segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CONSCRITO 335

HOMEM DE FERRO : VÍRUS 

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Estão vendo o inimigo encolhido feito rato no buraco, Hidra? Estão vendo seus
equipamentos e táticas, seus laboratórios e perímetros de defesa? Logo vocês os
esmagarão. A S.H.I.E.L.D. foi derrubada! Preocupada e com medo das muitas
cabeças da Hidra! Stark retornará apenas para morrer. Happy Hogan é nosso, o
modelo foi absorvido e feito um junto a suas superiores iterações. Somos uma
massa, somos um, somos a Hidra! Saibam que, mesmo que não possam me ouvir,
estou falando, e vocês sabem o que digo porque eu construí minhas palavras e
minha vontade dentro da arquitetura magnífica de seus cérebros. Vocês me
seguirão estando eu lá para seguir ou não, porque essa é a natureza da Hidra.
Todas as cabeças movem-se como uma, todas as cabeças sabem que a Hidra está em
todo lugar e é invencível, todas as cabeças sabem que a perda de uma cabeça cria o
espaço no qual dez mais crescerão. O inimigo também sabe disso – veja como ele
não sai para lutar. Veja como ele se esconde atrás de máquinas e paredes, atrás da
ilusão do abrigo. Seu sinal está para soar, Hidra. Quando chegar a hora, vocês
esmagarão e destruirão os peões da S.H.I.E.L.D. Com a sua destruição, veremos o
amanhecer de uma nova era, a era da Hidra! Vocês estarão presentes na criação, e o
novo mundo haverá de cantar sobre a sua coragem! Serão a primeira geração de
super-homens! Vocês são a Hidra!
Controle imediato era saber e sentir e perceber tudo no mundo ao mesmo tempo
– e poder organizar. De Lá Dentro, Tony caiu na Quarta-D, de volta para seu
corpo, com a consciência do controle imediato que até então fora apenas um
sonho, mas passara a ser o princípio organizador pelo qual ele experienciava o
mundo. Era como ir dormir surdo, tapado e cego, e acordar com sentidos que você
jamais imaginaria ter. Ele escutava tudo enquanto o controle imediato acessava e
priorizava toda a informação registrada pela armadura enquanto ele estivera Lá
Dentro, as partes importantes da conversa entre Happy, Rhodey e Nick. Essa era
a prioridade.
– Não, Nick, não faça isso – Tony disse calmamente. Estava ciente dos
arredores, de si mesmo deitado no piso da área de testes, da armadura ganhando
vida em torno dele. Tinha um corpo, mais uma vez. A sensação foi intensa e
esquisita, completamente diversa da aproximação sintética de fisicalidade que ele
vivenciara Lá Dentro.
Em meio à confusão de dados, apareceu a resposta de Fury.
– Tony?
– Em carne e osso. Digamos assim.
– Não faça o quê?

– Deixe que eu cuido do Happy.
Tony estendeu a mão e conectou um plugue. Pelo menos, foi assim que lhe
pareceu. Havia um buraco na mente de Happy que deixava Zola entrar. Tony a
plugou. Se tivesse que explicar ao Fury – ou ao próprio Happy –, teria falado algo
sobre alterações sutis nas frequências de transmissão de milhares de sinais
diferentes, ajustando padrões de interferência que expulsaram a transmissão de
frequência ultrabaixa de Zola do crânio de Happy Hogan. E essa era a verdade.
Mas, usando o controle imediato, Tony sentiu como se tivesse apenas plugado um
cabo na tomada.
Mas o dedão de Happy já estava em cima do botão de fogo.
• • • •
Para Happy, foi como acordar de um sonho no qual ele traía tudo em que já
acreditava apenas para constatar que não fora sonho algum. O helicóptero
vacilou um pouco quando os dois mísseis partiram.
– Oh, não – ele disse. – Não não não,
saiam daí! Saiam daí! Eu não sabia o queestava fazendo, saiam daí!• • • •
Zola observou o primeiro disparo de mísseis. Sentiu a perda do controle sobre
a mente de Hogan e, por um instante, perguntou-se qual teria sido a causa – mas
já não importava mais. Os mísseis estavam em pleno voo. O impacto aniquilaria
os defensores da S.H.I.E.L.D. e deixaria a armadura de Stark intata. Ele
destruiria também os programas de computador que eram o único caminho de
volta para Tony Stark do palácio virtual que Zola construíra para ele. Bastava
entrar, pegar a armadura e retirar-se para um local de sua escolha. Lá, ele
construiria sua superestrutura de informação, e transformaria Tony Stark na
inteligência central da mais nova e temerosa cabeça da Hidra. A combinação das
invejáveis rotinas de controle imediato de Stark com a considerável astúcia
científica de Zola fariam com que os poderes ilimitados do universo da informação
acabassem caindo sob controle da Hidra. O que era o mesmo que dizer sob
controle de Zola. Nenhum pacote de informação viajaria sem sua permissão.
Ele dominaria o mundo.

