Retorno à terra primitiva
“Como nômades saltam os velhos anseios
Que a correia da doma deixara irritados;
Novamente das brumas do sono nos seios,
Os instintos da fera serão despertados.”
Buck não lia os jornais, caso contrário teria sabido que havia problemas à
vista, não somente para si mesmo como para todos os cães das costas litorâneas
que tivessem músculos fortes e pelagem longa e quente, desde o estreito de
Puget[1] até San Diego.[2] Isto porque os homens, tateando e cambaleando na
escuridão do Ártico, haviam descoberto um metal amarelo e os navios a vapor e
as outras companhias de transportes estavam alimentando a descoberta com o
combustível de milhares de homens que corriam para as terras do Norte. Todos
estes homens precisavam de cães; e queriam cães pesados, com músculos fortes
para o trabalho e pelos longos para protegê-los do gelo e das nevascas.
Buck morava em uma casa grande no ensolarado vale de Santa Clara.[3]Ela era chamada de Casa do juiz Miller. Ficava afastada da estrada, meio
escondida entre as árvores, através das quais podia ser vista de relance a grande
varanda fresca que cercava a moradia pelos quatro lados. Chegava-se até a casa
seguindo trilhas recobertas de cascalho que se encurvavam por entre largos
gramados e sob os ramos entrelaçados de altos choupos. Na parte de trás da
propriedade, as construções tinham sido erguidas em uma escala ainda mais
espaçosa que na frente. Havia grandes estábulos, em que uma dúzia de
estribeiros e aprendizes tomava conta dos cavalos, filas de cabanas cobertas de
trepadeiras, destinadas aos criados, um conjunto infindável e bem ordenado de
galpões, longos parreirais, pastagens verdes, pomares e locais onde cresciam
framboesas e groselhas. Depois vinha uma construção que abrigava as bombas e
outros acessórios do poço artesiano e o grande tanque de cimento em que os
filhos do juiz Miller davam mergulhos de manhã e se refrescavam nas tardes
quentes.
E era Buck quem governava esta grande mansão. Aqui ele nascera e aqui
passara seus quatro anos de vida. Era verdade que havia outros cachorros. Em
um lugar assim tão vasto, eram necessários vários cães, mas, na verdade, eles
não tinham a menor importância. Eles chegavam e partiam, residiam nos canis
populosos ou habitavam obscuramente os recantos da casa, como Toots, o pug[4]japonês, ou Ysabel, uma cadelinha mexicana sem pelos – estranhas criaturas que
raramente punham o focinho para fora das portas ou pisavam no chão de terra.
Por outro lado, havia os fox terriers[5], pelo menos vinte deles, que ladravam
terríveis ameaças para Toots e Ysabel, enquanto estes os contemplavam
tranquilamente através das janelas, protegidos por uma legião de criadas, cujas
armas eram vassouras e esfregões.
Mas Buck não era nem um cãozinho doméstico nem um cachorro de canil.
O reino inteiro era dele. Ele mergulhava no tanque de cimento que servia de
piscina e saía a caçar com os filhos do juiz. Ele escoltava Mollie e Alice, as filhas
do magistrado, em longos passeios ao crepúsculo ou em caminhadas logo depois
do alvorecer. Nas noites de inverno, ele deitava-se aos pés do juiz diante do fogo
crepitante da lareira da biblioteca. Ele carregava os netos do juiz às costas ou
rolava com eles pelo gramado; e guardava suas passadas através de aventuras
violentas perto da fonte do estábulo e mesmo em lugares mais distantes, onde
ficavam os potreiros e os canteiros de groselhas e framboesas. Atravessava as
matilhas dos terriers imperiosamente e ignorava Toots e Ysabel, porque era ele
quem mandava – era rei de todas as criaturas que caminhavam, rastejavam e
voavam pela propriedade do juiz Miller, inclusive dos seres humanos.
Seu pai, Elmo, um imenso São Bernardo[6], fora o companheiro inseparável
do juiz, e Buck tinha uma boa probabilidade de seguir os passos de seu progenitor.
Não era tão grande – pesava somente sessenta e três quilos – porque sua mãe,
Shep, tinha sido uma cadela ovelheira escocesa. Não obstante, sessenta e três
quilos, aos quais acrescentava a dignidade que deriva da boa alimentação e do
respeito universal, lhe permitiam comportar-se como um verdadeiro
personagem de sangue real. Durante os quatro anos que haviam transcorrido
desde que era apenas um filhote, tinha gozado a vida como um aristocrata
condescendente; sentia imenso orgulho de si mesmo e era até mesmo um
tantinho egoísta e mandão, como os cavalheiros do campo às vezes se tornam
devido à sua condição isolada, em que sua autoridade nunca é contestada. Mas
ele não permitira que o transformassem em um simples cão doméstico estragado
pelos mimos. As caçadas e outras delícias ao ar livre impediram que engordasse
e endureceram seus músculos; e para ele, como para todas as raças
desenvolvidas nos países frios, o amor à água tornara-se um tônico e um
preservador da saúde e da vitalidade.
Era esta a personalidade canina que Buck apresentava no outono de 1897,
quando a descoberta de ouro no Klondike arrastou homens de todo o mundo para
o Norte gelado. Mas Buck não lia os jornais, e ele não sabia que Manuel, um dos
ajudantes do jardineiro, era uma péssima companhia. Manuel tinha um vício
persistente: adorava apostar na loteria chinesa. Além disso, em seu jogo, ele tinha
uma fraqueza recorrente: fé em um sistema. O que tornava a sua derrota
garantida. Isto porque, para jogar segundo um sistema, é necessário ter muito
dinheiro; e o salário de um auxiliar de jardineiro não vai muito além das
necessidades de uma esposa e de uma prole numerosa.
O juiz encontrava-se em uma reunião da Associação dos Produtores de
Uvas e os rapazes estavam ocupados organizando um clube atlético, na noite
memorável em que ocorreu a traição de Manuel. Ninguém viu quando ele e
Buck atravessaram o pomar para o que o animal presumia ser apenas mais um
passeio. E, à exceção de um único homem, ninguém os viu chegar na pequena
estação ferroviária onde os trens só paravam quando havia carga ou passageiros,
e que era conhecida como College Park. Este homem conversou com Manuel e
algumas moedas tilintaram entre eles.
– Bem que você podia ter enrolado a mercadoria antes de entregar – disse o
estranho em um tom de voz bastante mal-humorado; e Manuel deu duas voltas
com uma corda forte ao redor do pescoço de Buck, por baixo da coleira.
– Se você der um bom puxão, ele fica sufocado – disse Manuel, e o estranho
resmungou qualquer coisa em concordância.
Buck tinha aceito a colocação da corda com tranquila dignidade. Na
verdade, era uma coisa que não lhe agradava, mas ele tinha aprendido a confiar
nos homens que conhecia e a dar-lhes crédito por uma sabedoria que
ultrapassava a sua. Mas no momento em que as pontas da corda foram colocadas
nas mãos do estranho, ele rosnou ameaçadoramente. Ele apenas comunicava seu
desagrado, acreditando, em seu orgulho, que sugerir era comandar. Mas, para
sua surpresa, a corda apertou-se mais ao redor de seu pescoço, cortando-lhe a
respiração. Ele saltou sobre o homem em um acesso imediato de cólera, mas
este encontrou-o na metade do caminho, agarrou-o firmemente pela garganta e
com um movimento habilidoso de quem já fizera o mesmo muitas vezes, jogouo de costas no chão. Então a corda apertou sem a menor misericórdia, enquanto
Buck lutava com fúria, a língua pendendo para fora da boca e o grande peito
arfando inutilmente. Jamais em sua vida tinha sido tratado de uma forma tão vil e
nunca em sua existência tinha ficado tão furioso. Mas suas forças diminuíram,
seus olhos foram ficando vidrados e, quando o trem parou e os dois homens o
jogaram dentro do vagão de bagagens, ele já havia perdido a consciência.
