HOMEM DE FERRO : VÍRUS
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PETIÇÃO PROVISÓRIA PARA PATENTETÍTULOEngate acumulador e propulsor de haloalcanos.DESCRIÇÃOUsando haloalcanos disponíveis no mercado ou de propriedade dos refrigerados das
Indústrias Stark (ver patentes [editado] e [editado]), o engate acumulador e propulsor de
haloalcanos cria um reservatório de refrigerante concentrado, mantido a temperaturas mais
próximas possíveis de zero absoluto dada a integração do sistema à linha de sistemas da
armadura pessoal das Indústrias Stark (ver lista anexada de patentes existentes relevantes e
pendentes). Desse reservatório, o propulsor embutido projeta um fluxo de alta pressão de
haloalcanos que se espalham rapidamente, enquanto a temperatura ambiente os aquece. O
princípio é similar ao de um extintor de incêndio, mas o cano do EPH é especificamente
projetado para manter a substância estritamente focada. Essa concentração do material
propagado cria novas possibilidades para usos militares, industriais e na defesa pessoal.ARGUMENTOTecnologias existentes de spray congelante – como as usadas para o congelamento rápido
de produtos de consumo ou materiais momentaneamente ultrarresfriados em determinado
estágio de sua produção – funcionam apenas com alcance extremamente reduzido e sob
circunstâncias rigidamente controladas. O EPH é capaz de congelar um ser humano a uma
distância de cinquenta metros, e de causar danos a sistemas eletrônicos e mecânicos a
distâncias de até o dobro, dependendo da natureza e proteção do alvo.STATUS DE SEGURANÇAProjeto conduzido sob os auspícios dos acordos firmados entre as Indústrias Stark e o
Departamento de Defesa, a S.H.I.E.L.D. e outras agências governamentais definidas pelo
decreto [editado] ao decreto [editado], o decreto [editado] e a resolução [editado]. A
tecnologia é propriedade das Indústrias Stark, mas será totalmente compartilhada com todas
as entidades elegíveis. A tecnologia é secreta e não será licenciada até a revogação do tempo
de sigilo.• • • •
Antes do impacto inicial, Tony já sabia um bocado sobre o novo corpo de
Arnim Zola. Do espectro de emissões eletromagnéticas, Tony inferiu um conjunto
de sensores e instrumentos similares aos dele. Da natureza de sua presença no
radar, Tony aprendeu que o corpo tinha apenas 26% de seu peso composto de
material orgânico; o restante era uma combinação de polímeros complexos, ligas
de alta tensão e ligamentos de nanotubos de carbono. Diversas aberturas nas
mãos e pés conectavam-se a sistemas de armas. Era, basicamente, uma versão
cibernética da armadura do Homem de Ferro.
– Sabe, Zola – disse Tony um instante antes do impacto –, já tentei essa coisa
de ciborgue. Acabei só detonando meus nervos. Literalmente. Você vai acabar no
mesmo.
– Ah, mas sr. Stark, você supõe que eu faço as coisas como você fez, quando
na verdade eu faço muito melhor.
O som do encontro quebrou as janelas que restavam intactas no Laboratório
de ITR, quinze metros abaixo.
• • • •
Happy pousou o helicóptero no mesmo estacionamento de trailers onde os
resquícios dos mísseis caíram. Ele saiu da aeronave, passou por baixo das lâminas,
que ainda giravam, e olhou ao redor. Pedaços caídos do míssil abriram buracos em
pelo menos metade dos trailers. Algumas das partes ainda soltavam fumaça.
Devia haver tecnologia supersecreta largada por ali, e em poucas semanas um
trabalhador num depósito em Denver, descarregando um dos trailers, chutaria do
caminho um pedaço de circuito avançado de um giroscópio preso às rodas de sua
paleteira. Afinal, tanto a S.H.I.E.L.D. quanto o DDD resolveram que nada
daquilo havia acontecido. Os veículos seriam comprados e desmontados ou
revendidos. O heroísmo e o sacrifício dos soldados da S.H.I.E.L.D. que morreram
no laboratório seriam para sempre um segredo.
Assim como os fracassos de Happy Hogan.
Era assim que a pessoa passava a ter dificuldade de conviver consigo mesma.
Happy sentia-se tão mal quanto ao que quase fizera que não sabia como aceitaria
o fato. Já fora uma grande mancada deixar que o clone de Serena Borland o
atacasse, mas voar bem para o centro da zona de controle mental de Zola?
Deixar que este brincasse com sua reação quanto à clonagem, a ponto de chegar
perto de matar Nick Fury e Pepper?
Happy jamais pensara em si mesmo como um fraco, mas os dez minutos
passados provaram-lhe que ele detinha uma fraqueza que não imaginava ter. A
desolação do estacionamento combinava com seu humor. Pensou em sair das
Indústrias Stark, deixar Nova York. Não poderia encarar as pessoas que deixara
na mão.