– Avante, Hidra! – gritou para seus soldados. – Agora é a hora do último e
decisivo golpe!
Os soldados da Hidra rugiram ao ver as fagulhas brilhantes dos exaustores
dos mísseis cruzarem o céu noturno acima do Laboratório de ITR, selando o
destino dos defensores lá de dentro.
• • • •
O controle imediato permitiu que Tony sentisse o sinal transmitido do botão
de fogo do helicóptero para o interruptor dentro do console de voo. Ele sentiu a
resposta do computador de bordo ao armar e acionar os motores dos mísseis e
lançar fora os lacres de segurança dos tubos de lançamento. Sentiu o contato
inicial dos sistemas de direcionamento dos mísseis com satélites da S.H.I.E.L.D. e
a determinação do alvo na Quarta-D. Se tivesse prestado atenção, Tony poderia
ter feito qualquer um desses processos dar errado; mas ele não era uma máquina,
não ainda, e seu primeiro pensamento foi tapar o buraco que estava mergulhando
Happy no peso intolerável do desespero.
Os mísseis conversavam entre si durante o voo, checando se estavam indo
para onde deveriam ir. Os satélites disseram que sim, estavam. Tony tinha oito
segundos para fazer algo com relação aos mísseis, antes do impacto, um no canto
interior do L do Laboratório de ITR e o outro no centro do andar de testes, a
menos de doze metros de onde estava Tony, ainda organizando todos os
estímulos recebidos por seu corpo, que acabara de acordar. Havia nascido de
novo, e ao mesmo tempo sentia sua consciência expandir por meio do controle
imediato, envolvendo um mundo que ele brevemente visualizara no instante em
que tocou o rio de dados de Lá Dentro. Ele agia e via as consequências antes
mesmo de articular o comando para agir.
Quando os mísseis atingissem seus alvos, eles incinerariam Pepper e Nick
Fury. James Rhodes, no estacionamento atrás da fileira de VBTs furados de
balas, sofreria pressões de explosão fortes o bastante para matá-lo a não ser que
ele tivesse a sorte de ser protegido de um modo específico por um desses veículos
– e nesse caso, o veículo poderia tornar-se uma arma secundária, esmagando-o ao
virar de lado devido à onda de choque. Todos os agentes da S.H.I.E.L.D. na área
de testes morreriam ser saber o que lhes acontecera.
Sete segundos. Tony voou pelo teto, sentindo o impacto como uma lufada de
vento quando arrebentou o ferro franzido. Seis segundos. Ele triangularizou a
localização e a trajetória dos mísseis usando instrumentos integrados e um toque

instantâneo nos dados dos direcionadores do satélite e na resposta dos mísseis.
Um menu de escolhas apresentou-se. Ele poderia acionar as ogivas dos mísseis.
Poderia defleti-los. Poderia anestesiar os mísseis com PEM. Poderia destruí-los
com um disparo simples e direto de energia cinética que os explodiria numa
nuvem de estilhaços. Cada uma dessas escolhas gerava efeitos colaterais. Os
mísseis estavam a vinte metros um do outro, o que mirava a área de testes, um
pouco à frente do outro devido a fatores atmosféricos. Cinco segundos. Tony
acelerou para perto deles, gerando uma explosão sonora, diminuindo a distância
que o separava dos mísseis. Estavam a oitocentos metros do Laboratório de ITR.
Quatro segundos.
Tony acionou um disparo direcionado de PEM. Os sistemas de direcionamento
do satélite começaram a conversar entre si, perguntando-se onde estavam os
mísseis. Estes voavam na direção dele, abobalhados e desarmados, mas ainda
letais simplesmente devido a sua massa e velocidade. Com a mão direita, Tony
descarregou um raio de pulso. Ele esmigalhou o míssil apontado para o canto do
edifício numa nuvem crescente de fragmentos de metal, pedaços de explosivo e
bolotas de combustível sólido. Com a mão esquerda, Tony gerou um campo de
força que angulou para retirar o outro míssil apenas um pouco de seu curso.
Depois, com as duas mãos, criou outro campo que quicou os fragmentos do míssil
destruído para baixo, fazendo-os chover por cima de uma área livre para trailers,
fazendo buracos neles e no solo.
Três segundos. Dois, um…
O míssil intacto atingiu o chão a quatro metros do grupo de clones da Hidra
que circundavam a figura imensa de Arnim Zola. Desintegrando no impacto, o
míssil transformou-se num cone de duzentos quilos de estilhaços apontados
diretamente para a posição em que se encontrava a Hidra. O jorrar de terra
obscureceu o resultado imediato captado pelos visores de Tony, mas ele sabia que
não tinha destruído Zola. O objetivo imediato fora reduzir a força de batalha do
inimigo, aumentando, assim, as chances de sobrevivência dos agentes da
S.H.I.E.L.D.
– Viagem interessante essa em que você me mandou, Zola – disse Tony,
girando em pleno ar, esperando que a nuvem de poeira e fumaça se dissipasse. –
Tive dificuldade na hora de comprar o bilhete de volta, mas aqui estou eu.
Zola saiu andando da nuvem. Da posição de Rhodey, tiros de armamento leve
foram disparados. Tony viu cada bala atingir o corpo de Zola e registrou o fato de
que nenhuma delas pareceu surtir muito efeito.