A próxima coisa que percebeu foi uma sensação vaga de que sua língua
estava dolorida e que estava sendo transportado aos solavancos por algum tipo de
veículo. O uivo rouco de uma locomotiva anunciando uma encruzilhada fê-lo
reconhecer onde se achava. Ele já havia viajado muitas vezes com o juiz Miller
e conhecia a sensação de ser transportado em um vagão de bagagens. Abriu os
olhos e neles surgiu a cólera incontida de um rei raptado. O homem saltou para
agarrá-lo pela garganta, mas desta vez Buck foi mais rápido. Suas mandíbulas
fecharam-se na mão dele, e só relaxaram quando foi sufocado outra vez até
perder os sentidos.
– Pois é, ele tem uns ataque – disse o homem, escondendo a mão ferida do
guarda-bagagens, que tinha sido atraído pelos ruídos da luta. – O patrão mandou
que eu levasse ele até Frisco.[7] Tem lá um doutor de cachorros desses
especialista que acha que pode curar os ataque dele.
Com referência à viagem dessa noite, o próprio homem a descreveu muito
eloquentemente em um pequeno barraco que ficava nos fundos de um botequim
de marinheiros junto às docas de São Francisco:
– Só vou receber cinquenta por ele – resmungou – e eu não fazia isso de
novo nem que me dessem mil em dinheiro vivo.
Sua mão estava enrolada em um lenço ensanguentado e a perna direita de
suas calças fora rasgada do joelho até o tornozelo.
– Quanto foi que levou o teu cupincha? – quis saber o dono do botequim.
– Cem – foi a resposta. – O desgraçado não aceitou um tostão a menos, juro
por Deus!
– O que dá um total de cento e cinquenta – calculou o botequineiro. – E olha
que vale. Se não valer, eu sou mico de circo.
O raptor desamarrou a bandagem ensanguentada e examinou as marcas de
dentes em sua mão dilacerada.
– Tomara que eu não pegue a “tar” de hidrofobia...
– Que pegar que nada! – riu o botequineiro. – Você vai morrer é enforcado!
Agora vem me dar uma mão antes de carregar o seu frete... – acrescentou.
Atordoado, sofrendo dores intoleráveis na garganta e na língua, quase morto
pela asfixia, Buck tentou enfrentar seus torturadores. Mas foi jogado de costas ao
chão e sufocado repetidas vezes até que eles conseguiram limar e arrancar a
pesada coleira de latão que trazia ao pescoço. Só então a corda foi removida e
ele foi lançado dentro de um caixote semelhante a uma jaula.
E ali ele permaneceu pelo restante daquela noite cansativa, controlando sua
raiva e consolando seu orgulho ferido. Não conseguia entender o significado de
tudo aquilo. O que esses homens estranhos pretendiam fazer com ele? Por que o
mantinham naquele caixote estreito? Ele não podia saber por que, mas sentia-se
oprimido pelo vago sentimento de uma calamidade iminente. Diversas vezes
durante a noite, pôs-se de pé de um salto, quando a porta do barraco se abriu com
as tábuas frouxas chocalhando umas contra as outras, esperando ver o juiz ou
pelo menos os rapazes. Porém todas as vezes era a cara bochechuda do
botequineiro que olhava para ele através das frestas do caixote, à luz fraca de
uma vela de sebo. E cada uma das vezes, o latido alegre que chegava a tremer
na garganta de Bucktransformava-se em um rosnado selvagem.
Mas o dono do botequim acabou por deixá-lo em paz e pela manhã
chegaram quatro homens que apanharam o caixote. Mais atormentadores,
concluiu Buck, porque eram criaturas de aparência maligna, esfarrapados e
sujos; e ele os atacou com fúria, tentando passar por entre os caibros da caixa.
Mas eles apenas riram e o espetaram com varas de madeira, que ele
prontamente atacou com os dentes, até perceber que era justamente isso que eles
queriam. Depois disso, ele deitou-se mal-humorado e permitiu que a gaiola fosse
colocada dentro de uma carroça. E, a partir desse momento, tanto ele como a
jaula improvisada em que estava aprisionado passaram por muitas mãos. Os
funcionários do escritório de encomendas expressas se encarregaram dele; foi
transportado dentro de outra carreta; depois levado mais além num vagão de
cargas, junto com um sortimento de caixas e pacotes, até uma balsa a vapor;
saindo desta, foi levado por outra carroça até um grande depósito da estação da
estrada de ferro, e finalmente depositado em um vagão expresso.
Durante dois dias e duas noites esse vagão foi arrastado por locomotivas que
apitavam constantemente; e por dois dias e duas noites, Buck não comeu nem
bebeu. Em sua cólera, ele enfrentou as primeiras tentativas de camaradagem dos
mensageiros do expresso com rosnados ferozes e eles retaliaram divertindo-se
com ele. Quando ele se jogava contra as barras da gaiola, tremendo e babando,
eles riam e zombavam dele. Os homens imitavam os rosnados e latidos das
espécies de cães mais detestáveis; ou então miavam ou batiam os braços como
asas e cacarejavam. Ele sabia muito bem que tudo aquilo eram somente
brincadeiras bobas, mas sentia-se ainda mais ultrajado em sua dignidade e sua
raiva crescia cada vez mais. Não se importava muito com a fome, mas a falta de
água lhe causava um imenso sofrimento e reaquecia a sua fúria, como se
estivesse com febre alta. E de fato, porque era um animal excitável e altamente
sensível, os maus tratos o haviam deixado com febre, que foi alimentada pela
inflamação da língua e de sua garganta.
Ao menos uma coisa o alegrava: a corda fora retirada de seu pescoço. Ela
havia dado a eles uma vantagem injusta; mas agora que tinha sido retirada, ele
mostraria a todos. Nunca mais conseguiriam enrolar outra corda em seu
pescoço. Esta era sua resolução mais firme. Por dois dias e duas noites, ele não
comeu nem bebeu e durante estes dois dias e noites de tormento, acumulou uma
provisão de ódio que prognosticava resultados muito ruins para o primeiro que se
tornasse alvo dele. Seus olhos ficaram avermelhados de sangue e ele foi se
metamorfoseando em um demônio feroz. Estava tão mudado que agora nem
sequer o juiz o reconheceria; e os mensageiros do expresso respiraram aliviados
quando o desembarcaram do trem em Seattle.[8]Quatro homens carregaram o caixote com dificuldade desde o vagão da
estrada de ferro até um pequeno pátio de muros altos. Um homem robusto,
usando um suéter vermelho largo demais e que lhe pendia frouxamente do
pescoço, apareceu em uma porta e assinou o livro de recibos de encomendas
apresentado pelo condutor. Aquele era o homem, adivinhou Buck, seu próximo
torturador – e lançou-se selvagemente contra as barras do engradado. O homem
sorriu de maneira implacável e foi buscar uma machadinha e um porrete.
– Você não vai tirar o cão do caixote agora, vai? – indagou o condutor.
– Claro que vou – replicou o homem, batendo com a machadinha no alto da
gaiola e movimentando a ponta para os lados como uma alavanca.
