BOTO
O Boto é uma espécie de golfinho que, segundo a lenda amazônica, nas
noites quentes sai da sua morada aquática para ir seduzir, nos bailes ribeirinhos,
as mulheres incautas.
Assim como a Iara, o Boto é uma das nossas lendas mais populares e, ao
mesmo tempo, menos autenticamente indígenas. Praticamente o único traço a
restar do mito original é o fato de a criatura emergir fantasticamente das águas
para entrar em contato direto e terreno com os homens – ou, mais exatamente,
com as mulheres. (Se fosse uma lenda autenticamente indígena, sem mescla de
corrupção, o Boto sairia das águas simplesmente para devorar e espalhar a
devastação, sem recorrer aos estratagemas sensuais importados e típicos das
raças vestidas.)
A exemplo da Cobra-Norato – outra deturpação do mito da Cobra-Grande
–, o Boto, despindo-se de sua aparência aquática, transforma-se magicamente
num galante sedutor, trajado de branco e com um chapéu do qual jamais se
desfaz (artefato imprescindível para esconder o orifício de respiração que o
homem-golfinho possui no topo da cabeça). Seu único objetivo, uma vez fora do
seu elemento, é seduzir as moças e engravidá-las, gerando uma estirpe da qual se
ignora o resultado final (não sabemos se os filhos herdam as características do
pai ou se nascem e morrem como humanos quaisquer).
O olho seco do boto-tucuxi é usado até hoje como talismã para atrair o
amor das mulheres que se recusam a cair na lábia dos homens despidos de
qualquer encanto.
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