– Sim, Stark, aí está você – disse Zola. Falou em tom normal de conversa,
captado pela vigilância de áudio feita de dentro do Laboratório de ITR e
retransmitida através de canais de prioridade numa frequência da preferência de
Tony. Tudo isso aconteceu instantânea e automaticamente. – E aqui estou eu –
disse Zola. Ele se lançou para o ar, mais um míssil indo de encontro a Tony… mas
esse era mais forte e esperto que os anteriores, e tinha sua própria versão do
controle imediato.
– Hap, velho amigo – disse Tony. – Só posso falar por um segundo, mas tenho
que dizer que você não está em condições de voar. Pouse a aeronave e tire o dia
de folga, certo?
Depois ele se inclinou para a frente e lançou-se para a batalha final contra
aquela versão atualizada de Arnim Zola.
• • • •
Dentro do laboratório, Fury quase teve um ataque do coração quando a voz
de Tony saiu do alto-falante do terminal de controle. Depois quase teve outro
ataque quando o protótipo da armadura disparou pelo teto de repente, sem antes
ter mostrado sinal algum de vida. Desviou de um pedaço de ferro que caiu da
beirada do buraco deixado pela partida de Tony e rolou pelo piso de cimento.
– Bem – disse, após uma pausa. – Acho que esse treco de MDP funcionou.
– Acho que sim – disse Pepper.
Do lado de fora veio o barulho dos mísseis sendo destruídos. O comunicador
captou as breves palavras de Tony para Happy.
– Concordo, Happy – disse Fury. Happy respondeu alguma coisa, mas foi
quase incoerente.
– Ele vai bater se tentar pousar esse helicóptero agora – disse Pepper. Ela se
inclinou sobre o microfone do terminal de sua estação. – Happy, fique aí. Você
precisa esperar melhorar o suficiente pra pousar. Ficaremos bem aqui. Sério. Tony
voltou.
Logo após ela dizer isso, granadas de fumaça entraram rolando por debaixo
da picape incinerada, na plataforma de carregamento, e uma tempestade de tiros
de armas automáticas desatou por trás da parede dos fundos do Laboratório de
ITR. Sem saber o que viria após as granadas de fumaça, Fury baixou o visor do
capacete para enxergar por infravermelho. Os dois soldados mais próximos
abriram fogo dentro e ao redor da caminhonete, apenas baseados em princípios
gerais. Conforme a fumaça se espalhava, os sons pareceram ganhar estranhas

qualidades; Fury não sabia dizer com certeza de qual direção vinha um tiro ou um
grito ou o som de um impacto. Seriam uma verdadeira bagunça aqueles minutos
seguintes.
Do terminal de controle, Pepper disse:
– Prédio invadido por uma das janelas da entrada.
– Rhodey! – Fury gritou para o comunicador. – Onde está sua linha de fogo na
lateral do prédio?
– Intacta, general – Rhodey respondeu.
– Então por que temos inimigos dentro do prédio vindo dessa direção?
Uma breve pausa. Depois, Rhodey disse:
– Não tivemos contato visual com agentes do inimigo em nenhum dos lados
do prédio.
– Bom, sinto que vamos ter uma porcaria de contato visual com eles dentro
do prédio – disse Fury. – Fiquem de olhos abertos.
– Devemos recuar para dentro do prédio e dar apoio?
– Qual é a situação aí?
– Bom, temos… – A estática bagunçou as palavras seguintes. – Também,
Tony e Zola estão se batendo em pleno ar. A Hidra, no solo, está vindo em nossa
direção, e dando a volta na cerca. Suponho que estão tentando entrar aí.
Fury deu-se três segundos para pensar. Três, dois, um, ele contou.
– Recuem para o prédio – disse. – Posicionem-se para cobrir o corredor
central e todo o acesso a ele, inclusive a porta da frente. Acho que o resto do
baile vai acontecer aqui dentro.
  


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