Escutou-se instantaneamente o ruído dos pés dos quatro homens que haviam
trazido a carga; depois de se empoleirarem com segurança no alto dos muros,
eles se prepararam para assistir ao espetáculo.
Buck saltou em direção à madeira estilhaçada, cravando os dentes nas
lascas, puxando e lutando com elas. Qualquer que fosse o ponto em que a
machadinha atingisse o lado externo do caixote, lá estava ele, por dentro,
rosnando, tão furiosamente ansioso para sair quanto o homem do suéter
vermelho demonstrava calmamente sua intenção de soltá-lo.
– É agora, seu demônio de olhos vermelhos – disse ele, depois de fazer uma
abertura grande o bastante para a passagem do corpo de Buck. Ao mesmo
tempo, largou a machadinha e passou rapidamente o porrete para sua mão
direita.
E Buck parecia realmente um demônio de olhos vermelhos ao armar o bote,
preparando-se para saltar, todo o pelo eriçado, a boca espumando, um brilho de
loucura em seus olhos injetados de sangue. Diretamente contra o homem, ele
lançou seus sessenta e três quilos de fúria sobrecarregada pela paixão enjaulada
de dois dias e duas noites. E em pleno ar, justamente no momento em que suas
mandíbulas estavam a ponto de se fechar sobre o homem, recebeu um choque
tão grande que fez parar o seu corpo e os seus dentes bateram uns contra os
outros com um estalo agoniado. Ele retorceu-se no ar e caiu de costas no chão,
resvalando depois para um lado. Nunca tinha sido espancado antes, muito menos
com um porrete, e simplesmente não entendeu o que havia acontecido. Com um
rugido que era em parte um latido, porém mais um ganido de dor, pôs-se
imediatamente em pé e logo se lançou de novo no ar. E de novo veio o choque e
viu-se jogado ao solo por uma força esmagadora. Desta vez ele percebeu que
era o efeito do porrete, mas em sua loucura, desconhecia as precauções. Atacou
uma dúzia de vezes e doze vezes a clava interrompeu seu avanço e o estatelou no
chão.
Depois de um golpe particularmente violento, arrastou-se sobre as patas,
tonto demais para avançar ou fugir. Cambaleou ao redor, o sangue fluindo do
focinho, da boca e das orelhas, seu lindo pelo borrifado e manchado de baba
sanguinolenta. Então o homem avançou em sua direção e deliberadamente lhe
deu um golpe terrível em pleno focinho. Toda a dor que tinha sentido até então
não era nada em comparação com a intensa agonia desta última pancada. Com
um rugido que era quase o de um leão em sua ferocidade, novamente jogou-se
contra o homem. Mas este, trocando rapidamente o porrete da mão direita para a
esquerda, friamente agarrou-o por baixo da mandíbula, empurrando-o ao
mesmo tempo para baixo e para trás. Buck descreveu um círculo completo no ar,
e metade de outro, antes de bater no chão com a cabeça e o peito.
Ainda assim, uma última vez se lançou sobre o inimigo. O homem atingiu-o
com uma pancada especialmente forte que vinha propositalmente guardando para o fim, e Buckdesabou no solo, perdendo completamente os sentidos.
– Esse não é dos que se entrega fácir numa doma, isso é perciso dizer! –
gritou entusiasmado um dos homens que estavam empoleirados no muro.
– Pois óia, eu perfiro domar garranos[9] em quarqué dia da semana e duas
veiz nos domingo, isso é o que eu digo! – foi a resposta do condutor, enquanto
subia na boleia da carroça e chicoteava os cavalos para dar a partida.
Os sentidos de Buck começaram a despertar, porém não sua força. Ele
permaneceu deitado onde estava, contemplando o homem de suéter vermelho através dos olhos semicerrados.
– “Responde pelo nome de Buck” – monologou o homem, lendo a carta do
homem do botequim que lhe anunciava a entrega do caixote e de seu conteúdo. – Bem, Buck, meu rapaz – prosseguiu em voz alegre –, nós já tivemos nosso
vista, não somente para si mesmo como para todos os cães das costas litorâneas
que tivessem músculos fortes e pelagem longa e quente, desde o estreito de
Puget[1] até San Diego.[2] Isto porque os homens, tateando e cambaleando na
escuridão do Ártico, haviam descoberto um metal amarelo e os navios a vapor e
as outras companhias de transportes estavam alimentando a descoberta com o
combustível de milhares de homens que corriam para as terras do Norte. Todos
estes homens precisavam de cães; e queriam cães pesados, com músculos fortes
para o trabalho e pelos longos para protegê-los do gelo e das nevascas.
Buck morava em uma casa grande no ensolarado vale de Santa Clara.[3]Ela era chamada de Casa do juiz Miller. Ficava afastada da estrada, meio
escondida entre as árvores, através das quais podia ser vista de relance a grande
varanda fresca que cercava a moradia pelos quatro lados. Chegava-se até a casa
seguindo trilhas recobertas de cascalho que se encurvavam por entre largos
gramados e sob os ramos entrelaçados de altos choupos. Na parte de trás da
propriedade, as construções tinham sido erguidas em uma escala ainda mais
espaçosa que na frente. Havia grandes estábulos, em que uma dúzia de
estribeiros e aprendizes tomava conta dos cavalos, filas de cabanas cobertas de
trepadeiras, destinadas aos criados, um conjunto infindável e bem ordenado de
galpões, longos parreirais, pastagens verdes, pomares e locais onde cresciam
framboesas e groselhas. Depois vinha uma construção que abrigava as bombas e
outros acessórios do poço artesiano e o grande tanque de cimento em que os
filhos do juiz Miller davam mergulhos de manhã e se refrescavam nas tardes
quentes.
E era Buck quem governava esta grande mansão. Aqui ele nascera e aqui
passara seus quatro anos de vida. Era verdade que havia outros cachorros. Em
um lugar assim tão vasto, eram necessários vários cães, mas, na verdade, eles
não tinham a menor importância. Eles chegavam e partiam, residiam nos canis
populosos ou habitavam obscuramente os recantos da casa, como Toots, o pug[4]japonês, ou Ysabel, uma cadelinha mexicana sem pelos – estranhas criaturas que
raramente punham o focinho para fora das portas ou pisavam no chão de terra.
Por outro lado, havia os fox terriers[5], pelo menos vinte deles, que ladravam
terríveis ameaças para Toots e Ysabel, enquanto estes os contemplavam
tranquilamente através das janelas, protegidos por uma legião de criadas, cujas
armas eram vassouras e esfregões.
Mas Buck não era nem um cãozinho doméstico nem um cachorro de canil.
O reino inteiro era dele. Ele mergulhava no tanque de cimento que servia de
piscina e saía a caçar com os filhos do juiz. Ele escoltava Mollie e Alice, as filhas
do magistrado, em longos passeios ao crepúsculo ou em caminhadas logo depois
do alvorecer. Nas noites de inverno, ele deitava-se aos pés do juiz diante do fogo
crepitante da lareira da biblioteca. Ele carregava os netos do juiz às costas ou
rolava com eles pelo gramado; e guardava suas passadas através de aventuras
violentas perto da fonte do estábulo e mesmo em lugares mais distantes, onde
ficavam os potreiros e os canteiros de groselhas e framboesas. Atravessava as
matilhas dos terriers imperiosamente e ignorava Toots e Ysabel, porque era ele
quem mandava – era rei de todas as criaturas que caminhavam, rastejavam e
voavam pela propriedade do juiz Miller, inclusive dos seres humanos.
