sábado, 5 de novembro de 2016

CONSCRITO 757

COMO SURGIRAM AS DOENÇAS


Os índios umutinas explicam o surgimento das doenças como uma solução
para evitar a superpopulação das aldeias. Naqueles dias antigos, os velhos não
morriam de coisa alguma, nem ficavam doentes, nem perdiam os dentes. Como
tinham todos os dentes na boca e um apetite de leão, comiam o dia todo sem
produzir nada, tirando o alimento até das crianças.
Certa feita, três homens decidiram encontrar uma solução para o problema
(sem se darem conta de que um dia eles também seriam tratados como um
problema). Foram, então, fazer uma visita à Lua, que entre os índios é homem e
se chama Hári.
– Que solução você tem para que não acabe faltando comida para todos? –
disse um dos três futuros velhos.
Hári, que era também um feiticeiro, coçou a cabeça e disse:
– Infelizmente não posso ajudar. Procurem Mini.
Mini era o Sol. Os três índios foram para a casa dele. Depois de muito
caminhar, chegaram, afinal, ao seu destino.
– Bom dia, Mini. Dê-nos o veneno mais forte que tiver em seu herbanário.
O Sol ergueu as sobrancelhas.
– Veneno para quê?
– Queremos um veneno para acabar com os velhos da nossa aldeia.
– Vocês estão loucos?
– Não, não estamos. É preciso fazer isso ou nossa aldeia inteira morrerá de
fome.
Então o Sol reconsiderou e trouxe da sua sala de moléstias uma flecha
mágica. Junto com ela vinham várias doenças.
Os índios escutaram atentamente e pareceram satisfeitos.
– Mas, cuidado – alertou o Sol. – Só atirem a flecha depois de se
esconderem atrás de uma árvore, pois ela costuma voltar para atingir o seu
arremessador.
Como sempre acontece, o aviso fatal entrou por um ouvido e saiu pelo
outro. Tudo quanto eles pensavam era em dar um jeito nos velhos da tribo.
Os três índios andaram e andaram até chegarem, enfim, à aldeia.
– Vamos experimentar esta flecha de uma vez! – disse um dos três.
Após tomar do arco, o arqueiro fez pontaria em um velho que estava
sentado embaixo de uma árvore desde o raiar do dia comendo mandioca e milho
verde.
Antes de suspender o arco, o arqueiro escolheu uma doença.
Então a flecha não tardou a voar direto no velho. Ela varou o ventre dele e
retornou na direção do arqueiro, que só não foi atingido porque lembrou, no
último instante, do aviso do Sol.
Os três ficaram escondidos para ver o efeito da seta. Em menos de meio
minuto, o velho começou a se sentir mal e acabou morrendo. E assim os três
índios saíram escondidos pela aldeia, dando flechadas nos velhos.
Então, certo dia, outro índio resolveu pedir emprestada a flecha mágica
para caçar animais.

Na pressa, os três índios esqueceram de avisar a ele sobre o vai e volta da
flecha, e o caçador partiu alegremente, sem desconfiar do perigo.
No mesmo dia meteu-se na selva e procurou a melhor caça que pôde.
– Tem de ser um bicho daqueles! – disse a si mesmo, enquanto espreitava.
Não demorou muito e surgiu um veado enorme, maior do que um cavalo.
O índio assestou a flecha e soltou a corda. A seta foi até o veado, cumpriu com o
seu papel de abatê-lo e retornou até o arqueiro. Como este estava desavisado da
volta, em vez de esconder-se atrás de uma árvore, ficou parado no mesmo lugar,
recebendo a flechada da volta bem no meio do peito.
  

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