Mas e depois? Tornar-se um dos caras que chutava coisas presas nas rodas de
sua paleteira?
– Não – disse Happy.
Ele nunca fugira de uma briga na vida, e sem dúvida não fugiria dessa
também.
Inclinando-se para dentro da cabine do helicóptero, retirou um rifle do
cavalete atrás do banco do piloto. Checou se estava carregado, deu um tapinha no
coldre da pistola automática, que ficava embaixo da axila esquerda, e caminhou
na direção do tiroteio.Redenção, pensou ele. Como o fracasso, ela depende de uma
única decisão.
• • • •
Considerando a quantidade deles que as tropas de Fury já haviam congelado,
parecia mesmo ter restado muitos Hogans por aí. Eles entravam pelas janelas,
dando a volta na caminhonete tombada, pela porta de incêndio nos fundos da
área de testes. O único local pelo qual não entravam era o corredor que levava à
entrada do prédio, e Fury não entendia por quê. O programa de segurança não
havia detectado infiltração por ali? Onde estavam? Se não haviam entrado para
atirar nos agentes da S.H.I.E.L.D., pra que usar a janela? Ele derrubou um par de
Hogans perto dos pneus furados da picape e deu tiros periódicos embaixo do
veículo até que um de seus homens pôde dar a volta, conseguir um ângulo melhor
e dar cabo deles. Deus. Fury fez uma careta. Os clones da Hidra não faziam
muito barulho, mas quando faziam, a voz era idêntica à de Happy. Essa batalha
resumia-se a ouvir um querido amigo morrendo repetidas vezes.
Por outro lado, a maioria das batalhas era assim. As diferenças eram: um,
geralmente não era sempre o mesmo amigo que morria, e dois, geralmente o
amigo não estava lutando junto ao inimigo.Tony, Tony, pensou Nick Fury. Deve haver um jeito de te culpar por tudo isso.
Estava quase falando sério, quase. O fato era que ele não sabia como culpar
Tony, nem pelo que agradecer-lhe. E poderia demorar um pouco para descobrir,
porque, de acordo com Pepper, Tony estava engalfinhado com o mais recente
corpo de Zola em algum ponto do céu.
– Rhodey! – ele gritou no comunicador. – Como vão as coisas aí?
– Só um minuto, senhor.
Fury fitou Pepper.
– Que bom que ele não tem pressa. – Ela sorriu, um sorriso pequeno. – Ei –
ele continuou –, você fez um ótimo trabalho brigando com as máquinas por tempo
suficiente pro Tony voltar.
– Obrigada. Agora posso pegar uma arma e matar uns clones?
Fury caiu na gargalhada.
– Quer uma arma? Olhe ao redor. Escolha uma. Só não mate ninguém que não
tenha a cara do Happy.
– Por falar nele. Cadê o Happy?
– Pelo que sei, pousou o helicóptero. Não sei de mais nada. Aqui, pegue isso
aqui. – Ele passou um rifle para ela, pelo chão. – Se continuar desse jeito, vamos
precisar de mais gente atirando.
– Alguma coisa que preciso saber?
– Já atirou?
Ela lhe lançou um olhar seco.
– Nick. Por favor.
– Certo. É como as outras todas. Aponte pro bandido e puxe o gatilho até ele
cair. – Voltando sua atenção para o comunicador, Fury gritou: – Rhodey!
– Senhor. Estamos em posição. A Hidra está passando por algumas entradas
que não estamos mais cobrindo. Vai ser uma longa tarde. E tem também…
A transmissão foi cortada. Simultaneamente, Fury ouviu o tiroteio
intensificar-se no corredor que levava à entrada do prédio, mas sua atenção foi
logo desviada para uma nova leva de Hogans que derrubou as portas.
• • • •
Happy sabia que estava correndo um sério risco de levar um tiro por
pensarem que ele fosse um clone. Torcia para que as roupas de civil sem a insígnia
da Hidra segurariam os dedos das pessoas longe dos gatilhos tempo o bastante
para que ele pudesse convencê-las de que era o original e não uma das cópias –
que não possuíam seu nariz finamente reconstruído, mas não adiantava esperar
que alguém, em plena batalha, reparasse nisso. Ele chegou perto da propriedade
do laboratório e derrubou dois clones que deram a volta no edifício, vindo do
estacionamento, para atirar por uma das janelas do escritório.A sala de Tony devia
estar destruída, ele pensou. O chefe era meio reclamão quanto a esse tipo de
coisa, às vezes. Happy não tinha comunicador porque não se esperava que ele
fizesse parte de alguma operação, e não sabia dizer onde deixara o celular. No
helicóptero? No hospital? Happy estava cheio de adrenalina e determinação. A
sensação era de ter um corpo feito de arame farpado.