Seu pai, Elmo, um imenso São Bernardo[6], fora o companheiro inseparável
do juiz, e Buck tinha uma boa probabilidade de seguir os passos de seu progenitor.
Não era tão grande – pesava somente sessenta e três quilos – porque sua mãe,
Shep, tinha sido uma cadela ovelheira escocesa. Não obstante, sessenta e três
quilos, aos quais acrescentava a dignidade que deriva da boa alimentação e do
respeito universal, lhe permitiam comportar-se como um verdadeiro
personagem de sangue real. Durante os quatro anos que haviam transcorrido
desde que era apenas um filhote, tinha gozado a vida como um aristocrata
condescendente; sentia imenso orgulho de si mesmo e era até mesmo um
tantinho egoísta e mandão, como os cavalheiros do campo às vezes se tornam
devido à sua condição isolada, em que sua autoridade nunca é contestada. Mas
ele não permitira que o transformassem em um simples cão doméstico estragado
pelos mimos. As caçadas e outras delícias ao ar livre impediram que engordasse
e endureceram seus músculos; e para ele, como para todas as raças
desenvolvidas nos países frios, o amor à água tornara-se um tônico e um
preservador da saúde e da vitalidade.
Era esta a personalidade canina que Buck apresentava no outono de 1897,
quando a descoberta de ouro no Klondike arrastou homens de todo o mundo para
o Norte gelado. Mas Buck não lia os jornais, e ele não sabia que Manuel, um dos
ajudantes do jardineiro, era uma péssima companhia. Manuel tinha um vício
persistente: adorava apostar na loteria chinesa. Além disso, em seu jogo, ele tinha
uma fraqueza recorrente: fé em um sistema. O que tornava a sua derrota
garantida. Isto porque, para jogar segundo um sistema, é necessário ter muito
dinheiro; e o salário de um auxiliar de jardineiro não vai muito além das
necessidades de uma esposa e de uma prole numerosa.
O juiz encontrava-se em uma reunião da Associação dos Produtores de
Uvas e os rapazes estavam ocupados organizando um clube atlético, na noite
memorável em que ocorreu a traição de Manuel. Ninguém viu quando ele e
Buck atravessaram o pomar para o que o animal presumia ser apenas mais um
passeio. E, à exceção de um único homem, ninguém os viu chegar na pequena
estação ferroviária onde os trens só paravam quando havia carga ou passageiros,
e que era conhecida como College Park. Este homem conversou com Manuel e
algumas moedas tilintaram entre eles.
– Bem que você podia ter enrolado a mercadoria antes de entregar – disse o
estranho em um tom de voz bastante mal-humorado; e Manuel deu duas voltas
com uma corda forte ao redor do pescoço de Buck, por baixo da coleira.
– Se você der um bom puxão, ele fica sufocado – disse Manuel, e o estranho
resmungou qualquer coisa em concordância.
Buck tinha aceito a colocação da corda com tranquila dignidade. Na
verdade, era uma coisa que não lhe agradava, mas ele tinha aprendido a confiar
nos homens que conhecia e a dar-lhes crédito por uma sabedoria que
ultrapassava a sua. Mas no momento em que as pontas da corda foram colocadas
nas mãos do estranho, ele rosnou ameaçadoramente. Ele apenas comunicava seu
desagrado, acreditando, em seu orgulho, que sugerir era comandar. Mas, para
sua surpresa, a corda apertou-se mais ao redor de seu pescoço, cortando-lhe a
respiração. Ele saltou sobre o homem em um acesso imediato de cólera, mas
este encontrou-o na metade do caminho, agarrou-o firmemente pela garganta e
com um movimento habilidoso de quem já fizera o mesmo muitas vezes, jogouo de costas no chão. Então a corda apertou sem a menor misericórdia, enquanto
Buck lutava com fúria, a língua pendendo para fora da boca e o grande peito
arfando inutilmente. Jamais em sua vida tinha sido tratado de uma forma tão vil e
nunca em sua existência tinha ficado tão furioso. Mas suas forças diminuíram,
seus olhos foram ficando vidrados e, quando o trem parou e os dois homens o
jogaram dentro do vagão de bagagens, ele já havia perdido a consciência.
A próxima coisa que percebeu foi uma sensação vaga de que sua língua
estava dolorida e que estava sendo transportado aos solavancos por algum tipo de
veículo. O uivo rouco de uma locomotiva anunciando uma encruzilhada fê-lo
reconhecer onde se achava. Ele já havia viajado muitas vezes com o juiz Miller
e conhecia a sensação de ser transportado em um vagão de bagagens. Abriu os
olhos e neles surgiu a cólera incontida de um rei raptado. O homem saltou para
agarrá-lo pela garganta, mas desta vez Buck foi mais rápido. Suas mandíbulas
fecharam-se na mão dele, e só relaxaram quando foi sufocado outra vez até
perder os sentidos.
– Pois é, ele tem uns ataque – disse o homem, escondendo a mão ferida do
guarda-bagagens, que tinha sido atraído pelos ruídos da luta. – O patrão mandou
que eu levasse ele até Frisco.[7] Tem lá um doutor de cachorros desses
especialista que acha que pode curar os ataque dele.
Com referência à viagem dessa noite, o próprio homem a descreveu muito
eloquentemente em um pequeno barraco que ficava nos fundos de um botequim
de marinheiros junto às docas de São Francisco:
– Só vou receber cinquenta por ele – resmungou – e eu não fazia isso de
novo nem que me dessem mil em dinheiro vivo.
Sua mão estava enrolada em um lenço ensanguentado e a perna direita de
suas calças fora rasgada do joelho até o tornozelo.
– Quanto foi que levou o teu cupincha? – quis saber o dono do botequim.
– Cem – foi a resposta. – O desgraçado não aceitou um tostão a menos, juro
por Deus!
– O que dá um total de cento e cinquenta – calculou o botequineiro. – E olha
que vale. Se não valer, eu sou mico de circo.
O raptor desamarrou a bandagem ensanguentada e examinou as marcas de
dentes em sua mão dilacerada.
– Tomara que eu não pegue a “tar” de hidrofobia...
– Que pegar que nada! – riu o botequineiro. – Você vai morrer é enforcado!
Agora vem me dar uma mão antes de carregar o seu frete... – acrescentou.
Atordoado, sofrendo dores intoleráveis na garganta e na língua, quase morto
pela asfixia, Buck tentou enfrentar seus torturadores. Mas foi jogado de costas ao
chão e sufocado repetidas vezes até que eles conseguiram limar e arrancar a
pesada coleira de latão que trazia ao pescoço. Só então a corda foi removida e
ele foi lançado dentro de um caixote semelhante a uma jaula.
E ali ele permaneceu pelo restante daquela noite cansativa, controlando sua
raiva e consolando seu orgulho ferido. Não conseguia entender o significado de
tudo aquilo. O que esses homens estranhos pretendiam fazer com ele? Por que o
mantinham naquele caixote estreito? Ele não podia saber por que, mas sentia-se
oprimido pelo vago sentimento de uma calamidade iminente. Diversas vezes
durante a noite, pôs-se de pé de um salto, quando a porta do barraco se abriu com
as tábuas frouxas chocalhando umas contra as outras, esperando ver o juiz ou
pelo menos os rapazes. Porém todas as vezes era a cara bochechuda do
botequineiro que olhava para ele através das frestas do caixote, à luz fraca de
uma vela de sebo. E cada uma das vezes, o latido alegre que chegava a tremer
na garganta de Bucktransformava-se em um rosnado selvagem.
