sábado, 5 de novembro de 2016

CONSCRITO 774

O ÍNDIO Q UE Q UERIA MATAR O SONO


Certa noite, um índio concebeu o desejo extravagante de matar o sono.
– Graças a ele deixo de fazer muitas coisas úteis, perdendo metade das
horas da minha preciosa vida – disse ele aos da aldeia, antes de partir para a sua
extravagante caçada.
Os índios fizeram de tudo para demovê-lo da sandice, mas ele teimou e
partiu para a floresta.
– Dizem que o sono vem de lá. Pois é lá que o matarei.
O índio meteu-se no coração da floresta amazônica e, agachado e com um
tacape enorme na mão, passou a esperar a chegada do inimigo.
Quando a noite caiu ele arregalou ainda mais os olhos. Era preciso estar
alerta. A barulheira dos sapos, dos insetos e dos animais caçando e sendo caçados
era infernal. Ainda assim, o índio sentia, cada vez mais, que a sua presa se
aproximava.
Então, quando o sono finalmente chegou, o índio desabou no solo. Quando
acordou, viu, desolado, que a sua presa tinha fugido.
– Maldição! Estava quase nas minhas mãos!
Então preparou-se para, na noite seguinte, ter a sua desforra.
– Desta vez ele não me escapa!
O índio fez um chá bem forte para manter-se desperto, mas a sua presa,
adivinhando a artimanha, só foi aparecer quando o dia estava quase nascendo.
Quando o sono chegou o índio desabou outra vez, com o tacape nas mãos.
Dizem que o índio teimoso está até hoje metido nos cafundós da floresta
tentando matar o sono.
  

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