domingo, 6 de novembro de 2016

CONSCRITO 794

O PULO DO GATO


O conto que encerra esta pequena coletânea da narrativa oral brasileira é,
sem dúvida alguma, uma das fábulas mais engenhosas que o espírito humano já
concebeu. Ela conta como o gato ensinou, certo dia, o cachorro a pular.
Estava, pois, o gato a descansar quando o seu eterno rival, o cachorro,
apareceu.
– Lá vem você de novo! – disse o bichano, mostrando as unhas.
– Calma! – disse o cão, tentando acalmar o gato.
– Diga logo o que quer e desapareça!
O cão fez uma careta implorativa e disse:
– Não brigue comigo, velho amigo, pois vim estabelecer uma paz definitiva
entre nós.
O bichano acinzentado moveu a cabeça para o lado, descrente.
– É sério! E como prova da minha amizade, prometo ensinar-lhe todas as
habilidades de um cão!
– E quem disse que eu quero aprender algo de você?
Mas o cão conseguiu convencer o antigo rival de que tinha, de fato, muita
coisa a lhe ensinar, e ministrou-lhe algumas lições utilíssimas.
Diante disso, o gato consentiu em ensinar ao cão, também, algumas de suas
habilidades.
– Quero apenas que me ensine a pular! – disse o cão, esperançoso.
– Muito bem, conheço todos os pulos da floresta – disse o gato, de boa
vontade.
O gato passou o dia todo ensinando ao cão todos os pulos possíveis, de todos
os animais da floresta.
– Bem, é isto – disse ele, depois de ensinar o último pulo.
Neste instante o cão arreganhou os dentes e, depois de escolher o pulo mais
veloz aprendido, mergulhou na direção do gato. Este, porém, saltou para o alto
feito uma mola de pelos, fez uma espetacular acrobacia aérea e foi pousar, são e
salvo, muito longe do cão.
– Seu tratante! – ralhou o cachorro. – Este pulo você não me ensinou!
Então o gato, empertigando-se todo, explicou:
– Este é o pulo do gato, bobão. Este eu não ensino a ninguém.
 
 

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