A VITÓRIA-RÉGIA
Uma das plantas mais típicas da vegetação aquática brasileira foi assim
batizada em homenagem a uma rainha inglesa. “Vitória-régia” significa “Rainha
Vitória”. A moça que deu origem à lenda, porém, era uma índia infinitamente
mais bela e simpática do que aquela rainha, e é com ela que começamos este
conto.
Araci era uma índia que tinha um único propósito em sua vida: o de tocar a
lu
a. Todas as noites, quando a lua surgia nos céus, especialmente quando estava
cheia e resplandecente, Araci subia na árvore mais alta que encontrava e, na
ponta dos pés do galho mais elevado, tentava, por todos os meios, tocar a face do
grande astro prateado.
Araci teve muita sorte, escapando, mais de uma vez, de despencar para a
morte em suas tentativas vãs. Mas nada disso a impressionava, pois teimava, a
todo pano, em tocar a lua.
Então, certa noite, ela resolveu subir numa árvore que ficava na beira de
um rio. Ao escalar o último galho, Araci viu a lua refletida nas águas e imaginou
que ela banhava-se no rio.
– Viva, hoje vou poder tocá-la! – disse ela, preparando-se para mergulhar.
Araci desceu até o fundo, mas não havia lua alguma ali.
Ao voltar à tona, ela viu o reflexo da lua ainda nas águas. Só que ele estava
cada vez mais afastado de si.
Araci nadou, mas a lua era mais rápida, e nada de alcançá-la. A jovem
nadou, nadou e nadou até estar muito longe das duas margens. Só então descobriu
que não tinha mais fôlego nem forças para retornar à terra. Neste instante, ela
soube que seu destino seria o de perecer nas águas. Sabendo inúteis todos os
esforços, a bela índia recolheu os braços e deixou-se afundar.
E assim pereceu a bela Araci, sem alcançar a lua.
A lua, porém, que era homem, sentiu remorsos por não ter ajudado a
jovem.
– Já que não posso trazê-la de volta, irei ao menos homenageá-la – disse o
astro.
No mesmo instante, brotou das águas uma planta esverdeada, que passou a
boiar em cima da água. Ela parecia uma enorme bandeja e trazia consigo uma
planta muito bonita, de coloração branca e rosa.
Desde então, todas as moças da aldeia passaram a enfeitar-se com as
pétalas da planta, consideradas infalíveis para atrair namorado.
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