domingo, 6 de novembro de 2016

CONSCRITO 786

O DECRETO DA PAZ


Diz-se, pois, que no tempo em que os animais ainda falavam, todos
brigavam e se comiam ainda mais do que hoje, numa disputa perpétua.
Então, certo dia, o galo, do alto do seu poleiro, avistou a raposa aproximarse. Ele já preparava-se para dar seu grito de alerta ao galinheiro quando a
raposa, abanando a cauda, gritou:
– Não carece mais de alerta, compadre galo! O leão, rei da selva, acabou
de promulgar um decreto estabelecendo a paz universal entre os bichos!
O galo não acreditou numa palavra e continuou limpando a garganta para
abrir o berreiro.
– Vamos, compadre, desça daí e venha ler com seus próprios olhos! –
insistiu a raposa. – Trago comigo uma cópia do maravilhoso decreto!
Mas a última coisa que o galo pensava em fazer era descer para ler o que
quer que fosse ao lado da maior devoradora de galináceos.
– Vamos, compadre, não seja medroso! Acha, então, que eu seria louca a
ponto de desrespeitar um decreto do rei dos animais?
Neste momento, o cão de guarda do galinheiro, um mastim do tamanho de
uma onça, surgiu ninguém sabe de onde, de dentes arreganhados, numa corrida
veloz para cima da raposa. Uma cachoeira de saliva se derramava pelos queixos
do cãozarrão, o que obrigou a raposa a passar sebo nas quatro patas.
Ao ver a raposa fugir, o galo, do alto do poleiro, começou então a gritar e a
rir:
– Não fuja, comadre raposa! Mostre ao cão o decreto!
E foi assim que furou-se o logro da raposa.
  

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