A PRIMEIRA NAVEGAÇÃO DOS TÁRIAS
(SAGA DOS TÁRIAS – III)
Continuando com a deliciosa lenda dos tárias, vamos saber agora como os
verdadeiros pais da nacionalidade empreenderam a sua primeira e gloriosa
navegação.
Depois de terem aprendido a construir uma jangada, os tárias lançaram-se
ansiosamente ao rio. Não se sabe ao certo se foi apenas uma ou se foram mais
jangadas, mas o certo é que vários indígenas tomaram parte nessa expedição.
Consigo levaram um farnel de viagem.
Quando os expedicionários partiram, tudo foi alegria. Porém, quando a
última mancha de terra sumiu, eles engoliram em seco.
– A terra sumiu! – disse um dos índios, vagamente alarmado.
O chefe da expedição, porém, não quis retroceder.
– Adiante! – disse ele, apontando o horizonte plano das águas.
Então a coragem retornou aos seus corações, e eles seguiram alegres e
confiantes até a noite estrelada desabar subitamente ao seu redor, como uma
cortina negra cheia de furos.
Desta vez, o ânimo de todos decaiu assustadoramente.
– Alguém sabe dizer onde estamos? – perguntou o chefe tária, lutando para
dar um tom sereno à sua voz.
Naturalmente que, naqueles primórdios da navegação, ainda não havia
passado pela cabeça de ninguém dividir tarefas, atribuindo a alguém a função de
guia ou piloto. Justamente por isso, todos responderam, numa admirável
concordância, que não faziam a menor ideia de onde estavam.
Para piorar as coisas, um vento forte começou a soprar, empurrando-os
ainda mais para as horrendas e desconhecidas vastidões do rio. Em três dias
acabou a comida e, quando a fome apertou para valer, um dos tárias avistou
alguns tapurus (pequenas larvas) nos interstícios da jangada. Ele encheu a mão e
enfiou tudo na boca. A careta que fez era de agrado: a comida era boa. As outras
mãos colheram avidamente o resto dos tapurus, e assim os índios saciaram por
algum tempo a sua fome atroz.
Os viajantes vagaram, sem remo nem rumo, durante várias luas. Então,
quando tudo parecia perdido, eles viram, ao longe, a sombra da terra.
– Terra! Terra! – gritou um deles, dando o primeiro grito náutico da
história dos tárias.
Os índios desembarcaram num lugar ermo, muito parecido com sua
própria terra. Numa euforia de doidos, eles puseram-se a beijar o solo e a
cometer outras loucuras típicas de náufragos resgatados. Depois, comeram
alguns ovos que encontraram e decidiram fundar uma aldeia ali mesmo.
“Três luas depois, a aldeia estava pronta”, diz a crônica original.
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