Mas o dono do botequim acabou por deixá-lo em paz e pela manhã
chegaram quatro homens que apanharam o caixote. Mais atormentadores,
concluiu Buck, porque eram criaturas de aparência maligna, esfarrapados e
sujos; e ele os atacou com fúria, tentando passar por entre os caibros da caixa.
Mas eles apenas riram e o espetaram com varas de madeira, que ele
prontamente atacou com os dentes, até perceber que era justamente isso que eles
queriam. Depois disso, ele deitou-se mal-humorado e permitiu que a gaiola fosse
colocada dentro de uma carroça. E, a partir desse momento, tanto ele como a
jaula improvisada em que estava aprisionado passaram por muitas mãos. Os
funcionários do escritório de encomendas expressas se encarregaram dele; foi
transportado dentro de outra carreta; depois levado mais além num vagão de
cargas, junto com um sortimento de caixas e pacotes, até uma balsa a vapor;
saindo desta, foi levado por outra carroça até um grande depósito da estação da
estrada de ferro, e finalmente depositado em um vagão expresso.
Durante dois dias e duas noites esse vagão foi arrastado por locomotivas que
apitavam constantemente; e por dois dias e duas noites, Buck não comeu nem
bebeu. Em sua cólera, ele enfrentou as primeiras tentativas de camaradagem dos
mensageiros do expresso com rosnados ferozes e eles retaliaram divertindo-se
com ele. Quando ele se jogava contra as barras da gaiola, tremendo e babando,
eles riam e zombavam dele. Os homens imitavam os rosnados e latidos das
espécies de cães mais detestáveis; ou então miavam ou batiam os braços como
asas e cacarejavam. Ele sabia muito bem que tudo aquilo eram somente
brincadeiras bobas, mas sentia-se ainda mais ultrajado em sua dignidade e sua
raiva crescia cada vez mais. Não se importava muito com a fome, mas a falta de
água lhe causava um imenso sofrimento e reaquecia a sua fúria, como se
estivesse com febre alta. E de fato, porque era um animal excitável e altamente
sensível, os maus tratos o haviam deixado com febre, que foi alimentada pela
inflamação da língua e de sua garganta.
Ao menos uma coisa o alegrava: a corda fora retirada de seu pescoço. Ela
havia dado a eles uma vantagem injusta; mas agora que tinha sido retirada, ele
mostraria a todos. Nunca mais conseguiriam enrolar outra corda em seu
pescoço. Esta era sua resolução mais firme. Por dois dias e duas noites, ele não
comeu nem bebeu e durante estes dois dias e noites de tormento, acumulou uma
provisão de ódio que prognosticava resultados muito ruins para o primeiro que se
tornasse alvo dele. Seus olhos ficaram avermelhados de sangue e ele foi se
metamorfoseando em um demônio feroz. Estava tão mudado que agora nem
sequer o juiz o reconheceria; e os mensageiros do expresso respiraram aliviados
quando o desembarcaram do trem em Seattle.[8]Quatro homens carregaram o caixote com dificuldade desde o vagão da
estrada de ferro até um pequeno pátio de muros altos. Um homem robusto,
usando um suéter vermelho largo demais e que lhe pendia frouxamente do
pescoço, apareceu em uma porta e assinou o livro de recibos de encomendas
apresentado pelo condutor. Aquele era o homem, adivinhou Buck, seu próximo
torturador – e lançou-se selvagemente contra as barras do engradado. O homem
sorriu de maneira implacável e foi buscar uma machadinha e um porrete.
– Você não vai tirar o cão do caixote agora, vai? – indagou o condutor.
– Claro que vou – replicou o homem, batendo com a machadinha no alto da
gaiola e movimentando a ponta para os lados como uma alavanca.
Escutou-se instantaneamente o ruído dos pés dos quatro homens que haviam
trazido a carga; depois de se empoleirarem com segurança no alto dos muros,
eles se prepararam para assistir ao espetáculo.
Buck saltou em direção à madeira estilhaçada, cravando os dentes nas
lascas, puxando e lutando com elas. Qualquer que fosse o ponto em que a
machadinha atingisse o lado externo do caixote, lá estava ele, por dentro,
rosnando, tão furiosamente ansioso para sair quanto o homem do suéter
vermelho demonstrava calmamente sua intenção de soltá-lo.
– É agora, seu demônio de olhos vermelhos – disse ele, depois de fazer uma
abertura grande o bastante para a passagem do corpo de Buck. Ao mesmo
tempo, largou a machadinha e passou rapidamente o porrete para sua mão
direita.
E Buck parecia realmente um demônio de olhos vermelhos ao armar o bote,
preparando-se para saltar, todo o pelo eriçado, a boca espumando, um brilho de
loucura em seus olhos injetados de sangue. Diretamente contra o homem, ele
lançou seus sessenta e três quilos de fúria sobrecarregada pela paixão enjaulada
de dois dias e duas noites. E em pleno ar, justamente no momento em que suas
mandíbulas estavam a ponto de se fechar sobre o homem, recebeu um choque
tão grande que fez parar o seu corpo e os seus dentes bateram uns contra os
outros com um estalo agoniado. Ele retorceu-se no ar e caiu de costas no chão,
resvalando depois para um lado. Nunca tinha sido espancado antes, muito menos
com um porrete, e simplesmente não entendeu o que havia acontecido. Com um
rugido que era em parte um latido, porém mais um ganido de dor, pôs-se
imediatamente em pé e logo se lançou de novo no ar. E de novo veio o choque e
viu-se jogado ao solo por uma força esmagadora. Desta vez ele percebeu que
era o efeito do porrete, mas em sua loucura, desconhecia as precauções. Atacou
uma dúzia de vezes e doze vezes a clava interrompeu seu avanço e o estatelou no
chão.
Depois de um golpe particularmente violento, arrastou-se sobre as patas,
tonto demais para avançar ou fugir. Cambaleou ao redor, o sangue fluindo do
focinho, da boca e das orelhas, seu lindo pelo borrifado e manchado de baba
sanguinolenta. Então o homem avançou em sua direção e deliberadamente lhe
deu um golpe terrível em pleno focinho. Toda a dor que tinha sentido até então
não era nada em comparação com a intensa agonia desta última pancada. Com
um rugido que era quase o de um leão em sua ferocidade, novamente jogou-se
contra o homem. Mas este, trocando rapidamente o porrete da mão direita para a
esquerda, friamente agarrou-o por baixo da mandíbula, empurrando-o ao
mesmo tempo para baixo e para trás. Buck descreveu um círculo completo no ar,
e metade de outro, antes de bater no chão com a cabeça e o peito.
Ainda assim, uma última vez se lançou sobre o inimigo. O homem atingiu-o
com uma pancada especialmente forte que vinha propositalmente guardando para o fim, e Buckdesabou no solo, perdendo completamente os sentidos.
– Esse não é dos que se entrega fácir numa doma, isso é perciso dizer! –
gritou entusiasmado um dos homens que estavam empoleirados no muro.
– Pois óia, eu perfiro domar garranos[9] em quarqué dia da semana e duas
veiz nos domingo, isso é o que eu digo! – foi a resposta do condutor, enquanto
subia na boleia da carroça e chicoteava os cavalos para dar a partida.
Os sentidos de Buck começaram a despertar, porém não sua força. Ele
permaneceu deitado onde estava, contemplando o homem de suéter vermelho através dos olhos semicerrados.
