O Q UERO-Q UERO
Pássaro típico do Rio Grande do Sul, o quero-quero desfruta da mais ampla
simpatia e consideração dos gaúchos, apesar do papel ingrato que lhe coube na
lenda que explica a razão de possuir este nome.
Diz-se, pois, que, durante a fuga da Sagrada Família do Egito, José e Maria
foram buscar refúgio num oásis, em pleno deserto. Enquanto descansava, Maria
pediu aos pássaros do oásis que fizessem silêncio, a fim de não atraírem a
atenção dos seus perseguidores.
– Silêncio, avezinhas! – disse ela, com o dedo nos lábios.
Maria tinha nos braços o Divino Bebê, enquanto seu esposo, José, vigiava
tudo com olhos de águia. Diante do seu divino pedido, todas as aves foram
silenciando o seu canto, uma a uma, até que só restou o canto ensurdecedor de
uma única ave.
– Por favor, avezinha! – insistiu Maria. – Quer que os soldados de Herodes
nos encontrem?
– Quero! Quero! – continuou a ave a berrar, a plenos pulmões.
José avistou, então, um grupo de soldados avançando na sua direção e deu
um jeito de esconder Maria e o bebê atrás dumas folhagens.
Os soldados de Herodes chegaram e começaram a investigar o lugar.
Porém, como estavam exaustos demais, preferiram parar as buscas e banhar-se
nas águas de um pequeno córrego que passava pelo oásis. Enquanto isso, o
pássaro não dava trégua, um segundo, no seu canto.
Organizou-se uma caçada à ave, mas ninguém conseguiu espantá-la. Por
fim, tanto ela incomodou que os soldados resolveram partir.
Quando eles desapareceram, a Virgem lançou, então, esta maldição ao
pássaro berrador:
– Por quase teres provocado a morte do Divino Redentor, o teu canto será,
para sempre, o mesmo!
E desde então a ave teimosa não faz outra coisa senão repetir o seu
perpétuo refrão:
– Quero-quero! Quero-quero!
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