Como poderia contatar Fury ou Pepper para poder entrar sem ser morto?
Luzes brilharam no céu. Happy olhou para o alto e viu intensas descargas de
todas as cores entre Tony e Zola. Eles pareciam estar subindo; estavam já tão
alto que só dava para saber o que se via porque não tinha como ser outra coisa
mesmo. O que pedestres e motoristas que passavam estavam pensando, era difícil
dizer. Na cidade de Nova York, o céu parecia estar sempre cheio de luzes
esquisitas. Ali, nem tanto, embora a proximidade do aeroporto acrescentasse
certa variedade ao céu. Mesmo assim, não era comum ver um show como aquele.
Os sons também – rasgados, baques e trovões – deviam ter convencido os
vizinhos de que havia um espetáculo de fogos de artifício para alguma ocasião da
qual não tinham ouvido falar nada.
Lá embaixo, na periferia do terreno do Laboratório de ITR, Happy tinha seus
próprios problemas. Tony podia cuidar de si mesmo, e se não pudesse, qualquer
coisa que o motorista fizesse não faria muita diferença a longo prazo.A não ser pra mim mesmo, ele pensou. Devo isso a mim, senão aos outros.
Abaixado, ele correu da cerca para a beira do prédio e arriscou espiar pelo
canto de uma janela quebrada. O cômodo que visualizou era um escritório ainda
sem móveis. Tony não havia definido os detalhes antes de ser arrebatado pelos
sonhos com o controle imediato. Beirando os corpos dos dois clones sem olhar em
seus rostos, Happy entrou e agachou embaixo da janela, enquanto esperava que
seus olhos se acostumassem à luminosidade. A porta estava aberta, e no corredor
brilhava a luz da lâmpada de emergência, mas ele se encontrava em escuridão
quase total. Havia um corpo no chão. Não havia como dizer se fora amigo ou
inimigo. Do corredor e das entranhas do prédio chegava o som constante de tiros
de armas leves. Um disparo arrancou pedaços do batente da porta à frente dele.
Quis se mexer, se envolver. Todo o complexo tornara-se uma galeria de tiro, no
entanto, e não havia como provar que ele não era um dos bandidos.
Um movimento acima de sua cabeça o fez recuar. Ele olhou para cima e viu
uma forma esguia de mulher dentro de um macacão verde descer pela janela,
pousar no chão com delicadeza e sair pelo corredor antes mesmo de ele ter a
chance de erguer o rifle. Assim que ela desapareceu, uma forma idêntica entrou
da mesma maneira. Dessa vez, Happy ergueu o rifle. Disparou, mas como eram
rápidas! Quando ele conseguiu apontar e atirar, ela já não estava mais ali. Duas
mulheres de roupa verde. Com espadas. Zola devia ter algum trunfo. Happy não
sabia o que era, mas teve a sensação de não ser boa coisa.
De bruços, rastejou até a porta e espiou nas duas direções do corredor. Havia
corpos espalhados por tudo. Enquanto ele checava, uma leva de buracos de bala
apareceu numa das paredes, duas portas à frente; o tiroteio continuou dentro da
sala, depois parou. Happy ouviu homens gritando, e eles não tinham a sua voz.
Rolou para o corredor e foi para essa porta. Assim que chegou, uma das mulheres
de verde passou por seu campo de visão. Viu um lampejo de aço e ergueu o rifle
bem a tempo de defletir um golpe que o teria aberto da clavícula à pélvis. A
mulher de verde girou para atacar de novo, mas Happy meteu as costas do rifle
em sua perna. Desequilibrada, a moça esquivou-se do segundo golpe e ergueu
uma pequena faca. Antes que ele pudesse registrar o artefato, ele já estava
fincado em sua coxa.
Happy gritou e ergueu o rifle. Atirou para todo canto, mas a mulher de verde
havia sumido. Mordeu os lábios de dor e cambaleou para dentro da sala, buscando
ficar fora da linha de fogo, enquanto tentava retirar a faca sem entregar-se ao
choque.
A sala estava lotada de homens mortos.
– Não eu – disse Happy entre dentes.
Ele trabalhou na faca, que havia entrado fundo na carne de seu quadríceps,
mas não parecia ter pegado osso nem artérias. Ele teve sorte. Quando conseguiu
retirar a lâmina, sua visão ficou turva e ele quase desmaiou. Ficou respirando
profunda e continuamente até que a onda de náusea passou, depois testou a
perna. Dava para segurar o peso dele, mas com muita dificuldade.
Enquanto ele cuidava da perna, essa porção do prédio ficara muito mais
quieta. Happy odiou pensar no motivo. Tinha que se colocar em movimento. Se
conseguisse chegar até Rhodey, ou Fury, e ninguém atirasse nele durante o
percurso, talvez tivesse outra chance de dar um trato na mulher de verde.
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