– “Responde pelo nome de Buck” – monologou o homem, lendo a carta do
homem do botequim que lhe anunciava a entrega do caixote e de seu conteúdo. – Bem, Buck, meu rapaz – prosseguiu em voz alegre –, nós já tivemos nosso
pequeno atrito e a melhor coisa que podemos fazer é deixar a coisa por isso
mesmo. Você aprendeu seu lugar e eu conheço muito bem o meu. Seja um bom
cão e tudo vai dar certo. Seja um cachorro malévolo e vou te bater até sair o
recheio. Entendeu?
E, enquanto falava, acariciou sem o menor receio a cabeça que havia
espancado tão cruelmente; embora o pelo de Buck involuntariamente se eriçasse
ao toque de sua mão, ele suportou o carinho sem protestar. Quando o homem lhe
trouxe água, bebeu sedentamente e mais tarde engoliu uma refeição generosa de
carne crua, entregue naco a naco diretamente em sua boca pela mão do homem.
Ele tinha sido derrotado (disso sabia muito bem), mas não estava vencido.
Percebeu, de uma vez por todas, que não tinha chance contra um homem que
sabia manejar um porrete. Tinha aprendido a lição e não a esqueceria pelo resto
de sua vida. Aquele porrete fora uma revelação. Fora a sua apresentação ao
reino da lei mais primitiva e ele estava a meio caminho dele. Os fatos da vida
assumiram um aspecto mais feroz; e, ao mesmo tempo em que encarava isto
sem se acovardar, ele enfrentava com o despertar de toda a esperteza latente de
sua natureza canina. À medida que transcorriam os dias, chegavam outros cães,
dentro de gaiolas ou amarrados com cordas, alguns deles bastante dóceis, outros
brigando e urrando como ele havia feito ao chegar; e Buck observou, um a um,
todos eles submeterem-se ao domínio do homem do suéter vermelho. E de novo,
e mais uma vez, enquanto observava cada desempenho brutal, a lição era
incutida na mente de Buck: um homem com um porrete era um legislador, um
mestre a ser obedecido, embora não necessariamente respeitado. E disto Buck
jamais foi culpado, embora tivesse visto cães espancados adularem o homem,
sacudirem as caudas e lamberem-lhe a mão. E também viu um cão que nem
respeitava nem obedecia ser finalmente morto na luta pelo domínio.
De quando em vez chegavam outros homens, todos estranhos, que falavam
em vozes excitadas ou suplicantes e de muitas outras maneiras com o homem do
suéter vermelho. E nas ocasiões em que havia um acerto e o dinheiro passava
entre eles, os estranhos levavam consigo um ou vários cães. Buck só ficava
imaginando para onde iam, porque nunca voltavam; mas o medo do futuro
pesava fortemente sobre ele e sentia-se feliz a cada vez em que não era
escolhido.
Todavia sua hora acabou chegando, na forma de um homenzinho
encarquilhado que falava mal o inglês e proferia muitas exclamações estranhas e
grosseiras que Bucknão conseguia entender.
– Sacredam![10] – exclamou ele, quando seus olhos recaíram sobre Buck. –
Essa aí, o cachorro touro forte! Eh! Quanto me custar ela?
– Trezentos, e estou lhe dando de presente – foi a resposta imediata do
homem do suéter vermelho. – E como nós sabemos que é dinheiro do governo,
você não vai escoicear, vai, Perrault?
Perrault abriu um largo sorriso. Considerando-se que o preço dos cães tinha
explodido devido à demanda inusitada, não era uma soma demasiada por um
animal tão bonito. O governo canadense não ia sair perdendo, nem a
correspondência oficial andaria mais devagar. Perrault conhecia cães, e quando
ele olhou para Buck, compreendeu que era um exemplar em mil – “de fato, um
em dez mil” – comentou mentalmente.
Buck observou enquanto o dinheiro trocava de mãos e não ficou surpreso
quando Curly, uma cadela Terra Nova de ótimo gênio,[11] era conduzida junto
com ele pelo pequeno homem encarquilhado. Essa foi a última vez em que viu o
homem do suéter vermelho, e quando ele e Curly contemplaram, do tombadilho
do Narwhal, Seattle desaparecendo ao longe, foi também a última vez em que
viram as terras cálidas do Sul. Curly e ele foram levados para o porão por
Perrault e entregues a um gigante de cara preta chamado François. Perrault era
um franco-canadense de pele queimada; mas François era um mestiço francocanadense duas vezes mais escuro. Para Buck, eram um tipo novo de homens
(dos quais ele veria muitos mais no futuro) e, embora não tivesse desenvolvido
qualquer tipo de afeição por eles, chegou a respeitá-los honestamente.
Rapidamente descobriu que Perrault e François eram homens justos, calmos e
imparciais na administração de castigos, ao mesmo tempo em que conheciam
bem demais a maneira como os cães se comportavam para serem enganados
por artimanhas deles.
Nas entrecobertas do Narwhal, Buck e Curly encontraram dois outros cães.
Um deles era um camarada grande, de pelo branco como a neve, nascido em
Spitzbergen, que tinha sido trazido pelo capitão de um navio baleeiro e que mais
tarde havia acompanhado a expedição do Departamento de Pesquisas
Geológicas até as Terras Desnudas.[12]Ele dava a impressão de ser amigável, mas de fato era traiçoeiro, sorria o
tempo todo, enquanto matutava algum truque sujo como, por exemplo, quando
roubou parte da comida de Buck na primeira refeição que fizeram juntos. No
momento em que Buck saltou para castigá-lo, uma lambada do chicote de
François cantou através do ar, atingindo primeiro o culpado, e Buck teve de
contentar-se em apenas recuperar o osso. Mas François tinha sido justo, e o
mestiço começou a subir em seu conceito.
O outro cão não fez nenhuma tentativa de contato, tampouco recebeu
alguma. Mas também não tentou roubar a comida dos recém-chegados. Era um
camarada melancólico e soturno que demonstrou claramente a Curly que só
queria ser deixado em paz; mais ainda, que haveria encrenca se tentassem
mexer com ele. Era chamado de “Dave”, comia, dormia, bocejava nos
intervalos e não demonstrava interesse por nada, nem sequer quando o Narwhalcruzou o estreito da Rainha Charlotte[13] e balançou, sacudiu-se e jogou como se
estivesse possuído pelo diabo. Quando Buck e Curly ficaram excitados e meio
ariscos de terror, ele simplesmente ergueu a cabeça como se estivesse
aborrecido com o barulho, contemplou-os com um olhar desinteressado, bocejou
e voltou a dormir.
Dia e noite o barco estremecia com a vibração incessante da hélice e
embora um dia fosse muito semelhante ao outro, tornou-se evidente para Buck
que estava ficando cada vez mais frio. Finalmente, chegou uma manhã em que a
hélice parou e o Narwhal foi tomado por uma atmosfera de excitação. Ele sentiu,
assim como os outros cães, e percebeu que em breve haveria uma mudança.
François colocou-os nas correias e trouxe-os para o convés. Ao dar o primeiro
passo sobre a superfície fria, as patas de Buck mergulharam em alguma coisa
branca e pastosa como mingau e bastante parecida com lama. Deu um salto para
trás, bufando de surpresa. Pelo ar caía mais um pouco dessa coisa branca.
Sacudiu-se, porém caíram outros flocos sobre ele. Farejou curiosamente e então
estendeu a língua e lambeu. Queimou como fogo, mas logo em seguida havia
desaparecido. Ele ficou intrigado. Tentou de novo, com o mesmo resultado. Os
homens ao redor soltaram gargalhadas estrondosas e ele ficou envergonhado,
sem saber exatamente por que, já que era a primeira vez que via a neve.
