O ADIVINHO
Havia, pois, um sujeito que, cansado de passar necessidade, decidiu um dia
fazer-se adivinho. Depois de se apresentar no palácio do rei e provar suas
habilidades divinatórias, conseguiu tornar-se hóspede real. A partir daí, o
sabichão passou a levar uma vida boa e cheia de regalos.
Certo dia, porém, o rei decidiu pôr à prova os dotes fabulosos do seu
adivinho.
– Grande adivinho, preciso dos seus serviços! Algum miserável furtou a
minha coroa real!
O adivinho ergueu-se do seu leito de sedas e, depois de envergar o seu
manto estrelado e colocar sobre a cabeça o chapéu bicudo de mago, mandou
reunir no salão real todos os criados do palácio.
Ao chegarem lá, depararam-se todos com uma pequena criatura colocada
sobre um poleiro. Ela estava envolta num pano também estrelado.
– Aqui está o galo carijó de sua majestade – anunciou o adivinho, num tom
cavernoso. – Doravante, cada um de vós deverá introduzir a mão por debaixo do
manto e acariciar as costas do galo. Aquele que o fizer cantar será o culpado do
furto da coroa.
Um a um, os criados foram alisar o galo. Cada vez que um deles introduzia
a mão por debaixo do manto, o adivinho gritava algumas palavras extravagantes
como estas:
– Carijó real, aponta o ladrão assim que o larápio meter-lhe a mão!
Ficaram nisso o dia inteiro, até que, encerradas as alisações, o adivinho
mandou todos os criados estenderem a mão com a qual haviam alisado o carijó.
De todos os criados, apenas um não tinha a mão suja de fuligem.
– Muito bem, é este o ladrão – disse o mago ao rei, apontando o sujeito das
mãos limpas.
Um oh! de assombro subiu até a abóbada do salão e desceu como um eco.
– Como fez para descobrir? – disse o rei, curiosíssimo.
– Muito simples, alteza. As costas do carijó estavam besuntadas de fuligem.
Todos os que a alisaram ficaram com as mãos sujas, mas este, temendo ser
denunciado, apenas fingiu alisá-la.
E foi assim que, pela primeira vez naquele reino, um ladrão teve a cabeça
cortada por ter as mãos limpas.
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