteu o
detonador embaixo, para mantê-lo firme, depois apertou o interruptor até que a
luz amarela acendeu. Essa era a deixa.
Ela teria apenas uma chance. Sua visão periférica já não funcionava mais, ela
estava fria, ouvia estranhos ruídos agudos que coincidiam com listras coloridas
que via no fim do corredor.
– Honra – ela disse. – Espaço. Futebol. Rosa. Mergulho. Beagles. Homens.
Glacê.
Seu diafragma estava ficando pesado. Concentrando-se totalmente, a major
Hailey Donner, no momento final de sua vida, manteve foco suficiente para
dizer:
– Bum!
• • • •
Rhodey recebeu a notícia do protocolo de extração assim que a busca que
estava fazendo na vigilância do perímetro do Laboratório de ITR captou um
grupo grande de agentes da Hidra recuando para os limites da propriedade, perto
de onde a cerca dava na margem serpenteante do rio. Ainda havia muitos deles
nos arredores, atrás de carros e barreiras de segurança que Tony colocara atrás
da cerca que partia da via de acesso à rodovia de Long Island. Ninguém saía do
lugar. Então que teria ido fazer esse grupo de Happy Hogans lá no canto?
– General. Movimento na direção do perímetro?
– Sobre o perímetro? – Fury respondeu.
– Não, senhor. Na direção do perímetro. Um grupo de dez, mais ou menos.
Parece que estão aprontando alguma coisa lá.
– Aposto que Zola está a caminho. Fique alerta, Rhodey. Os próximos dez
minutos não serão tranquilos.Ótimo, pensou Rhodey. Se havia algo que ele odiava era um beco sem saída,
e se encontram dentro perante um. A Hidra não conseguia entrar de uma vez,
mas a S.H.I.E.L.D. não conseguia mandá-los embora. Rhodey detinha controle
total da entrada principal do Laboratório de ITR, e boa zona de tiro ao longo de
todas as paredes exteriores, a não ser a dos fundos, atrás da área de testes. O
general Fury estava encurralado ali. A Hidra tinha mão de obra suficiente para
um ataque maciço contra a defesa da S.H.I.E.L.D., mas não em quantidade muito
boa – e, pensou Rhodey com certo orgulho, a qualidade dos soldados deles não era
muito boa – para que tal ataque tivesse grande chance de sucesso. Se pudessem
segurar as pontas até que Tony voltasse de onde diabos estava, ia dar tudo certo.
Uma rodada de tiros de rifle atingiu o VTB em que Rhodey estava encostado.
Ele sentiu o impacto através do pneu às suas costas. Dez minutos. Agora, nove.
Ele conferiu a lista que todo agente conferia quando tinha um intervalo em meio
à batalha. Forças distribuídas corretamente? Certo. Linhas de comunicação
intatas? Certo. Ordens de batalha claras? Certo.
– Recarreguem as armas e fiquem atentos, rapazes – ele disse ao
comunicador. – Estamos na reta final.
• • • •
Uma das coisas favoritas de Zola em seu novo corpo era poder voar. Não num
veículo nem num treco exoesquelético como as armaduras de Tony Stark. Ele
colocou a habilidade de voar dentro de seu corpo. Era uma máquina biológica,
aperfeiçoada com aplicativos mecânicos nos quais a evolução ainda não realizara
o que a mente humana podia imaginar. Ele podia voar. As Oito– correção, pensou
ele, irritado,Sete – Madames voavam atrás no helicóptero invisível que ele
mantivera inicialmente na cobertura da fábrica como veículo de fuga emergencial.
A aeronave levava sua nova e bela tropa de choque para o confronto decisivo com
as forças da S.H.I.E.L.D., que não faziam ideia do que lhes aguardava. Era linda a
sensação de ter o elemento da surpresa ao seu lado. Zola estava acostumado a
saber coisas que as outras pessoas não sabiam nem podiam saber, mas o elemento
de surpresa estava além disso; era saber algo e também antever o realizar desse
saber, a transformação cinética de conhecimento em poder. Era entorpecente,
esse antever.
O Laboratório de ITR estava a um quilômetro de distância. Zola desceu à
altitude de quarenta metros, e o helicóptero atrás dele o acompanhou. A essa
altura, os radares teriam dificuldade de captá-los entre o ruído da cidade. Ele
brecou e começou a descer. Comigo, Madames, disse ele. Pousem no
estacionamento em frente ao lago, reúnam-se onde eu pousar.
Ele acabava de sentir que elas assentiam quando uma pequena explosão
detonou o motor do helicóptero e as Sete Madames percorreram os duzentos
metros finais de sua descida girando loucamente. Zola virou-se para o barulho e
viu a aeronave colidir contra um bosque e desintegrar contra o acabamento de
cimento de uma ponte. As mentes das Sete Madames gritaram, furiosas, com
medo, e então foram abafadas.
A raiva de Zola explodiu com tamanho poder titânico que, por um instante,
ele só conseguiu pensar em matar. Forçou-se a pousar, pés no chão, um ser
terrestre em corpo, senão em mente. Ampliando sua consciência, ele demandou
que as Sete Madames respondessem! Um crepitar de sensiência quase morta
poluiu sua mente e causou-lhe enjoo no estômago. Respondam!, ele rugiu, e sentiu
a onda, em resposta, de confusão e medo vinda dos clones de Happy Hogan que
esperavam por sua chegada perto da cerca em torno do Laboratório de ITR. Isso
clareou seus pensamentos. Ele era Zola. Era um homem de inteligência e controle.
Acalmou os Hogans e procurou novamente por sinais de vida nos escombros do
helicóptero.
Duas sobreviveram. Duas Madames. Ele as alcançou e trouxe de volta à
consciência, retirando-as do choque físico que abobalhava suas mentes. Comigo,
disse. Comigo. Vamos prevalecer.
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