[1]. O Puget Sound (estreito de Puget) é um braço de mar que se projeta 129km
em direção ao sul através do estado de Washington, a partir do lado oriental do
estreito de Juan de Fuca, que faz fronteira entre os Estados Unidos e a Colúmbia
Britânica canadense, junto ao Pacífico.
[2]. San Diego é um porto no sudoeste da Califórnia. (N.T.)
[3]. O Santa Clara Valley fica a oeste da Califórnia e se localiza a noroeste de San
José. (N.T.)
[4]. Os pugs são pequenos cães de origem asiática, robustos e compactos, com
pelo curto, rabo enroscado e focinho largo e enrugado, algumas vezes chamados
de buldogues-anões.
[5]. Os fox terriers, bem conhecidos no Brasil, foram desenvolvidos na Inglaterra
a partir de 1823 para o propósito específico de escavar as tocas e desenterrar as
raposas escondidas, daí o nome de “escavadores de raposas”. São pequenos cães
muito agitados e barulhentos, de cores variadas e cujo pelo pode ser macio ou
duro. (N.T.)
[6]. Cães desenvolvidos a partir de 1839 no Mosteiro e Hospital de San Bernardo,
nos Alpes Suíços. Uma das maiores raças de caninos, são cães altos e poderosos
que facilmente ultrapassam os cem quilos, têm pelo espesso, em geral preto e
branco, e sua principal função era auxiliar na busca de viajantes e alpinistas
perdidos; os cães pastores escoceses foram criados nas Ilhas Shetland, ao norte
da Escócia, e se caracterizam por duas camadas de pelo: uma interna, curta e
densa, e a externa, com pelos longos. Passaram a ser chamados especificamente
de “pastores shetland” a partir de 1909. (N.T.)
[7]. Abreviatura popular para San Francisco, utilizada pelos americanos que não
moram na cidade. Os habitantes referem-se a ela como “San Fran”. (N.T.)
[8]. Cidade no estado de Washington, no noroeste dos Estados Unidos, destruída
por um incêndio em 1889. Fica entre o Canal do Almirantado (9km de extensão),
braço do Puget Sound, e o lago Washington, estendendo-se até os contrafortes da
cadeia Costeira e dos montes Cascade. (N.T.)
[9]. Pequenos cavalos bastante xucros (semisselvagens), criados pelos índios
norte-americanos. (N.T.)
[10]. Em dialeto franco-canadense no original. Corruptela que mistura sacrée
dame (Santa Nossa Senhora) com sacré damné (condenado pelos pecados
cometidos). (N.T.)
[11]. Cão de grande porte e pelo negro, branco e preto ou castanho-avermelhado
escuro, originário da ilha canadense de Newfoundland. Tem pelos longos e
sedosos, orelhas pendentes e de pontas arredondadas, e patas espalmadas, que lhe
permitem andar facilmente na neve. Inteligente, mansa e fiel, a raça é
conhecida a partir de 1773. (N.T.)
[12]. Os cães Spitzbergen ou Spitzes são robustos e de pelo grosso, com orelhas
eretas e nariz arrebitado e uma cauda peluda que costumam estender sobre o
dorso. O nome se refere, segundo alguns, ao formato das orelhas e do focinho;
porém mais provavelmente à ilha de origem, Spitzbergen, no oceano Ártico, a
maior do Arquipélago de Svalbard (quase 65.000km2), que pertence à Noruega.
Os Barrens, abreviatura de Barren Grounds (Terras Desnudas), são grandes
planícies sem árvores do norte do Canadá, localizadas a oeste da baía de Hudson.
(N.T.)
[13]. Estreito entre as ilhas da Rainha Charlotte e a grande ilha de Vancouver. O
arquipélago fica a oeste da Colúmbia Britânica canadense, no oceano Pacífico, e
tem um pouco mais de 10.000km2. (N.T.)
mesmo. Você aprendeu seu lugar e eu conheço muito bem o meu. Seja um bom
cão e tudo vai dar certo. Seja um cachorro malévolo e vou te bater até sair o
recheio. Entendeu?
E, enquanto falava, acariciou sem o menor receio a cabeça que havia
espancado tão cruelmente; embora o pelo de Buck involuntariamente se eriçasse
ao toque de sua mão, ele suportou o carinho sem protestar. Quando o homem lhe
trouxe água, bebeu sedentamente e mais tarde engoliu uma refeição generosa de
carne crua, entregue naco a naco diretamente em sua boca pela mão do homem.
Ele tinha sido derrotado (disso sabia muito bem), mas não estava vencido.
Percebeu, de uma vez por todas, que não tinha chance contra um homem que
sabia manejar um porrete. Tinha aprendido a lição e não a esqueceria pelo resto
de sua vida. Aquele porrete fora uma revelação. Fora a sua apresentação ao
reino da lei mais primitiva e ele estava a meio caminho dele. Os fatos da vida
assumiram um aspecto mais feroz; e, ao mesmo tempo em que encarava isto
sem se acovardar, ele enfrentava com o despertar de toda a esperteza latente de
sua natureza canina. À medida que transcorriam os dias, chegavam outros cães,
dentro de gaiolas ou amarrados com cordas, alguns deles bastante dóceis, outros
brigando e urrando como ele havia feito ao chegar; e Buck observou, um a um,
todos eles submeterem-se ao domínio do homem do suéter vermelho. E de novo,
e mais uma vez, enquanto observava cada desempenho brutal, a lição era
incutida na mente de Buck: um homem com um porrete era um legislador, um
mestre a ser obedecido, embora não necessariamente respeitado. E disto Buck
jamais foi culpado, embora tivesse visto cães espancados adularem o homem,
sacudirem as caudas e lamberem-lhe a mão. E também viu um cão que nem
respeitava nem obedecia ser finalmente morto na luta pelo domínio.
De quando em vez chegavam outros homens, todos estranhos, que falavam
em vozes excitadas ou suplicantes e de muitas outras maneiras com o homem do
suéter vermelho. E nas ocasiões em que havia um acerto e o dinheiro passava
entre eles, os estranhos levavam consigo um ou vários cães. Buck só ficava
imaginando para onde iam, porque nunca voltavam; mas o medo do futuro
pesava fortemente sobre ele e sentia-se feliz a cada vez em que não era
escolhido.
Todavia sua hora acabou chegando, na forma de um homenzinho
encarquilhado que falava mal o inglês e proferia muitas exclamações estranhas e
grosseiras que Bucknão conseguia entender.
– Sacredam![10] – exclamou ele, quando seus olhos recaíram sobre Buck. –
Essa aí, o cachorro touro forte! Eh! Quanto me custar ela?
– Trezentos, e estou lhe dando de presente – foi a resposta imediata do
homem do suéter vermelho. – E como nós sabemos que é dinheiro do governo,
você não vai escoicear, vai, Perrault?
Perrault abriu um largo sorriso. Considerando-se que o preço dos cães tinha
explodido devido à demanda inusitada, não era uma soma demasiada por um
animal tão bonito. O governo canadense não ia sair perdendo, nem a
correspondência oficial andaria mais devagar. Perrault conhecia cães, e quando
ele olhou para Buck, compreendeu que era um exemplar em mil – “de fato, um
em dez mil” – comentou mentalmente.
