A VIDA HUMANA
Certa feita, segundo os índios bororo, a pedra e a taquara deram início a
um debate para saber qual das duas se assemelhava mais à vida humana.
– Sem dúvida alguma, a vida humana se parece mais comigo – disse a
pedra, categoricamente –, pois a vida humana é tão resistente sobre a Terra
quanto as pedras.
Neste ponto, a taquara contestou:
– De forma alguma, amiga pedra. A vida humana se parece comigo, e não
com você. Os homens morrem como as taquaras, ao invés de durarem
perpetuamente como as pedras.
A pedra alterou-se ligeiramente.
– Ora, tolices! A vida humana se parece comigo! Não vê, então, como ela
resiste ao frio e ao calor, não se dobrando nem ao vento, nem às intempéries?
– Não, não, enganas-te – disse a taquara. – O homem, na verdade, tem
bem pouco de pedra. Ele morre como nós, as taquaras, morremos, porém
renasce nos seus filhos.
Então, mostrando à pedra os seus filhos – a taquara estava dentro de um
enorme e ruidoso taquaral –, ela pôs, por assim dizer, uma pedra sobre a questão:
– Veja como somos parecidos com os homens: somos maleáveis, temos a
pele frágil e, finalmente, nos reproduzimos sem parar.
Então a pedra, reconhecendo a derrota, ficou muda e nunca mais disse
palavra.
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