Buck observou enquanto o dinheiro trocava de mãos e não ficou surpreso
quando Curly, uma cadela Terra Nova de ótimo gênio,[11] era conduzida junto
com ele pelo pequeno homem encarquilhado. Essa foi a última vez em que viu o
homem do suéter vermelho, e quando ele e Curly contemplaram, do tombadilho
do Narwhal, Seattle desaparecendo ao longe, foi também a última vez em que
viram as terras cálidas do Sul. Curly e ele foram levados para o porão por
Perrault e entregues a um gigante de cara preta chamado François. Perrault era
um franco-canadense de pele queimada; mas François era um mestiço francocanadense duas vezes mais escuro. Para Buck, eram um tipo novo de homens
(dos quais ele veria muitos mais no futuro) e, embora não tivesse desenvolvido
qualquer tipo de afeição por eles, chegou a respeitá-los honestamente.
Rapidamente descobriu que Perrault e François eram homens justos, calmos e
imparciais na administração de castigos, ao mesmo tempo em que conheciam
bem demais a maneira como os cães se comportavam para serem enganados
por artimanhas deles.
Nas entrecobertas do Narwhal, Buck e Curly encontraram dois outros cães.
Um deles era um camarada grande, de pelo branco como a neve, nascido em
Spitzbergen, que tinha sido trazido pelo capitão de um navio baleeiro e que mais
tarde havia acompanhado a expedição do Departamento de Pesquisas
Geológicas até as Terras Desnudas.[12]Ele dava a impressão de ser amigável, mas de fato era traiçoeiro, sorria o
tempo todo, enquanto matutava algum truque sujo como, por exemplo, quando
roubou parte da comida de Buck na primeira refeição que fizeram juntos. No
momento em que Buck saltou para castigá-lo, uma lambada do chicote de
François cantou através do ar, atingindo primeiro o culpado, e Buck teve de
contentar-se em apenas recuperar o osso. Mas François tinha sido justo, e o
mestiço começou a subir em seu conceito.
O outro cão não fez nenhuma tentativa de contato, tampouco recebeu
alguma. Mas também não tentou roubar a comida dos recém-chegados. Era um
camarada melancólico e soturno que demonstrou claramente a Curly que só
queria ser deixado em paz; mais ainda, que haveria encrenca se tentassem
mexer com ele. Era chamado de “Dave”, comia, dormia, bocejava nos
intervalos e não demonstrava interesse por nada, nem sequer quando o Narwhalcruzou o estreito da Rainha Charlotte[13] e balançou, sacudiu-se e jogou como se
estivesse possuído pelo diabo. Quando Buck e Curly ficaram excitados e meio
ariscos de terror, ele simplesmente ergueu a cabeça como se estivesse
aborrecido com o barulho, contemplou-os com um olhar desinteressado, bocejou
e voltou a dormir.
Dia e noite o barco estremecia com a vibração incessante da hélice e
embora um dia fosse muito semelhante ao outro, tornou-se evidente para Buck
que estava ficando cada vez mais frio. Finalmente, chegou uma manhã em que a
hélice parou e o Narwhal foi tomado por uma atmosfera de excitação. Ele sentiu,
assim como os outros cães, e percebeu que em breve haveria uma mudança.
François colocou-os nas correias e trouxe-os para o convés. Ao dar o primeiro
passo sobre a superfície fria, as patas de Buck mergulharam em alguma coisa
branca e pastosa como mingau e bastante parecida com lama. Deu um salto para
trás, bufando de surpresa. Pelo ar caía mais um pouco dessa coisa branca.
Sacudiu-se, porém caíram outros flocos sobre ele. Farejou curiosamente e então
estendeu a língua e lambeu. Queimou como fogo, mas logo em seguida havia
desaparecido. Ele ficou intrigado. Tentou de novo, com o mesmo resultado. Os
homens ao redor soltaram gargalhadas estrondosas e ele ficou envergonhado,
sem saber exatamente por que, já que era a primeira vez que via a neve.
[1]. O Puget Sound (estreito de Puget) é um braço de mar que se projeta 129km
em direção ao sul através do estado de Washington, a partir do lado oriental do
estreito de Juan de Fuca, que faz fronteira entre os Estados Unidos e a Colúmbia
Britânica canadense, junto ao Pacífico.
[2]. San Diego é um porto no sudoeste da Califórnia. (N.T.)
[3]. O Santa Clara Valley fica a oeste da Califórnia e se localiza a noroeste de San
José. (N.T.)
[4]. Os pugs são pequenos cães de origem asiática, robustos e compactos, com
pelo curto, rabo enroscado e focinho largo e enrugado, algumas vezes chamados
de buldogues-anões.
[5]. Os fox terriers, bem conhecidos no Brasil, foram desenvolvidos na Inglaterra
a partir de 1823 para o propósito específico de escavar as tocas e desenterrar as
raposas escondidas, daí o nome de “escavadores de raposas”. São pequenos cães
muito agitados e barulhentos, de cores variadas e cujo pelo pode ser macio ou
duro. (N.T.)
[6]. Cães desenvolvidos a partir de 1839 no Mosteiro e Hospital de San Bernardo,
nos Alpes Suíços. Uma das maiores raças de caninos, são cães altos e poderosos
que facilmente ultrapassam os cem quilos, têm pelo espesso, em geral preto e
branco, e sua principal função era auxiliar na busca de viajantes e alpinistas
perdidos; os cães pastores escoceses foram criados nas Ilhas Shetland, ao norte
da Escócia, e se caracterizam por duas camadas de pelo: uma interna, curta e
densa, e a externa, com pelos longos. Passaram a ser chamados especificamente
de “pastores shetland” a partir de 1909. (N.T.)
[7]. Abreviatura popular para San Francisco, utilizada pelos americanos que não
moram na cidade. Os habitantes referem-se a ela como “San Fran”. (N.T.)
[8]. Cidade no estado de Washington, no noroeste dos Estados Unidos, destruída
por um incêndio em 1889. Fica entre o Canal do Almirantado (9km de extensão),
braço do Puget Sound, e o lago Washington, estendendo-se até os contrafortes da
cadeia Costeira e dos montes Cascade. (N.T.)
[9]. Pequenos cavalos bastante xucros (semisselvagens), criados pelos índios
norte-americanos. (N.T.)
[10]. Em dialeto franco-canadense no original. Corruptela que mistura sacrée
dame (Santa Nossa Senhora) com sacré damné (condenado pelos pecados
cometidos). (N.T.)
[11]. Cão de grande porte e pelo negro, branco e preto ou castanho-avermelhado
escuro, originário da ilha canadense de Newfoundland. Tem pelos longos e
sedosos, orelhas pendentes e de pontas arredondadas, e patas espalmadas, que lhe
permitem andar facilmente na neve. Inteligente, mansa e fiel, a raça é
conhecida a partir de 1773. (N.T.)
[12]. Os cães Spitzbergen ou Spitzes são robustos e de pelo grosso, com orelhas
eretas e nariz arrebitado e uma cauda peluda que costumam estender sobre o
dorso. O nome se refere, segundo alguns, ao formato das orelhas e do focinho;
porém mais provavelmente à ilha de origem, Spitzbergen, no oceano Ártico, a
maior do Arquipélago de Svalbard (quase 65.000km2), que pertence à Noruega.
Os Barrens, abreviatura de Barren Grounds (Terras Desnudas), são grandes
planícies sem árvores do norte do Canadá, localizadas a oeste da baía de Hudson.
(N.T.)
[13]. Estreito entre as ilhas da Rainha Charlotte e a grande ilha de Vancouver. O
arquipélago fica a oeste da Colúmbia Britânica canadense, no oceano Pacífico, e
tem um pouco mais de 10.000km2. (N.T.)
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